Você precisa ter o equilíbrio das suas emoções para usar o estresse nas horas necessárias em que você precisa exuberar diante da vida.
Trabalhando há mais de quarenta anos com o corpo e a alma de esportistas, atletas e muitos executivos, Nuno Cobra tem jeito de mineiro e não gosta de chamar a atenção. Mas teve um homem que ele modelou, transformou num herói como o Brasil nunca teve: Ayrton Senna. Depois desses dez anos com Ayrton, ficou difícil segurar sua mineirice discreta. Como um poeta, um Guimarães Rosa do desempenho e da performance, Nuno estimula o melhor nas pessoas, em todos os sentidos, fazendo com que elas "exuberem".
O método Nuno Cobra é poderoso, com muito conhecimento de causa, englobando desenvolvimento cardiorespiratório, desenvolvimento muscular, concentração mental e meditação. Sua linguagem é diferente das outras pessoas - não é pasteurizada, globalizada. Ele cria termos, poetando o todo. Isso mobiliza muito, pois além da técnica invejável que pratica, é impossível não se apaixonar por ele.
Aqui, neste depoimento exclusivo, Nuno abre seu jogo e conta detalhes do seu trabalho:
"O estresse é um mecanismo fisiológico da maior importância na sobrevivência do ser humano. O estresse é o nosso melhor amigo, porque é baseado em substâncias hormonais de alta densidade, de qualidade exuberante, que levam o indivíduo a reagir, num determinado momento, diante de um desafio, com todas as suas forças - o que sem o estresse, nós não faríamos! O que é uma atividade estressante? É o momento em que você tem que desviar de uma criança atravessando a rua, é o momento em que você tem que criar uma situação para salvar a sua vida, para salvar a vida de alguém. Ou reagir melhor a uma entrevista...isso é um estresse benéfico! Por exemplo, você vai ser entrevistada. De repente jogam um foco de luz na sua cara, você está no ar. É um estresse! Quantas pessoas não sentem estresse quando são colocadas em xeque - é a questão do desempenho.
Desempenho sem estresse é impossível, fisiologicamente, na raiz da razão científica. O mal do estresse é a pessoa que não tem uma intelectualidade emocional porque não tem uma intelectualidade do movimento - todo mundo fala da inteligência emocional, mas não se fala como se consegue isso - que depende da inteligência do movimento. No domínio do seu movimento é que você se torna capaz. O entendimento da razão de que você consegue. Se você conseguir emagrecer, se você conseguir mudar seu corpo, se você consegue fazer peitoral, dar braço (nesse momento Nuno me faz sentir o seu bíceps - forte como aço), sabe que é capaz, acredita em si mesmo. Aí passa a ter uma intelectualidade emocional mais desenvolvida, porque tudo em nós é desenvolvido mais ou menos de acordo com o exercício, até os nossos hábitos. O exercício de uma ação vira um hábito, o exercício de um hábito vira um vício. Se o cara trabalha, se estressa, ele levou aquele hábito até às últimas consequências - ele criou um vício.
