Passada a euforia da Copa do Mundo, discussões, alegrias e decepções à parte, voltemos à nossa realidade. É hora de pensarmos no próximo grande evento que se avizinha: as eleições de outubro. Talvez vocês não saibam, mas em 2014, se cumpre um fato raro na história política brasileira: pela primeira vez teremos três presidentes, legitimamente eleitos pela vontade popular, que sequencialmente cumpriram seus mandatos regularmente, sem golpes de estado ou impeachment. Em quase 125 anos de república isso acontece pela segunda vez. Incrível e decepcionante. Isto apenas significa que no Brasil as instituições são fracas e frágeis, que são derrubadas por qualquer motivo. O chamado regime republicano viveu de golpes de estado, de golpes militares e de salvadores da pátria, que evidentemente não resolveram nada.
O país foi, e é, um celeiro de corrupção, entre todos os partidos, desde os mais tradicionais até aqueles que disseram que iriam fazer uma nova política. Além disso, a sociedade brasileira é extremamente desigual, nossos índices de desigualdade social são os piores do mundo. Grande parte da população ainda é analfabeta ou analfabeta funcional. Nada fazemos com as dezenas de pessoas que morrem todos os dias nas portas dos hospitais públicos. Somos uma sociedade violenta. Segundo dados oficiais, em 2013 cerca de 120.000 pessoas morreram ou assassinadas ou no trânsito. Isto é um número que suplanta a morte em muitas guerras. Encaramos como banal a violência cotidiana. Terrível!
Mas, que importância nós damos para as eleições? Ouso dizer que praticamente nenhuma e por quê? Porque dentro da mentalidade de nossa sociedade, nada irá mudar. Sem dúvida, o governo é apenas reflexo de seu povo. Se não nos importamos com a corrupção endêmica, com a ineficiência do setor público, com um congresso que trabalha três dias por semana, quando trabalha, com a quantidade absurda de escândalos em municípios, estados e no governo federal, se sequer sabemos em quem votamos nas últimas eleições, merecemos aquilo que temos. Não damos valor nem aos nossos impostos, que custeiam toda essa mediocridade. Muito mais importante é saber o estado de saúde de "nossos craques" e não as atitudes dos políticos eleitos.
(texto publicado na revista Leve & Leia nº 117 - ano 7 - agosto de 2014)
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