Esqueça os pavões coloridos e as aves afinadas. A Associação Asas e Amigos, em Minas Gerais, abriga animais marcados pelos maus-tratos
Como boa parte dos estudantes de veterinária, o mineiro Marcos de Mourão Motta seguia em sua rotina de cuidados de cães e gatos adoentados, quando o primeiro desafio profissional bateu à porta da clínica particular onde trabalhava. Era uma ave pequena e, em vez de latir ou miar como os pacientes de sempre, tagarelava como gente. O papagaio chegou pelas mãos de colegas que já sabiam da paixão que Motta nutria pela espécie. Embora não tivesse aprendido muito sobre animais silvestres na universidade, Motta sacou seus conhecimentos adquiridos nos livros e cuidou do paciente inesperado. Saiu-se tão bem na missão que outras aves, falantes ou não, começaram a chegar.
Nascia ali o que, em 2011, se tornou a Associação Asas e Amigos da Serra, um criadouro de 3.000 metros quadrados, na cidade de Juatuba, a 42 quilômetros de Belo Horizonte. Entre seus moradores não estão os pavões de penacho impecável ou as aves de canto afinado. O objetivo de Motta e da mulher, a também veterinária Teresa Brini, é cuidar de bichos domésticos e silvestres com um histórico de vida conturbado. Há de vítimas do tráfico e maus-tratos a bichos acidentados ou abandonados. "Damos ênfase àqueles que ninguém quer", afirma Motta. Uma mula queimada por um carroceiro, um jabuti atropelado, uma seriema sem perna e um tucano com o bico quebrado são alguns dos rejeitados que o casal acolheu.
Além de animais acidentados, o sítio abriga gatos, cachorros e espécies silvestres ameaçadas de extinção, como a ararajuba e o tamanduá-bandeira. O espaço é conveniado ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), órgão do governo responsável por fiscalizar o tráfico de animais e recolher bichos criados sem licença ou vítimas de atropelamento. Todo ano, o Ibama em Belo Horizonte recebe de 9 mil a 10 mil bichos. Seus centros de triagem, conhecidos por Cetas, não só vivem lotados, como também não podem abrigar os animais depois do tratamento. "A unidade do Asas funciona como um importante centro de apoio, principalmente porque os bichos podem permanecer ali", diz Daniel Vilela, analista ambiental do Ibama de Minas Gerais.
Antes de criar a associação, Motta já cuidava dos animais em sua clínica particular de Belo Horizonte. Os frequentadores eram, em geral, bichos abandonados por donos sem condições de arcar com o valor do tratamento, ou sem licença para criá-los em cativeiro. Até que a clínica lotou. Motta comprou então uma área nas proximidades para construir as instalações adequadas para um criadouro. Tudo com recursos próprios. Conseguiu uma licença do Ibama e começou a receber novos hóspedes. Os gastos com alimentação, medicamentos e manutenção são de R$ 15 mil por mês - parte de doações, parte da receita da clínica de Belo Horizonte.
Um dos grandes desafios de Motta é dar um bom desfecho para a dura trajetória de seus pacientes. Mantê-los vivos e bem cuidados já é uma tarefa um tanto árdua. Só dois de cada dez animais que o Ibama encaminha à Asas sobrevivem. O alto índice de mortalidade é explicado pelo estresse da mudança de ambiente e pela demora no atendimento. Do resgate à chegada ao sítio, pode levar semanas. Outro possível final feliz seria devolver os bichos à natureza - algo igualmente difícil, porque muitos chegam com problemas físicos, comportamentais ou doenças tão intratáveis que são incapazes de retornar ao habitat. Em 2013, cerca de 200 animais passaram pelas mãos de Mota. Só quatro tucanos e uma onça retornaram ao meio ambiente.
Hoje com 500 animais, o sítio em Juatuba está, assim como a clínica, com a capacidade esgotada. Menos pelo tamanho da propriedade, que ainda comporta alguns bichos, do que pela falta de recursos financeiros. Motta espera novas doações para não fechar as portas. Enquanto o dinheiro não chega, ele diz ter parado de frequentar os órgãos de fiscalização. Teme não resistir à situação dos hóspedes dali. "Não conseguirei dizer 'não'", afirma Motta.
Nascia ali o que, em 2011, se tornou a Associação Asas e Amigos da Serra, um criadouro de 3.000 metros quadrados, na cidade de Juatuba, a 42 quilômetros de Belo Horizonte. Entre seus moradores não estão os pavões de penacho impecável ou as aves de canto afinado. O objetivo de Motta e da mulher, a também veterinária Teresa Brini, é cuidar de bichos domésticos e silvestres com um histórico de vida conturbado. Há de vítimas do tráfico e maus-tratos a bichos acidentados ou abandonados. "Damos ênfase àqueles que ninguém quer", afirma Motta. Uma mula queimada por um carroceiro, um jabuti atropelado, uma seriema sem perna e um tucano com o bico quebrado são alguns dos rejeitados que o casal acolheu.
Além de animais acidentados, o sítio abriga gatos, cachorros e espécies silvestres ameaçadas de extinção, como a ararajuba e o tamanduá-bandeira. O espaço é conveniado ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), órgão do governo responsável por fiscalizar o tráfico de animais e recolher bichos criados sem licença ou vítimas de atropelamento. Todo ano, o Ibama em Belo Horizonte recebe de 9 mil a 10 mil bichos. Seus centros de triagem, conhecidos por Cetas, não só vivem lotados, como também não podem abrigar os animais depois do tratamento. "A unidade do Asas funciona como um importante centro de apoio, principalmente porque os bichos podem permanecer ali", diz Daniel Vilela, analista ambiental do Ibama de Minas Gerais.
Antes de criar a associação, Motta já cuidava dos animais em sua clínica particular de Belo Horizonte. Os frequentadores eram, em geral, bichos abandonados por donos sem condições de arcar com o valor do tratamento, ou sem licença para criá-los em cativeiro. Até que a clínica lotou. Motta comprou então uma área nas proximidades para construir as instalações adequadas para um criadouro. Tudo com recursos próprios. Conseguiu uma licença do Ibama e começou a receber novos hóspedes. Os gastos com alimentação, medicamentos e manutenção são de R$ 15 mil por mês - parte de doações, parte da receita da clínica de Belo Horizonte.
Um dos grandes desafios de Motta é dar um bom desfecho para a dura trajetória de seus pacientes. Mantê-los vivos e bem cuidados já é uma tarefa um tanto árdua. Só dois de cada dez animais que o Ibama encaminha à Asas sobrevivem. O alto índice de mortalidade é explicado pelo estresse da mudança de ambiente e pela demora no atendimento. Do resgate à chegada ao sítio, pode levar semanas. Outro possível final feliz seria devolver os bichos à natureza - algo igualmente difícil, porque muitos chegam com problemas físicos, comportamentais ou doenças tão intratáveis que são incapazes de retornar ao habitat. Em 2013, cerca de 200 animais passaram pelas mãos de Mota. Só quatro tucanos e uma onça retornaram ao meio ambiente.
Hoje com 500 animais, o sítio em Juatuba está, assim como a clínica, com a capacidade esgotada. Menos pelo tamanho da propriedade, que ainda comporta alguns bichos, do que pela falta de recursos financeiros. Motta espera novas doações para não fechar as portas. Enquanto o dinheiro não chega, ele diz ter parado de frequentar os órgãos de fiscalização. Teme não resistir à situação dos hóspedes dali. "Não conseguirei dizer 'não'", afirma Motta.
(texto publicado na revista Época nº 836 - 9 de junho de 2014)
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