O estresse é benéfico, mas se for levado às últimas consequências, vira a pior arma que existe, no conceito de saúde. O estresse, em alta densidade, chega a destruir suas moléculas básicas, da proteína essencial. A sua vida! Um estresse permanente acaba com tudo. Ele que cria um câncer e todas as doenças, desde uma simples úlcera até as maiores atrapalhações possíveis. É estresse que dá a diabetes, é o estresse que dá a hipertensão. Mas não confunda com o estresse fisiológico, normal e benéfico, para que as pessoas exuberem perante a vida. Você precisa ter o equilíbrio das suas emoções para usar esse estresse nas horas necessárias em que você precisa exuberar diante da vida, dos seus desafios. Agora, se estiver numa selva, com leão pra tudo quanto é lado, você vai viver um estresse permanente e no final de pouco tempo você vai cair dura... O estresse é aquela gota de adrenalina que cai na sua corrente circulatória para você correr de um leão e subir numa árvore rápido. Nós estamos aqui, vivos, por essa capacidade de estresse dos nossos ancestrais. A adrenalina, a noradrenalina, a betaendorfina, em alguns momentos, fantásticos, atuam até no parto, onde de repente a pessoa não sente dor, porque a betaendorfina é a morfina endógena, um opiácio criado pelo organismo. Qualquer um pode encontrar esse êxtase que sentiu o Ayrton Senna, o poder dele se encontrar, de se envolver com ele mesmo... pela própria prática do trabalho físico. Mas o que é importante é a pessoa administrar esse estresse. E o que é isso? É ter suficiente razão da importância do domínio da sua intelectualidade emocional, para saber que horas você tem que entrar em meditação, na sua tranquilidade. Dizem que eu sou a tranquilidade em pessoa, mas eu tenho meus momentos de estresse, altamente compensados. Tem que ter a compensação do estresse, porque seu organismo pede paz... O homem precisa de paz, de tranquilidade. Para não chegar ao momento em que você já está entregue ao vício do estresse permanente, que têm alta responsabilidade e se acham insubstituíveis, imbatíveis, pensando que vão resolver os problemas do mundo... Os insubstituíveis já foram substituídos há muito tempo...
Eles têm que se poupar, ter o equilíbrio - o Sol e a Lua, o claro e o escuro, fazendo conviver o trabalho e o repouso, a tranquilidade. Essa é a minha orientação, que consigo com meus atletas, com calma. Tenho que fazer você buscar seus momentos, criados na marra... quando o Ayrton teve aquele problema com Balestre, eu o fazia ouvir música obrigatoriamente, uma vez a cada hora. Se ele estava numa discussão, num negócio, tocava um alarme e ele dizia com licença e ia se isolar para ouvir sua música. Mas por que eu consegui isso? Porque o Ayrton era um cara que acreditou em mim. Quando eu falava que ele tinha que dormir ele dormia, quando eu falava que ele tinha que comer coisas boas ele comia. Eu falava que ele tinha que ter uma alta alimentação mental e ele tinha! Eu dizia que ele tinha que escutar música e ele escutava! A música é o que mais nos leva ao oposto do estresse! Nos faz caminhar nas nuvens, visitar os deuses, tomar um cafezinho com Deus... Ser recebidos na sala de visita de Nossa Senhora, se você é católica... ou de Buda, se você é budista... Você conversa com Deus... A terapia do estresse com Ayrton era a música!
O estresse tem que ser combinado através de momentos que você cria, que você faz acontecer. Saindo do dia a dia, se fechando, desligando todos os telefones, e fazendo essa meditação que você sabe, tão bem quanto eu, o bem que ela faz. É a única hora em que nós repousamos o nosso cérebro, porque mesmo quando nós dormimos o cérebro não descansa, fabricando aqueles hormônios que vão revitalizar nossas células... Então precisamos dormir no máximo às 22h30, porque às 23h00 é a hora do fígado, da vesícula, do pâncreas, se desintoxicarem, limparem a sua pele, rejuvenescerem você...
É necessário estabelecer um equilíbrio entre o estado estressante e o estado meditativo. A batalha que temos que enfrentar na hora de uma boa performance, e a necessidade de paz, de tranquilidade, para que você tenha também uma boa performance. Isso é um trabalho exercitável, desenvolvível, que é a minha especialidade, com atletas de alta performance. Tem o dia, tem o sol, e tem o repouso. A Ayrton, por exemplo, aprendeu a meditar, aprendendo primeiro a respirar, porque as pessoas não sabem respirar, tem que começar por aí. Depois, aprender a relaxar, porque as pessoas não sabem relaxar. Depois, precisa aprender a se interiorizar, se aceitar, estar consigo mesmo, e isso ser prazeroso. As pessoas fogem de si mesmas. Chegam em casa, ligam a televisão, pegam o telefone, como se encontrar a si mesmos fosse a pior coisa do mundo... Aí tem que aprender a meditar, o que é dificílimo! Com o Christian Fittipaldi, fiquei vários meses, quase dois anos, e ele dizia:
- "Nuno, correr uma hora está um espetáculo, estou levantando 70 quilos, agora esse negócio de não pensar em nada não vai!"
