sábado, 30 de agosto de 2014

Território desconhecido - Thiago Guimarães


Que tal parar de tentar mudar os homens e começar a entender que eles são assim e pronto?

"Você está ficando louca?" Quem nunca ouviu essa sentença, tão carregada de indignação? E geralmente ela vem depois de um desentendimento com o marido, o filho, o pai, o amigo, o chefe... Ou seja, um homem que participa da sua vida. Se você já imaginou que estivesse falando grego, bem-vinda ao mundo real, onde as diferenças entre o pensamento do homem e o da mulher são indiscutíveis. Até os cientistas - que provavelmente também sentem as diferenças dentro de casa - foram atrás para descobrir algumas evidências que sugerem que o cérebro de homens e mulheres se forma a partir de diferentes programações genéticas. Mas não dá para ignorar que a formação social tem grande parcela de culpa nesse conflito. Segundo o psiquiatra Ururahy Barroso, graduado pela Faculdade de Medicina de Rio Preto (SP), a psique feminina é diferente da masculina. E a explicação vem, literalmente, do tempo das cavernas: a mulher pensa globalmente porque, culturalmente, ela teve que lidar desde cedo com várias situações ao mesmo tempo, como a caverna, a prole, a alimentação, a organização e a execução disso tudo, enquanto o homem saia somente para caçar.

Dor

A mulherada saiu espalhando aos quatro cantos que homem sente mais dor. Mas uma investigação da Universidade de Stanford indica que, mesmo quando homens e mulheres têm a mesma doença, as mulheres parecem sofrer mais com a dor. No entanto, Barroso acredita que as mulheres comunicam menos sobre isso. Pois é, provavelmente elas aguentam a dor em silêncio para não preocupar os outros. (Bonito isso, né? Só pra nos sentirmos fracos perto de vocês...). Ele acredita também que os homens, por causa da cultura machista, não falem sobre todas as dores que sentem. E não é estranho que ajam assim mesmo. Afinal, nenhuma mulher quer ver um homem gritando e chorando de dor pela casa, não é mesmo?

Trabalho e relacionamento

Toda mulher inteligente sabe que não tem como concorrer com o trabalho do seu homem. Nós valorizamos mais o trabalho do que o relacionamento porque foi assim desde o começo. O homem, que é mais forte fisicamente do que a mulher (isso ninguém tira da gente!), passou a ser competitivo no trabalho. Em contrapartida, a mulher passou a ser competitiva no relacionamento. "Haja vista que as mulheres são mais felizes hoje do que os homens, porque a base da felicidade é o relacionamento humano", diz Ururahy Barroso.

Críticas

Toda mulher sabe disso: a maioria dos homens detesta críticas, porque elas significam uma ameaça ao poder masculino. Quando somos criticados é como se uma voz do além dissesse que não somos tão bons quanto pensamos. Isso porque os homens são treinados inicialmente pelas mulheres-mães. Elas nem sempre preparam seus filhos para as mulheres-esposas, afinal, a maioria das mães vive o mito do eterno "filhotinho". Porém, quando são expostos ao relacionamento com outra mulher, acabam tendo que enfrentar críticas e não sabem o que fazer com elas.

Insegurança

Notícia boa: os homens são mais inseguros que as mulheres. Notícia ruim: a culpa disso é de vocês. A psicóloga Mara Lúcia Madureira, psicoterapeuta cognitivo-comportamental pela Faculdade de Medicina de Rio Preto (SP), explica que mães, avós, tias, irmãs e esposas costumam fazer tudo pelos meninos, rapazes e homens. E é verdade, né? Ao mesmo tempo, ensinam as mulheres a cuidar de si mesmas, da casa, dos irmãos, do marido, dos filhos. Desse modo, treinam as meninas para ser autossuficientes, preparam-nas para enfrentar tudo e poupam os rapazes, provocando um déficit no desempenho psicossocial e na autoconfiança masculina.

Racionalidade

As mulheres são mais emotivas. E por quê? De novo a resposta está lá no começo de tudo: elas lidavam com as emoções dos filhos e nós saíamos para trazer o alimento para casa, sempre lidando com outros homens. Só que o empo passou e algumas coisas mudaram. No processo evolutivo da espécie, a mulher está desenvolvendo também o lado racional do cérebro, o que a torna uma forte concorrente na competição com os homens no mundo profissional.

Cuidado

Por mais que a gente se esforce, as mulheres são mais cuidadosas em tudo o que fazem. E sem nenhuma dificuldade. Isso porque vocês desenvolveram a necessidade do autocuidado desde que vieram ao mundo. Há muito tempo descobriram que teriam que se cuidar porque o "provedor da caça", ou seja, o homem, não cuidava da mulher nem da prole. Esse autocuidado tornou-a autossuficiente e no frigir dos ovos, os homens é quem são dependentes delas.

Emoções

Os homens precisam manter a fama de fortões e reprimem a maioria dos seus sentimentos porque foram condicionados a agir assim. Garotos são educados a negar sempre suas emoções, máxima eternizada pela música Boys don't Cry (Meninos não Choram, em tradução livre) e, por isso, quando passam por algum sofrimento, a dor é intensificada pelo medo de deixar transparecer suas emoções e serem tratados como fracos.

