Isso é possível? Sim. Inclui mudanças de atitude e quebra do ritmo alucinado que a vida moderna nos impõe. O estresse pode estimular medidas importantes, mas é fundamental controlá-lo, e não o contrário.
Casada, dois filhos, um neto, Carmen Gonzalez, de 48 anos, leva uma vida saudável e tem saúde de ferro. Nem sempre foi assim. Ela precisou tomar um susto para aprender a se cuidar. Gerente de trade marketing, Carmen vivia atarefadae, sem se dar conta, entrou numa rotina tão estafante que quase pifou. Ao fazer um check-up, soube que suas taxas de colesterol e enzimas estavam muito alteradas. "Foi como uma chacoalhada", lembra. Nesse dia, ela entendeu que, já que o estresse era inevitável, teria que aprender a usá-lo a seu favor. Hoje continua se dedicando à empresa, mas tomou medidas, como reservar mais tempo para a família, amigos, além de entrar para aulas de boxe e ginástica. Resultado: melhor qualidade de vida e um corpo preparado para qualquer pressão.
O primeiro passo para ter o estresse como aliado é se fortalecer, física e emocionalmente. É o que afirma Connie Neal, autora do recém-lançado "Comece hoje a controlar o estresse". A especialista diz que o estresse, "quando sob controle, é benéfico, pois é a resposta natural às mudanças de vida". E acrescenta que "a chave para uma vida saudável é encontrar o equilíbrio, de modo que o nível diário de estresse seja estimulante e controlável". Nem muito nem pouco.
Mas como fazer isto? O médico Gilberto Ururahy, um dos diretores da Clínica Med-Rio Check-Up e coautor, com Éric Albert, do livro "O cérebro emocional", sugere que a pessoa mantenha uma rotina de exercícios e uma dieta saudável, com orientação de especialistas. Outras atitudes importantes são enfrentar os problemas de forma positiva, descansar o suficiente, evitar se comprometer demais, ter as finanças em dia, se divertir, conviver com os amigos. Claro que tudo isso junto não costuma ser possível, mas a ideia deve ser buscar as metas possíveis e até recorrer à terapia, se for necessário. Isto porque a raiva e a ansiedade reprimidas são fatores de estresse negativo, como alerta Connie. Vale lembrar que ter fé, conforto espiritual, ajuda bastante no dia a dia estressante de algumas pessoas.
É preciso tentar domar a fera porque as consequências são muito ruins, inclusive para o País. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), só nos Estados Unidos o estresse custa às empresas US$ 200 bilhões por ano. Esta é a soma de faltas ao trabalho, da queda de produtividade, de gastos com tratamentos médicos, entre outros. O estresse só é benéfico, afirmam médicos e psicólogos, eventualmente, como, por exemplo, numa situação de ameaça, de risco de morte. Nesses momentos, o corpo reage rapidamente para lutar ou fugir; a pessoa passa a respirar profundamente, seus brônquios e suas pupilas se dilatam, mais glicose corre para os músculos fornecendo energia em grande quantidade, e hormônios atuam como analgésico e anti-inflamatório, como explica Ururahy.
Porém, quando o estresse se torna crônico, ele libera hormônios cortisol e adrenalina de forma contínua pelas glândulas suprarrenais. Em excesso, essas substâncias afetam o organismo e, entre outros problemas de saúde, ocorre estreitamento dos vasos, o que facilita a formação de trombos, aumentando o risco de infarto e acidente vascular encefálico, o derrame. "Numa ponta está o cortisol, que, em níveis anormais, deprime, baixa a imunidade, reduz o desejo sexual, forma placas de gordura e eleva o apetite. Tudo isso contribui para ganho de peso, retenção de líquidos, resistência à insulina e agressão à mucosa do estômago. Por sua vez, a adrenalina estreita o calibre dos vasos, o que aumenta a pressão arterial, a frequência cardíaca e o ritmo da respiração. Ou seja, nada de bom.
E, se a pessoa estressada ainda fuma, abusa de álcool, se alimenta de forma pouco saudável, dorme mal e não se exercita regularmente, a situação complica, com o aparecimento de problemas cardíacos, diabetes, além de doenças mentais, como depressão. O corpo não descansa.
Quem dorme mal por causa do estresse e só relaxa com medicamentos indutores do sono não sonha. Esta fase é essencial para várias funções do corpo, inclusive a memória, diz Ururahy. "Quase 80% de todas as consultas médicas têm relação com o estresse. Daí a importância de aprender a gerenciá-lo, principalmente no mundo globalizado, com crises financeiras, violência e surtos de doenças. Sem falar nas cobranças no trabalho. Sem ajuda, o corpo não suporta tanta pressão."
Um levantamento feito na Med-Rio mostrou que a maioria dos pacientes com altos níveis de estresse e estilo de vida inadequado são competitivos e obsessivos por resultados; 50% apresentam colesterol alto; 60% fazem dieta desequilibrada e 50% são sedentários. A psicóloga Ana Maria Rossi, diretora da Clínica de Stress e Biofeedback, em Porto Alegre, e presidente da International Stress Management Association no Brasil (ISMA-BR), afirma que as emoções e a saúde física do indivíduo dependem quase exclusivamente da sua interpretação do mundo exterior. "A realidade de cada um é produto de sua própria criação. E quanto mais o indivíduo entende as pressões e situações que lhe influenciam, melhor ele se adapta às demandas", explica ela. Dependendo de como se lida com o estresse, ele pode ser um aliado, afirma a médica. "Ele é o tempero da vida. E como qualquer tempero, em excesso ou muito pouco não é bom. Por isso não gosto do termo 'controlar o estresse'. Isto significa reprimir emoções - que, bem dosadas, nos auxiliam nas nossas tarefas diárias. E esta medida é individual."
Se o estresse se manifesta de forma diferente em cada pessoa, seu gerenciamento também deve ser diferenciado. Uma boa medida, com apoio de psicoterapeuta, é a técnica de biofeedback. Ela permite, por meio de aparelho especial, o retorno imediato de uma informação física, através da medida de sensações, frequência cardíaca, temperatura, reação da pele, tensão muscular, pressão arterial e atividade cerebral. Com este método, explica Ana, a pessoa aprende a regular suas próprias reações. A respiração, por exemplo, é um termômetro de nossas emoções, diz a psicóloga. Nem todos os estressados são ansiosos, mas os ansiosos tendem a sofrer de estresse, garante. Quando o estresse começa a prejudicar o bem-estar, é hora de consultar um especialista. Caso contrário, ele deixa de ser um aliado e se torna um inimigo, que pode até dar uma trégua, mas certamente afetará seu bem-estar em algum outro momento.
(texto publicado na revista SimplesMente nº 2 - setembro de 2012)
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