Comecei a fumar aos 15 anos. Naquela época, o cigarro era um status cool, um símbolo de maturidade que marcou gerações. Levei uma rotina ligada ao vício até os 47 anos, quando a vida decidiu me "acordar". Repentinamente, tive uma febre muito alta, sem outros sintomas de gripe. Preocupada, corri para o hospital, de onde não saí durante sete dias, internada na Unidade de Terapia Intensiva. O diagnóstico: pneumonia dupla. A primeira recomendação médica foi abandonar aquele que havia se tornado meu companheiro por 32 anos: o cigarro. Por puro instinto de sobrevivência, parei. Mas não foi fácil: pegava-me seguindo pessoas desconhecidas na rua que estavam fumando, simplesmente para sentir aquele cheiro. Porém o tempo passava e minha vida mudava em cada mínimo aspecto. Voltei a sentir o gosto dos alimentos e, consequentemente, a comer mais. O peso, claro, aumentou. Para uma mulher que nunca teve dificuldades para manter o corpo em forma, foi difícil aceitar os quilos extras. Como sempre fui daquelas que se inscrevem em academias para não frequentá-las, encontrei no meu próprio quarteirão a solução dos problemas. Coloquei o tênis e comecei a dar os primeiros passos acelerados que transformariam a história da minha vida. Passei a correr, sozinha mesmo. Os primeiros metros dessa decisão não foram simples, eu colocava "os bofes para fora"! Vieram mais, mais e mais metros, que viraram quilômetros, que cresceram e se tornaram maratonas.
Aos 60 anos, senti que estava pronta para um importante desafio. Já sendo considerada atleta, fiz as malas e fui para a África, onde participei da Comrades Marathon, trajeto de 89 quilômetros! Foram 10 horas e 59 minutos de esforço, ao lado de mais de 15 mil participantes. Cruzando a faixa de chegada, lá estava me esperando meu filho de 34 anos, que me abraçou emocionado e juntos choramos por longos minutos. Dias antes, ele havia percorrido o mesmo caminho de ônibus e confessou ter se cansado mesmo assim! Desde então, além de saúde, alegrias, hábitos regrados, amigos e um incrível senso de solidariedade, a corrida me deu a oportunidade de conhecer o mundo. Já corri na Disney, em Nova York, Miami, Berlim, Paris, Buenos Aires e outros cantos do globo. A corrida salvou e transformou minha vida. É claro que a idade exige de mim e superar meus próprios limites é o grande orgulho que tenho dos meus treinos. Hoje até escrevo sobre qualidade de vida em um site (www.amantesdavida.com.br). E quando penso em todos os maravilhosos feitos, físicos e emocionais que conquistei com o esporte, consigo responder à pergunta que me faço quando o despertador toca às 6 horas da manhã: "Por que isso?".
(texto publicado na revista Revista A (Ana Maria Braga) nº 7 - ano 2012)
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