Imaginar para que uma dor aparece, em vez de raciocinar sobre o que a causa. Essa é a reflexão central da MEDICINA ANTROPOSÓFICA. Baseada em métodos que buscam a maior coerência entre o nosso pensar, sentir e agir, ela tem atraído cada vez mais brasileiros.
Você já deve ter ouvido falar em medicina antroposófica, mas, como muitos, pode ser que não tenha claro o que isso significa. Não é de espantar: essa medicina tem apenas 87 anos e, em idade, ainda é uma criança se comparada às demais. A homeopatia, por exemplo, tem mais de dois séculos e o pai da medicina, Hipócrates, viveu 300 anos antes de Cristo.
Essa nova terapia, contudo, parece se afinar com a expectativa dos brasileiros. O país é o primeiro em número de médicos antroposóficos, em formação: são 88, fora os 300 já certificados pela Associação Brasileira de Médicos Antroposóficos (ABMA).
Abordagem ampliada
Uma peculiaridade nessa forma de tratamento é a escuta. Nesse sistema de saúde baseado na ANTROPOSOFIA, o diagnóstico inclui o estudo biográfico - investigação sobre a fase da vida em que o paciente está.
"Quando um médico alopata pergunta sua idade, é para fazer um paralelo com as doenças mais comuns dessa faixa etária. Para o médico antroposófico, é isso e mais além. Ele leva em conta o momento existencial, as crises dessa fase, porque elas influenciam diretamente nosso jeito de pensar, sentir e agir", explica o ginecologista Ronaldo Perlatto, presidente da ABMA. A coerência entre esses três pontos é, para a medicina antroposófica, uma das fontes da saúde. E o desequilíbrio pode ser a razão da doença. Nessa visão, muitas pessoas adoecem porque pensam uma coisa, sentem outra e se expressam ainda de um jeito diferente. A formação de um médico antroposófico - o curso leva três anos, além dos seis de medicina convencional - o prepara para ajudar o paciente a perceber isso, ao mesmo tempo em que atua tecnicamente. "Queremos ajudar a pessoa a descobrir para que ela adoeceu e não só por que ela adoeceu", conta Perlatto.
Qualquer especialidade médica pode integrar a abordagem antroposófica. No campo da ginecologia, por exemplo, um mioma, caracterizado pela reprodução anormal de células até compor um nódulo (benigno) no útero, pode sugerir o seguinte raciocínio. "Nossa vida nos exige muito em termos de crescimento e conquista. Você tem que ter o carro do ano, ler o último livro, ser o melhor. É como uma hipertrofia: cresce. Quando a mulher não realiza o que ela coloca como ideal, inicia-se uma hipertrofia interna e, caso o órgão de choque dela seja o útero, um mioma pode aparecer. Uma conduta convencional seria extrair o mioma por meio de cirurgia, mas, se a pessoa não entende a dinâmica do comportamento, as chances de o sintoma voltar são maiores", explica.
Doenças crônicas têm boas possibilidades de melhora e, até de cura, dentro dessa terapia. "Alergias, bronquites, asmas costumam ter, em parte, origem no comportamento e são especialmente bem tratadas", explica a médica Maria do Carmo Conte Vale, que adota o método no ambulatório de dermatologia da Universidade Federal de Juiz de Fora. E, não raro, além dos medicamentos, prescreve uma sessão de cinema em casa a seus pacientes. "Filmes como Bagdá Café e O Pescador de Ilusões fazem pensar sobre o que vale a pena na vida. Isso também é buscar a saúde", diz.
O tratamento
A abordagem antroposófica chama a atenção de quem procura formas integradas de cuidar da saúde devido a sua comprovada eficácia. "Na Europa, um estudo realizado entre 2005 e 2006, com mais de 20 mil pacientes, demonstrou que o uso de remédios antroposóficos é eficaz e apresentou menos efeitos colaterais no tratamento de infecções das vias respiratórias do que os remédios convencionais", diz Paulo Roberto Volkmann, clínico geral de Porto Alegre.
Entre os medicamentos estudados está o Viscum album, uma planta semi-parasita cujo extrato tem se mostrado auxiliar na prevenção e no tratamento complementar do câncer. Mais de 320 estudos científicos sobre o remédio já foram publicados em literatura internacional. "Os medicamentos naturais (extraídos do reino vegetal, mineral e animal e veiculados em gotas, glóbulos, comprimidos, pomadas, chás, pós e injeções) são uma forma de não sobrecarregar o corpo e estimular a força curativa dele", explica Perlatto. A preparação lembra a homeopatia por usar dinamizações (quanto maior a diluição, maior a potência). Mas, diferentemente da homeopatia, as diluições são feitas manualmente em escalas decimais (uma parte do extrato vegetal por dez de solução, por exemplo). A homeopatia chega a diluições infinitesimais.
Outra curiosidade é que os laboratórios antroposóficos (no Brasil há o Weleda e o Sirimim) têm plantações orgânicas, com acompanhamento para que a matéria-prima seja colhida e preparada no momento de maior concentração dos princípios ativos. Há também os metais vegetalizados. Uma plantação de camomila, que tem efeito antiespasmódico, pode ser regada com uma solução de cobre, antiespasmódico, para potencializar o efeito do medicamento.
Além dos remédios, a terapia artística e corporal (euritmia) e os banhos são recursos do tratamento antroposófico. No fundo, é uma prática médica integrada. Nem melhor nem pior do que outras. Como diz Perlatto, "há pacientes que precisam de cirurgia, outros que se dão bem com a homeopatia. Outros ainda com a medicina antroposófica".
(texto publicado na revista Bons Fluídos nº 99 - julho de 2007)
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