Em um passo decisivo para consolidar as reformas que comanda na estrutura da Igreja, o papa Francisco muda a cúpula do banco do Vaticano e afasta dom Odilo Scherer
Não se pode dizer que tenha sido uma surpresa - mas isso não reduz o impacto da decisão do papa Francisco de substituir quatro dos cinco integrantes da comissão que supervisiona o banco do Vaticano, cujo nome oficial é instituto para as Obras da Religião (IOR). Entre os afastados está o arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, que mantém outros cargos na Santa Sé. A instituição financeira - mergulhada em um impressionante rol de denúncias de corrupção e lavagem de dinheiro que, a exemplo dos casos dos padres pedófilos, minaram o pontificado de Bento XVI e que, para Francisco, deveriam envergonhar a Igreja - ocupa o centro das propostas de mudança comandadas por Jorge Mario Bergoglio desde sua chegada ao Trono de Pedro. Além de dom Odilo, deixaram a cúpula do banco o ex-secretário de Estado do Vaticano Tarcisio Bertone; Domenico Calcagno, presidente da Administração do Patrimônio da Sé Apostólica, abalada após a prisão de seu contador, acusado de tentar levar para a Suíça, de forma ilegal, 20 milhões de euros; e Telesphore Toppo, arcebispo de Ranchi, na Índia. Só permaneceu na comissão o cardeal Jean-Louis Tauran - que em 13 de março do ano passado anunciou o habemus papam. Todos eles haviam tido o mandado renovado até 2018 por Bento XVI, poucos dias antes de sua renúncia. Para o lugar dos destituídos Francisco escolheu Pietro Parolin, secretário de Estado que assumiu em outubro; Thomas Christopher Collins, arcebispo de Toronto; Christoph Schönborn, arcebispo de Viena; e Santos Abril y Castelló, cardeal-arcipreste da Basílica de Santa Maria Maior, em Roma.
Fundado em 1942, o banco do Vaticano teve a imagem seriamente abalada a partir de maio de 2012, quando seu presidente, Ettore Gotti Tedeschi, perdeu o posto sob acusações de irregularidades. Com a criação, em junho de 2013, de uma comissão para investigar o IOR, Francisco daria um passo decisivo para o afastamento de Bertone e seu grupo, sinônimos de tudo o que deseja modificar na Igreja. Conservadora, a ala ligada ao ex-secretário se opôs, durante o conclave, aos cardeais de perfil reformista. Considerado um dos favoritos para substituir Bento XVI, dom Odilo teria feito comentários antes do conclave em favor da administração do IOR e, com isso, perdido suas chances. Em entrevista a VEJA concedida um mês atrás, ele afirmou que o banco "pode ter eventualmente problemas de gestão. Mas esses problemas deverão ser atribuídos a algumas pessoas. Não à instituição de forma geral". O papa Francisco admite fechar o IOR se não conseguir reformá-lo.
(texto publicado na revista Veja nº 2357 - 22 de janeiro de 2014)
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