Sim. Na verdade, mudamos nossa personalidade a toda hora. Agimos de modos diferentes com pessoas de idade, sexo ou posição social diferentes. Você já deve ter passado pela sensação de ser amigável e inteligente com alguém que o deixa confortável e agir do modo contrário com quem o desafia. Além disso, a nossa personalidade depende do que os outros acham: você pode ser chato para uma pessoa, mas gente boa ou confiável com quem o conhece melhor. "O homem tem tantos eus quantos são os indivíduos que o reconhecem", disse em 1890 o psicólogo William James, um dos primeiros a estudar a personalidade.
Mas é claro que há comportamentos e atitudes que são muito difíceis de largar. Somente 10% das pessoas com pontes de safena mudam hábitos alimentares e deixam o sedentarismo. As outras acabam morrendo de ataque cardíaco simplesmente porque não conseguem mudar. Muitas vezes um pai que bate na mulher e nos filhos promete a si mesmo parar com as agressões, mas não consegue. Talvez os genes favoreçam o comportamento impulsivo - e não é nada fácil ir contra a própria composição genética. Ou então, olhando pelo lado da psicologia, somos tão arraigados à referência dos nossos pais e às experiências da infância que esses traços viram nossa identidade. Se é assim, fica difícil até perceber o próprio modo de ser.
Mesmo assim, dá para mudar. "Não existe nenhuma pesquisa científica que mostre que o ser humano não tem jeito", diz Mariângela Gentil Savoia, psicóloga do Hospital das Clínicas de São Paulo. De ter consciência de si próprio, um traço bem arraigado à personalidade, atribuir a ele uma causa, vencer derrotismos e apegos, vão anos, se não uma vida toda. Mas talvez o caminho de nos conhecer, mudar o que for possível e nos contentar com o que somos seja o grande desafio da vida.
(texto publicado na revista Super Interessante nº 248 - janeiro de 2008)
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