quinta-feira, 31 de julho de 2014

Picadas na pele, efeitos analgésicos no cérebro


Sob a óptica da medicina ocidental, a picada de uma agulha de acupuntura produz a conclusão de um impulso: receptores cutâneos transmitem informações sobre o local e a intensidade da dor até a medula espinhal. A partir daí, o sinal passa por diversas transformações (no mesencéfalo, por exemplo) até que, pela via do tronco cerebral e do diencéfalo, chega enfim ao tálamo (que faz parte do sistema límbico) e ao córtex somatossensorial, onde a dor é percebida de forma consciente. Então, o sistema límbico agrega ao impulso uma componente emocional: o incômodo da dor. Além disso, o cérebro reage ao estímulo da acupuntura da mesma maneira como a outras irritações provocadas por estresse: o corpo passa a secretar o hormônio ACTH (adrenocorticotrofina) em maior quantidade, o que, por sua vez, leva à produção de substâncias analgésicas.

O estímulo atua em pelo menos três planos. A primeira inibição da dor ocorre na medula espinhal. O estímulo provoca a secreção de encefalina e dinorfina, o que resulta na inibição da excitabilidade elétrica das células nervosas condutoras. Assim se explica também o rápido alívio da dor, o chamado efeito analgésico imediato da acupuntura: enquanto a agulha estiver fincada na pele, o estímulo atua contra as dores reais à maneira de uma manobra diversionista, ou seja, distraindo o paciente.

Especialistas como o médico Markus Bäcker, do Instituto de Medicina Natural e Integrada da Universidade de Duisburg-Essen, postulam ainda um segundo mecanismo, mais a longo prazo, no plano da medula espinhal: sinapses inibidoras diminuiriam de forma duradoura a força de transmissão das fibras nervosas condutoras, de tal modo que a dor real já não chegaria ao cérebro e, portanto, não poderia ser sentida.

Um terceiro mecanismo que também conduz à inibição mais duradoura pode ser atribuído a uma espécie de contrairritação do cérebro: mesmo bom tempo depois de retirada a agulha, a atividade que foi acionada em partes do diencéfalo persiste. A partir do hipotálamo ou da hipófise, hormônios como a betaendorfina retornam à medula espinhal, proporcionando ali um efeito analgésico duradouro.




(texto publicado na revista Mente Cérebro nº 258 - ano XX - julho de 2014)


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