domingo, 17 de agosto de 2014

Por que dormir é tão importante - Laura Toledo


Todos conhecem bem o que acontece depois de uma noite mal-dormida: cansaço, irritabilidade, dor de cabeça, dificuldade de concentração. Essas são apenas algumas das consequências mais notadas. Mais recentemente, novos estudos científicos trouxeram à luz outros danos, como o aumento de risco de doenças cardiovasculares e diabetes, por exemplo.

As informações servem para consolidar o consenso de que o sono exerce papel fundamental na regulação de vários processos do nosso organismo. "Sabe-se que ele tem pelo menos dez funções diferentes", explica a médica Dalva Poyares, do Instituto do Sono da Universidade Federal de São Paulo. "É um processo, um estado, como estar acordado - e ninguém pergunta por que estamos acordados", afirma.

Um de seus papéis mais importantes é regular os processos mentais e cognitivos. "O sono conhecido como REM funciona quase como um desfragmentador de disco de um computador: rearranja os processos de consolidação da memória, do aprendizado e da concentração para que eles funcionem melhor no momento em que você precisar recrutá-los", explica Dalva. O neurobiologista Terry Sejnowski, do Instituto Salk, nos Estados Unidos, tem uma ótima analogia para isso. "É como se você deixasse sua casa por um período para que os operários pudessem renová-la. Ninguém quer estar em casa durante o andamento de uma reforma - é uma bagunça!", costuma dizer.

Esse processo de organização e armazenamento das informações colhidas ao longo do dia obedece a um esquema complexo e que ainda intriga a ciência, embora vários estudos estejam contribuindo para elucidar melhor suas etapas. Um deles, publicado por pesquisadores da Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos, indica que, durante o sono, impulsos elétricos transferem memórias factuais guardadas no hipocampo - estrutura cerebral de capacidade limitada de armazenamento - para o córtex pré-frontal, que funcionaria como um "disco rígido" ilimitado do cérebro. Assim, esses impulsos liberariam espaço para a absorção de novas informações e conhecimentos.

Segundo Charles Bae, neurologista que liderou a investigação, a descoberta ajuda a explicar, por exemplo, por que o desempenho acadêmico ou profissional melhora significativamente quando se tem uma boa rotina de sono.

E o que podemos considerar boa noite de sono? Uma noite de seis a oito horas bem dormidas responderiam as pesquisas engajadas em estabelecer parâmetros quantitativos. São as mesmas a alardear a diminuição da média de horas dormidas pela população - nos Estados Unidos, esse índice passou de oito a seis horas e meia entre 1960 e 2010. Porém, dado o ritmo frene´tico dos tempos atuais, há quem diga que tal padrão é impossível de se cumprir. Mais maleável é a resposta do renomado cientista Pierre-Hervé Luppi, da Universidade de Lyon, na França. "Se você se sentir sonolento no dia seguinte, significa que não dormiu o suficiente". A médica Dalva Poyares, no entanto, apresenta uma resposta mais fisiológica a essa questão. "O organismo é muito sábio. O corpo de uma pessoa que não tenha um distúrbio de sono se compensa sozinho. É um processo natural", assegura. "As coisas acontecem de uma maneira fisiológica - é essa a única maneira de conhecermos as nossas próprias necessidades. É o mesmo que acontece com a necessidade de comer, por exemplo. Você só tem que perceber, adquirir consciência das necessidades de seu corpo."

Os efeitos da falta de sono

Os cientistas vêm estudando os efeitos da privação do sono há mais de um século. Essas são algumas das conclusões a que chegaram:

Crianças

Dificuldade para aprender a falar
Piores índices de alfabetização
Problemas para resolver contas simples

Jovens

Pior desempenho acadêmico
Maior propensão para causar acidentes de trânsito
Queda na performance esportiva
Desordens cognitivas como o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH)

Adultos

Depressão e irritabilidade
Ganho de peso
Aumento da pressão sanguínea
Elevação do risco de desenvolver diabetes e doenças cardiovasculares
Lapsos de memória





(texto publicado na revista SimplesMente nº 1 - maio de 2012)






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