quinta-feira, 31 de julho de 2014

Um café com Simon Kuper: O sorriso em meio à bagunça do futebol - Marco Bezzi


Estudioso acredita que grandes eventos esportivos, como a Copa, são capazes de gerar uma onda de felicidade nas pessoas por anos. Será?

O britânico Simon Kuper decidiu misturar futebol e economia ao coescrever o livro Soccernomics (ed. Tinta Negra). Kuper descobriu em suas pesquisas que um evento como as Olimpíadas ou a Copa do Mundo não faz um país mais rico. Mas o faz mais feliz. "Os políticos ainda preferem usar apenas a linguagem do dinheiro quando sediam um grande evento. Falar sobre felicidade parece algo menos", diz. Segundo Kuper, após o Mundial, mesmo com os seguidos protestos contra sua realização, o Brasil deve ser atingido pelo mesmo efeito verificado em estudos como o do instituto Eurobarometer, que submete os cidadãos europeus a pesquisas sobre felicidade há 40 anos. Uma grande amostra dos pesquisadores na Europa, após grandes eventos esportivos, se dizia mais feliz, algo que seria apenas possível com um aumento de salário substancial.

Como funciona a ciência da felicidade após um grande evento esportivo?

Em países europeus, as pessoas reportaram uma maior satisfação com a vida após seu país abrigar uma Copa ou um Campeonato Europeu. Em outras palavras, receber um grande evento faz as pessoas mais felizes. Esperamos que a Copa possa beneficiar um país maluco por futebol como o Brasil ao menos por um ou dois anos.

De onde aflora esse sentimento?

Vem de compartilhar uma experiência comum. No trabalho, na escola, no ônibus, os brasileiros vão falar mais uns com os outros sobre a Copa do Mundo, sobre os jogos, sobre a organização. Essa conversa nacional cria unidade e reúne as pessoas em torno de algo maior.

Mas e se o Brasil não ganhar a Copa?

Não há diferença, segundo o que vimos em outros países. Uma tragédia (como a derrota do Brasil para a Itália em 1982) também é uma experiência compartilhada.

As manifestações contra a Copa podem apagar o clima festivo?

Não acredito. Mas acho que as pessoas fazem bem em demonstrar seu descontentamento. O governo deve fornecer aos brasileiros escolas e hospitais no "padrão Fifa".



(texto publicado na revista Vida Simples nº 147 - julho de 2014




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