Mas não é para pensar em nada! O pensamento vem, o pensamento vai, não se incomode com ele... não se preocupe! Você começa e pensar que não pode pensar, e aí enrola tudo. Lembra como você era franzino, que caminhar pra você era uma agressão, e você fez exercícios para o seu coração? Lembra que você era fraquinho, gordo, balofo, gago, inseguro, flácido? Você não fez musculação (Nuno tem um método de musculação natural, com barras fixas), não dá oitavas na barra, peitorais? Olha que braço lindo... Agora está na hora de fazer exercício com a sua cabeça...
Uma das coisas mais importantes para o estresse é o trabalho físico - quanto mais você está envolvido com o seu corpo, mais a sua mente está sossegada... É por isso que se fala que a corrida é uma meditação ativa. Quanto mais você estiver envolvido com o seu corpo físico, mais você está relaxado com seu corpo mental... A atividade com o corpo físico é uma oportunidade que você tem de estar dando aquela compensação para o seu corpo mental. O Ayrton levou muitos anos para aprender a meditar. Mas ele tinha um cerimonial que a gente criou antes da corrida, onde ele ficava horas sozinho. As pessoas perguntavam o que ele fazia antes... Ele fazia um aprofundamento mental, onde a meditação começava com a respiração, com o relaxamento, levando-o a atingir uma alta densidade mental. Em alguns momentos essa profundidade foi de tal ordem que ele conquistou estados além do estado de Alpha. Ele contava 5-4-3-2-1 e estava em Alpha! Foram anos e anos, de lutas e exercícios. Meu método é baseado na prática, no exercício. Há muitos terapeutas em SP, psiquiatras famosos, que mandam clientes para mim quando quando compreendem que o paciente não tem mais jeito, o cara está há sete anos fazendo terapia, sabe tudo - mas na cabeça.
"Agora só com o Nuno, não tem mais jeito..."
Você tem que vivenciar com o seu corpo uma realidade concreta, em que você se transforma, se modifica, executa, faz... nada toca tanto seu centro de entendimento, sua razão, como algo acontecido, realizado. Por isso, há necessidade de exercitar. Agora não pensei você que o Ayrton ia para o grid de largada assobiando, nas nuvens. Ele ia numa busca, com a adrenalina e os hormônios em alta performance, para que ele pudesse resplandecer. Ele tinha quatro jogos de pneus, dois de verdade e dois na cabeça dele. Ele ficava tão concentrado que era capaz de saber a quantos giros estava o carro que ele tinha acabado de ultrapassar.
O método Nuno Cobra começa na parte cardiovascular, depois trabalha a parte muscular localizada, para então chegar na meditação, composta de mentalização, programação mental e relaxamento.
Eu sempre tive ideias um tanto arrojadas. Isso fez com que eu me afastasse do academicismo. O meu método é usar o corpo para chegar na mente das pessoas. Porque devemos viver na exuberância do ser. Devemos usar o corpo para caminhar em direção ao espírito, senão não há função nenhuma...
Imagina falar isso em 1950, 60 - falar que chegávamos ao cérebro pelo músculo e ao espírito pelo corpo...
Era a época do intelecto, da razão matemática, dedutiva. Então eu, que tinha procurado o caminho do corpo, era um pária. Quando fui fazer Educação Física, em 57, percebi que meus colegas também não entendiam, porque eles ficavam no corpo pelo corpo... veja hoje os personal trainers - ele ficam lá fazendo essa malhação... Eu dizia já em 1960 que malhar era para Judas... que o corpo se tratava com carinho, com cuidado, com muita atenção... É claro que você é fruto de 5 milhões de anos que vêm sendo caminhados pelo homem na face da Terra. Você necessita de movimento. Seu coração é atrofiado pela sociedade moderna, que aleijou o homem, tornando-o sedentário. Que tipo de movimento precisa ter o seu coraçãozinho para ele reagir, se transformar e se desenvolver? É muito particular ao seu estado.
