Estamos tendo filhos cada vez mais tarde. A idade média da primeira gravidez no Brasil é de 26,8 anos. Entre as mulheres com maior instrução essa média beira os 30, e as super-graduadas só vão se tornar mães com 34,35 anos. A primeira análise desse cenário, fruto da opção de adiar a maternidade em favor do estudo e da carreira, é positiva. Controlamos o relógio biológico e planejamos quando vamos casar e procriar. Se perguntarmos a uma jovem recém-chegada ao mercado quando ela pretende engravidar, a resposta mais comum será: "Quando estiver estabelecida na carreira". Parece lógico. A questão que aparentemente escapa dessa equação é que, quanto mais estabelecida na carreira estiver, maior será seu compromisso com o trabalho, seja ele em uma corporação ou um empreendimento próprio. Quanto mais bem-sucedida, maior sua responsabilidade - e maior o conflito pela divisão do seu tempo.
Se junto com o sucesso houver a devida recompensa financeira, a mulher que planejou engravidar mais tarde poderá pagar uma babá (veja bem: isso por enquanto, visto que essa profissional se torna cada vez mais rara e cara). Mesmo assim, e apesar do eventual apoio esforçado de um marido, seu tempo continuará cureto para as demandas de dupla função. Principalmente as afetivas. Na comédia Não Sei Como Ela Consegue, dirigida por Douglas McGrath (2011), a executiva do mercado financeiro interpretada por Sarah Jessica Parker é uma profissional brilhante e mãe apaixonada de duas crianças pequenas. Tem um emprego que adora, um marido maravilhoso e uma rotina de louca. Passa as noites em claro fazendo listas mentais sobre todas as tarefas domésticas e corporativas que terá que cumprir no dia seguinte. Tem uma crise de choro quando perde o primeiro corte de cabelo do filho caçula para a baby sitter e a confiança da filha mais velha por faltas a sucessivos eventos escolares.
Soa familiar? Já testemunhei uma colega inconsolável por ter que optar entre o almoço com um cliente e a quadrilha da festinha junina do filho. E flagrei uma vice-presidente chorando no banheiro depois de receber um telefonema cruel da orientadora da escola para informar que ela era a única ausente no Dia das Mães da turminha. Uma alta executiva de uma empresa sensível à causa materna, que mantém uma creche interna para as crianças das funcionárias, conta que muitas vezes, com a agenda sobrecarregada, não consegue um único intervalo para ir ver a filha, que passa os dias ali, e sente o coração apertado ao saber que outros pequenos receberam a visita das mães. Veredito: culpadas.
A vice-presidente do Facebook, Sheryl Sandberg, confessou que só muito recentemente assumiu que costuma parar de trabalhar às 17h30 em ponto, seja lá o que estiver fazendo, para ir buscar os filhos na escola. Orgulha-se de, finalmente, ter conseguido se dar essa permissão e, em particular, de ter constatado que isso não a tornou menos produtiva e competente. Soa inspirador? A mulher contemporânea já decidiu quando ser mãe. Falta aceitar os limites que a maternidade impõe e, com o devido suporte do mercado, sofrer menos no desempenho desse papel. Ou continuará a passar noites insones ao lado de sua culpa.
(texto publicado na revista Claudia nº 8 - ano 51 - agosto de 2012)
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