sexta-feira, 25 de julho de 2014

O caminho do meio - Marcia de Luca


Quem trilha um caminho de busca espiritual certamente já percebeu a presença constante da flor-de-lótus em textos filosóficos e ensinamentos. Mas poucos sabem seu verdadeiro significado: ela tem suas raízes no lodo, embora suas pétalas sejam brancas e imaculadas. Assim, representa a dualidade inerente ao ser humano - que abriga em si o divino e o diabólico, o bem e o mal, a luz e a sombra, o santo e o profano, o masculino e o feminino.

Somos, sim, dois lados de uma mesma moeda, inseparáveis. E, por incrível que pareça, é essa dualidade que gera nosso equilíbrio. A grande sabedoria, então, é abraçá-la para valer. Com a evolução dos tempos, a mulher começou a buscar sua emancipação. Foi estudar e trabalhar, arregaçou as mangas para conquistar um novo lugar na sociedade - uma posição na qual seria respeitada não só como mãe, esposa e dona de casa, mas também como profissional. Na luta por poder, status e riqueza, nós quisemos nos tornar homens - e, literalmente, nos esquecemos de ser mulher.

No atual momento, estamos entrando no que chamo de era dourada, um período de muita luz, no qual vários valores devem ser revistos. Segundo a sabedoria indiana, a energia masculina é, de fato, a grande força do universo. Mas é a energia feminina que a movimenta, ou seja, que a faz entrar em ação. Portanto, uma não existe sem a outra. O mesmo conceito deve ser levado em conta no equilíbrio do ser humano. Reiterando o já dito, apesar de as proporções serem únicas e individuais, dentro de todos nós há forças masculinas e femininas, independentemente de sermos homem ou mulher.

A história da humanidade é cíclica. Depois do apogeu vem a queda. A vida está em permanente mudança. E o ciclo de reinado absoluto das energias masculinas chega agora ao fim. Nesta nova era dourada, nossas qualidades vão imperar. Daqui para a frente, o mundo será das mulheres, pois ele está precisando das energias femininas, como criatividade, percepção, intuição, compreensão, compaixão e amor.

Embora todas possuam as duas, sem dúvida, nós, mulheres, temos uma parte feminina bem mais acentuada do que a masculina. No entanto, neste exato momento, quando perdemos muito das nossas qualidades mais típicas, meu apelo é para que a gente se conscientize da necessidade de assumir o comando com força, coragem e determinação, características ligadas à masculinidade, sem deixar de abarcar e acalentar cada vez mais a porção feminina. Vamos unir os seres dos dois sexos que habitam nosso coração, respeitando nossa individualidade, mas caminhando todas juntas. A ideia central é voltar a ser mulher, resgatando nossa feminilidade, um atributo tão lindo. E assumir nosso papel no futuro do planeta com leveza e, ao mesmo tempo, firmeza e decisão.

Sugiro andar no caminho do meio, seguindo os passos da dança cósmica do universo. A vida é lila - palavra em sânscrito que significa algo como brincadeira divina. Assim, neste Dia da Mulher, proponho refletir ouvindo música, precisamente os versos de "Super-Homem, a Canção", de Gilberto Gil. "Um dia/Vivi a ilusão de que ser homem bastaria/Que o mundo masculino tudo me daria/Do que eu quisesse ter/Que nada/Minha porção mulher/Que até então se resguardara/É a porção melhor que trago em mim agora/É o que me faz viver".



(texto publicado na revista Claudia nº 3 ano 52 - março de 2013)





Nenhum comentário:

Postar um comentário