As pessoas usam escadas rolantes, nem uma escada sobem mais! A escada cata o cara aqui e joga lá em cima como se fosse um pacote... Aí ele senta numa cadeira e toma um cafezinho... essa é a nossa sociedade. Então você precisa de um trabalho de corpo, mas... qual trabalho? Não é o corpo pelo corpo, mas uma coisa que o leve a tirar de dentro de si essa magnificência dada por Deus a todas as pessoas, impedida de florescer pela própria sociedade castradora, tirando dele a criatividade, a beleza, amor, a crença nele mesmo. Deus não criou ninguém para ser um desacerto, para dar errado, para ser doente, para ser infeliz. A sociedade é que deturpa a característica divina que carregamos no fundo da alma. Meu método é explorar a potencialidade das pessoas, resgatando nelas as suas raízes de beleza, de certeza, de triunfo, de alegria, de saúde. Já tenho 45 anos de trabalho, e comecei comigo mesmo. Quando eu modifiquei meu corpo, eu descobri que modifiquei minha mente. Percebi que tinha mais segurança, mais autoestima. Eu fiz acontecer, tenho um curriculum vivo das pessoas que eu pude tocar, e desenvolver nelas essa coisa maravilhosa. Eu não dei nada para ninguém, eu não dei nada para o Ayrton! Eu explorei continuadamente essa coisa esplendorosa que ele tinha, do potencial extraordinário. Eu fui um consultor, um argumentador científico, que dizia: "Você tem que dormir mais cedo, duas da manhã é muito tarde!" Levei muitos meses para convencê-lo a dormir mais cedo, até que um dia eu liguei para a portuguesa que cuidava dele; eram 21h30 e ele já estava dormindo! Não porque eu tinha pedido, mas porque ele tinha se esmerado durante o dia e precisa de repouso do animal que nós somos... Esse animal que é contrariado quando não tem prazer, quando não se alimenta de nutrientes verdadeiros, mas de comida degradada, venenosa, deturpada por tanta química. Hoje temos um arroz que não é arroz, um açúcar que não é açúcar...
Eu estudei sociologia, psicologia, filosofia. Trabalhei com excepcionais e desenvolvi um trabalho baseado no movimento, na inteligência do movimento, chegando à intelectualidade emocional. Noutro dia sonhei com eles, quando estava na Suécia, num campeonato de tênis de mesa. Porque eu os modelei e enquanto modelava o corpo, eu modelava o espírito, a mente, as emoções. Foi um trabalho espetacular e três anos depois eles estavam completamente diferentes. Depois trabalhei com presidiários. Mas a raiz do meu trabalho foi o tênis. O cara que vence não é o melhor, mas o que acredita que é o melhor... Assim formei tenistas campeões. Desenvolvia o coração dos meus alunos, eles corriam pela quadra como loucos. Depois montei a "Nuno's Place". Consegui ótimos resultados com meus atletas, homens das mais variadas profissões e problemas - síndrome do pânico, câncer, hipertensão, sedentarismo, obesidade. Eles conseguiram tanto esplendor! Isso me dava uma energia extraordinária...
O pensamento positivo é um vírus, ele contamina o ambiente. Você passa para as pessoas coisas bonitas e coisas negativas. A gente é o que a gente pensa! A gente vai até onde a gente acha que vai; com isso, eu fiz muita gente ir mais longe do que elas pensavam no início... Com toques psicológicos, mentais, eu fiz com que pessoas atingissem graus com os quais elas nunca podiam sonhar.