Agressividade

Os homens são mais agressivos que as mulheres. E eles aprendem a ser assim no ambiente, por causa da própria sociedade em que vivem, que aceita esse tipo de comportamento quando é vindo de um homem. É como se já fosse esperado. E tem mais: quanto mais a sociedade permitir, mais intensas e frequentes serão essas manifestações, porque os homens ficarão mais à vontade para expressar a agressividade. Na evolução humana, os homens tiveram que lidar mais com reações de animais, instintivas, do que racionais. Depois passaram a competir entre si em combates físicos. Com isso, o instinto sobressaiu às emoções e os tornou muito mais agressivos.

Infidelidade

Geralmente os homens não conseguem resistir a uma mulher atraente. Isso todo mundo já sabe e até acaba aceitando (não?). E é justamente por isso que eles continuam agindo assim. Isso acontece por causa do predomínio do pensamento machista nos últimos séculos. Portanto, a capacidade de resistir ou não aos encantos sexuais não é uma questão de gênero, mas de índole. Mas, quanto mais aceita for a infidelidade masculina, mais ela vai continuar acontecendo. Vale lembrar que esse assunto está diretamente ligado ao estímulo sexual. Nos homens, imagens se transformaram em estímulos diretos, enquanto as mulheres passam pela área do cérebro emocional.

Praticidade

Uma coisa não dá para negar: os homens resolvem as situações de forma mais prática. Isso porque o cérebro masculino é programado para isso. Segundo o psicólogo João Oliveira, mestre em cognição e linguagem pela Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, a estrutura focal, lapidada para priorizar o alvo duranta a caçada, diminui a capacidade de múltiplos esquemas na organização mental ao mesmo tempo, mas fortifica o pontual, tornando-o capaz de esclarecer mais rapidamente certos problemas de ordem prática, enquanto a mulher é mais veloz em conceitos subjetivos.

Sexo

Aparentemente os homens pensam mais em sexo porque existe mais liberdade para falar do assunto entre eles do que entre elas, também por uma questão cultural. "Entretanto, esse fato não é comprovado. Como saber o que as pessoas pensam? Podemos saber o que elas relatam que pensam, mas a fala pode estar comprometida pela vergonha ou pelo medo de ser repreendida pela sociedade. Portanto, não podemos afirmar isso", diz João Oliveira. Quando o assunto é orgasmo, saímos na frente. Nós chegamos ao orgasmo com mais facilidade porque não temos um histórico de repressão sexual cultural. A psicóloga Mara Lúcia Madureira explica que as mulheres foram tão reprimidas sexualmente que isso acabou interferindo na liberdade e na qualidade de suas relações. Muitas delas se preocupam com tantas coisas, como filhos, culpa, contas, peso, estria, celulite, entre outros problemas, que acabam dificultando a excitação, o prazer e o orgasmo.

Objetos

Cadê meus óculos escuros? Opa, desculpe, voltei. Eu bem sei: as mulheres conseguem encontrar qualquer objeto com mais facilidade. Isso porque desenvolveram uma atenção mais localizada, enquanto os homens têm atenção mais globalizada. Os homens enxergam melhor de longe, as mulheres enxergam melhor de perto.

Atividades

As mulheres conseguem fazer várias tarefas ao mesmo tempo, diferentemente de nós, por uma necessidade evolutiva. Vocês desenvolveram um cérebro multifocal, tendo que pensar na prole, na caverna como um todo e nos alimentos. Enquanto isso, nós desenvolvemos um cérebro unifocal, porque pensávamos apenas na caça e deixávamos o restante de lado, por conta de vocês.

Fala

Mara Lúcia Madureira afirma que as mulheres falam mais do que os homens (precisava ela falar?). Alguns estudos apontam o cérebro masculino um pouco mais propenso à percepção espacial e o feminino à linguagem, provavelmente em razão das suas diferenças hormonais. Necessidades ambientais talvez tenham contribuído para o superdesenvolvimento da linguagem falada (nome bonito para tagarela) nas mulheres, já que uma de suas maiores atribuições ainda é a educação de filhos que comumente se faz por meio de instruções verbais.

Meio-termo

Com toda essa explicação sobre as diferenças entre homens e mulheres, surge uma dúvida: afinal, como fica a forma de pensar e se comportar dos gays, já que aparentemente eles conseguem interagir entre os dois mundos? Uma pesquisa realizada pelo Instituto Karolinska, da Suécia, analisou o cérebro de gays e héteros. Os números revelaram que o cérebro de um homem gay é mais parecido com o de uma mulher heterossexual, pois tem os dois lados do mesmo tamanho. Já o de uma mulher gay parece com o cérebro de um homem heterossexual, já que possui o lado direito um pouco maior do que o esquerdo. O padrão masculino homossexual correspondeu ao feminino heterossexual e vice-versa também na análise da área do cérebro que controla o aprendizado emocional, o humor e a agressividade. Mas, segundo a psicóloga Mara Lúcia Madureira, no geral os homossexuais podem manifestar mesclas de padrões de pensamentos, sentimentos e comportamentos ou com predomínio de aspectos mais comuns a um gênero específico. "A individualidade de uma pessoa deve estar acima de qualquer gênero ou de sua orientação homoafetiva", diz.



(texto publicado na revista A (Ana Maria Braga) nº 7 - ano de 2012)















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