quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Presidenta do Afeganistão? - Patrícia Zaidan


A deputada Fawzia Koofi sofreu vários atentados, mas não desistiu de sua luta. Sem medo de nada, ela desafia o temido Talibã e vai disputar a Presidência do seu país

Esta afegã de 36 anos engahou a morte várias vezes. Na primeira, Fawzia Koofi era só um bebê. Seu pai tinha 19 filhos e acabara de se casar com a sétima esposa, uma garota de 14 anos. A mãe, que apanhava, teve uma gravidez sofrida, rezou para nascer um menino e deu à luz deprimida. Fawzia foi posta numa pedra, sob o sol de Badakhshan, povoado distante da capital, Cabul. Os pais queriam que a natureza se encarregasse de desidratá-la. Um dia depois, alguém ouviu berros e a levou de volta para casa. A mãe acabou mostrando que a amava e esperava que ela mudasse o rumo das mulheres dali.

Já deputada, com seis seguranças, Fawzia escapou de atentados graves. Em um deles, radicais do Talibã - grupo ligado a Bin Laden, que governou o país até 2001 - puseram bombas sob seu carro. Em outro, crivaram de balas o veículo que a levava com as filhas Shuhra, 13 anos, e Shararzad, 12. "Mesmo deposto, o Talibã tenta me calar e impedir a defesa da Constituição, das mulheres e crianças", afirmou depois de participar do Forum Mulheres Reais que Inspiram, em julho, em São Paulo. Esse ataque foi em resposta à sua luta para derrubar uma lei dura. "Ela obrigava a esposa a fazer sexo sempre que o marido exigisse, sob pena de perder o sustento. Ainda a impedia de ir à rua sozinha e, em separações, dava a guarda dos filhos ao pai." A lei caiu. Sua guerra ao Talibã vem desde a proibição de mulheres na escola: Fawzia foi forçada a sair do curso de medicina: hoje é advogada. Também brigou para libertar o marido. Preso pelo regime totalitário, ele pegou tuberculose e a deixou viúva.

"Escrevi o livro Às Minhas Filhas com Amor... (Edições ASA) para contar minha história e explicar que só a educação de mulheres mudará a nação", ressalta. Para lutar por isso, ela concorrerá à Presidência em 2014. Como governará o segundo país mais corrupto do mundo, quinto mais pobre, com 70% de desnutridos e campeão em morte materna? "Tenho projetos econômicos. No Afeganistão, há minérios mal explorados. Não vou disputar para perder. Mas necessito de dinheiro para enfrentar o candidato de Karzai, o atual presidente", diz, indicando o site (fawziakoofi.org) para doações. "Preciso do apoio de mulheres do mundo todo."




(texto publicado na revista Claudia nº 8 - ano 51 - agosto de 2012)




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