Até que um dia aparece um rapaz franzino, nervoso, inquieto - Ayrton Senna. Eu não conhecia, não sabia o que era Fórmula Três, achava que era vela, porque naquela época eu trabalhava muito com vela. Ele disse que tinha problema no coração. O que esse garoto quer, eu pensei. Aí eu fiz tudo quanto era exame, ele não tinha nada e comecei o trabalho com ele, explorando através do corpo outros corpos... o espiritual, o mental, o emocional. Trabalhei mais de dez anos com ele. Às vezes, nós somos os nosso próprios inimigos. Assim foi com Rubinho Barrichello, Christian Fittipaldi - todos eles tinham um inimigo interno. O trabalho mais lindo que fiz foi com o Mika Hakkinen, o campeão mundial. O Christian chegou para mim e pediu: "Nuno, você que é feiticeiro, mágico, faz alguma coisa com ele, que está péssimo". Conversei com o cara uma hora e meia. Era em Silverstone e ele estava maluco, perdido, raivoso, desnorteado, possesso. Ele tinha um inimigo, um outro companheiro de escuderia que ele precisava eliminar da sua mente. Fui falando naquele inglês acaipirado e o convenci que ele não tinha nenhum inimigo, mas que estava perdendo as próprias energias de tanta raiva... Quando ele venceu a primeira competição, ele dedicou a vitória ao técnico e a mim, dizendo que eu tinha mudado a sua vida. Que eu o tinha ensinado a se concentrar... Se ele está tendo esses resultados, como campeão mundial, ele diz que a raiz, o miolo do vencedor, se fez nesse momento, quando nós conversamos profundamente. Teve um ano, 1991, que minha filha chama de trilegal: Rubinho foi campeão da Fórmula 3, o Christian foi campeão da Fórmula 3 Intercontinental e o Ayrton foi campeão da Fórmula 1 e tricampeão também!
Hoje, trabalho com empresários, pessoas normais. Eu os chamo de atletas também. Eles viram atletas, modificando o físico e a alma. Tudo é uma questão de treino.
É necessário estabelecer um equilíbrio entre o estado estressante e o estado meditativo. A batalha que temos que enfrentar na hora de uma boa performance, e a necessidade de paz, de tranquilidade, para que você tenha também uma boa performance. Isso é um trabalho exercitável, desenvolvível, que é a minha especialidade, com atletas de alta performance. Tem o dia, tem o sol, e tem o repouso. A Ayrton, por exemplo, aprendeu a meditar, aprendendo primeiro a respirar, porque as pessoas não sabem respirar, tem que começar por aí. Depois, aprender a relaxar, porque as pessoas não sabem relaxar. Depois, precisa aprender a se interiorizar, se aceitar, estar consigo mesmo, e isso ser prazeroso. As pessoas fogem de si mesmas. Chegam em casa, ligam a televisão, pegam o telefone, como se encontrar a si mesmos fosse a pior coisa do mundo... Aí tem que aprender a meditar, o que é dificílimo! Com o Christian Fittipaldi, fiquei vários meses, quase dois anos, e ele dizia:
- "Nuno, correr uma hora está um espetáculo, estou levantando 70 quilos, agora esse negócio de não pensar em nada não vai!"
Mas não é para pensar em nada! O pensamento vem, o pensamento vai, não se incomode com ele... não se preocupe! Você começa e pensar que não pode pensar, e aí enrola tudo. Lembra como você era franzino, que caminhar pra você era uma agressão, e você fez exercícios para o seu coração? Lembra que você era fraquinho, gordo, balofo, gago, inseguro, flácido? Você não fez musculação (Nuno tem um método de musculação natural, com barras fixas), não dá oitavas na barra, peitorais? Olha que braço lindo... Agora está na hora de fazer exercício com a sua cabeça...
Uma das coisas mais importantes para o estresse é o trabalho físico - quanto mais você está envolvido com o seu corpo, mais a sua mente está sossegada... É por isso que se fala que a corrida é uma meditação ativa. Quanto mais você estiver envolvido com o seu corpo físico, mais você está relaxado com seu corpo mental... A atividade com o corpo físico é uma oportunidade que você tem de estar dando aquela compensação para o seu corpo mental. O Ayrton levou muitos anos para aprender a meditar. Mas ele tinha um cerimonial que a gente criou antes da corrida, onde ele ficava horas sozinho. As pessoas perguntavam o que ele fazia antes... Ele fazia um aprofundamento mental, onde a meditação começava com a respiração, com o relaxamento, levando-o a atingir uma alta densidade mental. Em alguns momentos essa profundidade foi de tal ordem que ele conquistou estados além do estado de Alpha. Ele contava 5-4-3-2-1 e estava em Alpha! Foram anos e anos, de lutas e exercícios. Meu método é baseado na prática, no exercício. Há muitos terapeutas em SP, psiquiatras famosos, que mandam clientes para mim quando quando compreendem que o paciente não tem mais jeito, o cara está há sete anos fazendo terapia, sabe tudo - mas na cabeça.
