Não é a toa que a substância conquistou o posto de nova queridinha dos médicos: há fortes indícios de que ela favoreça o sistema imunológico, a memória e o coração, ajude no controle da pressão arterial e previna doenças degenerativas. Mas onde está essa maravilha?
De uns tempos para cá, a vitamina D, famosa por contribuir para a formação dos ossos, tem sido vista por médicos de diversas especialidades como uma solução para vários males. É que ela age como um pró-hormônio, ou seja, produz hormônios importantes para o bom funcionamento do organismo. Se já não bastasse isso, uma pesquisa divulgada recentemente por cientistas da Universidade de Oxford, na Inglaterra, descobriu que existem 2.776 pontos de ligação com receptores da vitamina D ao longo de todo o genoma. Em outras palavras, todas as nossas células carregam a substância, daí a explicação para ela agir em diversas partes do corpo. Segundo a endocrinologista Isabela Bussade, professora de pós-graduação em endocrinologia e clínica médica da Pontifícia Universidade Católica (PUC), no Rio de Janeiro (RJ), estudos iniciais mostram que a vitamina D pode estar associada à redução nos danos celulares (o que poderia prevenir doenças degenerativas); à melhora das funções neurocognitivas, como memória, raciocínio e concentração, e das células de defesa; e ao controle dos batimentos cardíacos e da pressão arterial. "Vale ressaltar que todas essas pesquisas são recentes e são necessárias muitas outras para podermos confiar totalmente", avisa a médica.
Outro benefício já conhecido e comprovado é que ela favorece a absorção de cálcio pelo intestino, o que ajuda na prevenção da osteoporose, mal que afeta 5,5 milhões de brasileiros, segundo estimativas da Sociedade Brasileira de Osteoporose (SOBRAO). "É comum as pessoas pensarem que para ter ossos fortes basta ingerir alimentos ricos em cálcio, mas se a quantidade de vitamina D estiver abaixo do ideal, o mineral entra e sai do organismo sem cumprir o seu papel. E se a mulher estiver na fase da menopausa isso é ainda mais perigoso, pois a alteração hormonal por si só, já prejudica a absorção do cálcio", diz a nutricionista Priscila Rosa, da Equilibrium Consultoria, em São Paulo (SP).
Direto da fonte
A exposição ao sol é a principal forma de obter a vitamina D e suprir cerca de 80% de sua necessidade diária. O processo funciona assim: os raios ultravioletas penetram na pele e atingem as moléculas produzidas pelo colesterol, gerando uma substância que se transforma em vitamina D após ser processada pelo fígado e pelos rins. "Para isso, é preciso tomar 20 minutos de sol antes das 10 horas da manhã, pelo menos três vezes por semana e sem aplicar o protetor solar, já que ele bloqueia os raios e, consequentemente a síntese da vitamina. Assim, a substância é produzida com sucesso e a pele não sai no prejuízo", afirma a dermatologista Regina Schechtman, membro da comissão de ensino da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e coordenadora do curso de pós-graduação em dermatologia da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro (RJ). No restante do dia, a médica lembra que é preciso usar protetor solar com FPS 15 + e reaplicá-lo a cada três horas, em média, para evitar queimaduras e câncer de pele.
Já os alimentos conseguem fornecer até 20% das necessidades diárias de vitamina D, e as principais fontes são os peixes de água fria, como atum, salmão, truta e sardinha, os vegetais verde-escuros, caso do brócolis, da couve, do espinafre e da escarola, a gema de ovo e o leite integral ou enriquecido com vitamina D. "Diariamente, são recomendados 5 microgramas do nutriente, o que é facilmente atingido com duas colheres (sopa) de vegetais, um ovo, um filé ou posta de peixe ou duas xícaras de leite", diz Priscila Rosa.
E a suplementação?
Ela só é indicada para pessoas que querem evitar ou não conseguem se expor ao sol, não gostam dos alimentos listados acima ou tomam medicamentos que interferem no efeito da vitamina D, caso dos anticoagulantes. "Salvo essas exceções, é bom ter cautela ao usar o complemento nutricional, já que em doses excessivas ele pode causar enjoos e levar à formação de cálculos renais. Por isso, é importante que tudo seja monitorado de perto por um médico", alerta Isabela Bussade. A nutricionista especializada em nutrição clínica e funcional Jacqueline Pina, do Hospital Federal Cardoso Fontes, no Rio de Janeiro (RJ), lembra também que a vitamina D é lipossolúvel, o que facilita o estoque no fígado.
Sinais de alerta
Cansaço, diminuição da força muscular, cãibra, perda de massa óssea e aumento de fraturas podem sinalizar uma possível deficiência da vitamina D. "Espasmos musculares, aumento do risco de tuberculose e infecções respiratórias também podem estar associados à carência", alerta o ortopedista Jorge Bitun Neto, chefe do serviço de ortopedia do Hospital Villa-Lobos, em São Paulo (SP). Mas, como esses sinais são comuns em várias doenças, para ter certeza do diagnóstico é necessário fazer o exame 25 (OH) D, em que uma amostra de sangue indica se os resultados estão acima ou abaixo do esperado. "Atualmente, os laboratórios consideram como desejável que o valor fiquei em 30 nanogramas de vitamina D por mililitro de sangue, mas esses valores estão sendo revistos e é bem provável que sejam reavaliados, já que são muito antigos e precisam ser ajustados às mudanças que aconteceram no corpo e na saúde das pessoas. Enquanto esse valor estiver elevado, muita gente saudável é diagnosticada como carente de vitamina D", esclarece a endocrinologista Isabela Bussade. Segundo ela, também contribui para esse resultado o fato de as pessoas viverem confinadas, indo de casa para o trabalho e do trabalho para casa, e ficarem pouco tempo expostas ao sol. "Outro ponto importante é que, em busca de um corpo perfeito, muita gente reduziu drasticamente o consumo de alimentos ricos em gordura animal, que é a principal fonte alimentar de vitamina D. E, além disso, o índice de obesidade só aumenta e, quanto mais gordura a pessoa tem, menos vitamina D ela vai absorver, já que o nutriente é atraído pela gordura, restando pouco para o sangue", completa Isabela.
(texto publicado na revista A (Ana Maria Braga) nº 7 - ano de 2012)
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