"Agora só com o Nuno, não tem mais jeito..."
Você tem que vivenciar com o seu corpo uma realidade concreta, em que você se transforma, se modifica, executa, faz... nada toca tanto seu centro de entendimento, sua razão, como algo acontecido, realizado. Por isso, há necessidade de exercitar. Agora não pensei você que o Ayrton ia para o grid de largada assobiando, nas nuvens. Ele ia numa busca, com a adrenalina e os hormônios em alta performance, para que ele pudesse resplandecer. Ele tinha quatro jogos de pneus, dois de verdade e dois na cabeça dele. Ele ficava tão concentrado que era capaz de saber a quantos giros estava o carro que ele tinha acabado de ultrapassar.
O método Nuno Cobra começa na parte cardiovascular, depois trabalha a parte muscular localizada, para então chegar na meditação, composta de mentalização, programação mental e relaxamento.
Eu sempre tive ideias um tanto arrojadas. Isso fez com que eu me afastasse do academicismo. O meu método é usar o corpo para chegar na mente das pessoas. Porque devemos viver na exuberância do ser. Devemos usar o corpo para caminhar em direção ao espírito, senão não há função nenhuma...
Imagina falar isso em 1950, 60 - falar que chegávamos ao cérebro pelo músculo e ao espírito pelo corpo...
Era a época do intelecto, da razão matemática, dedutiva. Então eu, que tinha procurado o caminho do corpo, era um pária. Quando fui fazer Educação Física, em 57, percebi que meus colegas também não entendiam, porque eles ficavam no corpo pelo corpo... veja hoje os personal trainers - ele ficam lá fazendo essa malhação... Eu dizia já em 1960 que malhar era para Judas... que o corpo se tratava com carinho, com cuidado, com muita atenção... É claro que você é fruto de 5 milhões de anos que vêm sendo caminhados pelo homem na face da Terra. Você necessita de movimento. Seu coração é atrofiado pela sociedade moderna, que aleijou o homem, tornando-o sedentário. Que tipo de movimento precisa ter o seu coraçãozinho para ele reagir, se transformar e se desenvolver? É muito particular ao seu estado.
As pessoas usam escadas rolantes, nem uma escada sobem mais! A escada cata o cara aqui e joga lá em cima como se fosse um pacote... Aí ele senta numa cadeira e toma um cafezinho... essa é a nossa sociedade. Então você precisa de um trabalho de corpo, mas... qual trabalho? Não é o corpo pelo corpo, mas uma coisa que o leve a tirar de dentro de si essa magnificência dada por Deus a todas as pessoas, impedida de florescer pela própria sociedade castradora, tirando dele a criatividade, a beleza, amor, a crença nele mesmo. Deus não criou ninguém para ser um desacerto, para dar errado, para ser doente, para ser infeliz. A sociedade é que deturpa a característica divina que carregamos no fundo da alma. Meu método é explorar a potencialidade das pessoas, resgatando nelas as suas raízes de beleza, de certeza, de triunfo, de alegria, de saúde. Já tenho 45 anos de trabalho, e comecei comigo mesmo. Quando eu modifiquei meu corpo, eu descobri que modifiquei minha mente. Percebi que tinha mais segurança, mais autoestima. Eu fiz acontecer, tenho um curriculum vivo das pessoas que eu pude tocar, e desenvolver nelas essa coisa maravilhosa. Eu não dei nada para ninguém, eu não dei nada para o Ayrton! Eu explorei continuadamente essa coisa esplendorosa que ele tinha, do potencial extraordinário. Eu fui um consultor, um argumentador científico, que dizia: "Você tem que dormir mais cedo, duas da manhã é muito tarde!" Levei muitos meses para convencê-lo a dormir mais cedo, até que um dia eu liguei para a portuguesa que cuidava dele; eram 21h30 e ele já estava dormindo! Não porque eu tinha pedido, mas porque ele tinha se esmerado durante o dia e precisa de repouso do animal que nós somos... Esse animal que é contrariado quando não tem prazer, quando não se alimenta de nutrientes verdadeiros, mas de comida degradada, venenosa, deturpada por tanta química. Hoje temos um arroz que não é arroz, um açúcar que não é açúcar...
Eu estudei sociologia, psicologia, filosofia. Trabalhei com excepcionais e desenvolvi um trabalho baseado no movimento, na inteligência do movimento, chegando à intelectualidade emocional. Noutro dia sonhei com eles, quando estava na Suécia, num campeonato de tênis de mesa. Porque eu os modelei e enquanto modelava o corpo, eu modelava o espírito, a mente, as emoções. Foi um trabalho espetacular e três anos depois eles estavam completamente diferentes. Depois trabalhei com presidiários. Mas a raiz do meu trabalho foi o tênis. O cara que vence não é o melhor, mas o que acredita que é o melhor... Assim formei tenistas campeões. Desenvolvia o coração dos meus alunos, eles corriam pela quadra como loucos. Depois montei a "Nuno's Place". Consegui ótimos resultados com meus atletas, homens das mais variadas profissões e problemas - síndrome do pânico, câncer, hipertensão, sedentarismo, obesidade. Eles conseguiram tanto esplendor! Isso me dava uma energia extraordinária...
O pensamento positivo é um vírus, ele contamina o ambiente. Você passa para as pessoas coisas bonitas e coisas negativas. A gente é o que a gente pensa! A gente vai até onde a gente acha que vai; com isso, eu fiz muita gente ir mais longe do que elas pensavam no início... Com toques psicológicos, mentais, eu fiz com que pessoas atingissem graus com os quais elas nunca podiam sonhar.
Até que um dia aparece um rapaz franzino, nervoso, inquieto - Ayrton Senna. Eu não conhecia, não sabia o que era Fórmula Três, achava que era vela, porque naquela época eu trabalhava muito com vela. Ele disse que tinha problema no coração. O que esse garoto quer, eu pensei. Aí eu fiz tudo quanto era exame, ele não tinha nada e comecei o trabalho com ele, explorando através do corpo outros corpos... o espiritual, o mental, o emocional. Trabalhei mais de dez anos com ele. Às vezes, nós somos os nosso próprios inimigos. Assim foi com Rubinho Barrichello, Christian Fittipaldi - todos eles tinham um inimigo interno. O trabalho mais lindo que fiz foi com o Mika Hakkinen, o campeão mundial. O Christian chegou para mim e pediu: "Nuno, você que é feiticeiro, mágico, faz alguma coisa com ele, que está péssimo". Conversei com o cara uma hora e meia. Era em Silverstone e ele estava maluco, perdido, raivoso, desnorteado, possesso. Ele tinha um inimigo, um outro companheiro de escuderia que ele precisava eliminar da sua mente. Fui falando naquele inglês acaipirado e o convenci que ele não tinha nenhum inimigo, mas que estava perdendo as próprias energias de tanta raiva... Quando ele venceu a primeira competição, ele dedicou a vitória ao técnico e a mim, dizendo que eu tinha mudado a sua vida. Que eu o tinha ensinado a se concentrar... Se ele está tendo esses resultados, como campeão mundial, ele diz que a raiz, o miolo do vencedor, se fez nesse momento, quando nós conversamos profundamente. Teve um ano, 1991, que minha filha chama de trilegal: Rubinho foi campeão da Fórmula 3, o Christian foi campeão da Fórmula 3 Intercontinental e o Ayrton foi campeão da Fórmula 1 e tricampeão também!
Hoje, trabalho com empresários, pessoas normais. Eu os chamo de atletas também. Eles viram atletas, modificando o físico e a alma. Tudo é uma questão de treino.
(texto publicado na revista Planeta Meditação nº 9)
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