Ao preparar mente e corpo, dá para "se prevenir" da sensação de sufoco e encarar melhor as situações estressantes
De repente, o coração dispara e as mãos ficam geladas. Fisiologicamente, "a ansiedade é o resultado a ação de hormônios, especialmente adrenalina e cortisol, que o corpo libera para se preparar para a luta ou fuga", explica o médico clínico geral Arnaldo Lichtenstein. Incômodos à parte, como as desagradáveis dores no estômago e de cabeça, é a maneira como cada um reage à ansiedade que permite classificá-la em normal ou patológica. "Quando cincunscrita a eventos, desaparecendo na sequência, é absolutamente normal", diz a psiquiatra Laura Andrade. Trata-se daquele nervosismo que aparece antes de uma prova importante, de um situação inesperada etc.
Ligado à performance, esse estado passageiro pode se transformar em algo produtivo. "A ansiedade é estimulante. Não tenho nada contra mergulhar em um projeto e trabalhar 12 horas por dia, desde que tenha momentos para desligar", continua Lichtenstein. Mas a bendita válvula de escape deve ser saudável - não um vício. "Assim, consegue-se balancear o estresse e aproveitá-lo a seu favor", continua o médico. Ou seja, nada de estourar o cartão de crédito na loja de sapatos, devorar uma caixa de bombons ou se jogar na corrida até o joelho não aguentar. Comportamentos compulsivos só postergam o sofrimento. "Como poucos dispõem de tempo, pare e avalie as reais necessidades por trás do aperto no peito", explica a psicóloga Mônica Akermann. Um profissional ou mesmo um amigo bom ouvinte podem dar aquele "olhar de fora", auxiliando a enxergar o que de fato a pessoa busca. "Enquanto não descobre o que o faz ter vontade de comer um bolo inteiro, pense na razoabilidade: um pedaço não é um problema, assim como um copo de cerveja ou uma bolsa nova", diz Mônica.
Conte até 10
Práticas integrativas e complementares também auxiliam no tratamento da ansiedade. Com benefícios comprovados, a meditação ativa regiões do cérebro, especificamente o córtex pré-frontal, e auxilia no tratamento de doenças e na promoção da saúde. "Ela ajuda o indivíduo a perceber as respostas automáticas que mantém e que nem sempre se refletem nos melhores hábitos ou comportamentos", explica Elisa Kozasa, pesquisadora do Instituto do Cérebro do Hospital Israelita Albert Einstein. Segundo ela, apenas de olhar para a ressonância magnética do cérebro é possível dizer se a pessoa medita ou não.
A meditação diminui os níveis de adrenalina e cortisol, o chamado hormônio do estresse. Em contrapartida, aumenta a produção de endorfina, ligada à sensação de felicidade. O benefício aparece quando há regularidade. "Quem pratica meditação tem respostas diferentes em situações adversas, conseguindo administrá-las melhor. Ela ajuda no manejo da ansiedade", diz Elisa.
Como acontece com a escolha da atividade física, deve-se experimentar os diferentes tipos de meditações e ver qual prática se encaixa no seu perfil. A modalidade chamada mindfullness ("atenção plena", em tradução livre), por exemplo, tem sido cada vez mais estudada. Apesar da ideia de se concentrar no tempo presente parecer algo simples, não é bem assim. "Conseguir prestar atenção no momento, desligando-se do passado e do futuro, exige exercícios e treinamento. O importante é que ao focar no agora a pessoa não se deixa levar pelo turbilhão de emoções do dia a dia", diz a pesquisadora.
A literatura científica comprova a ligação da meditação ao aumento da atenção, regulação emocional e melhora de problemas cardiovasculares. "Mas, quem sofre com a ansiedade constante necessita de acompanhamento de um profissional de saúde mental", continua Elisa.
A massagem é outro coadjuvante benéfico no tratamento da ansiedade. Entregar-se promove um desaceleração do organismo, permitindo que ele se recomponha. "A pele tem a mesma origem embrionária que o sistema nervoso central. Por meio do toque, inúmeros sensores captam informações e enviam ao cérebro dados a respeito de tato, pressão e temperatura. O responsável pelo relaxamento e bem-estar é o sistema nervoso parassimpático, que opera de modo antagônico ao sistema nervoso simpático (ativado nos estados de estresse). A massagem favorece o sistema nervoso parassimpático, atuando na bioquímica cerebral, reduzindo o nível de cortisol e aumentando a produção de serotonina e dopamina, responsáveis pela sensação de bem-estar e de prazer", continua Vivian.
Além de autocuidado, a massagem pode fazer parte de programas de tratamentos médicos. "Na prática clínica, observa-se que os pacientes saem renovados. A sensação vem da melhora da circulação sanguínea, pela soltura muscular, nutrição dos tecidos e oxigenação das células, que levam à liberação das fáscias musculares (membranas que recobrem músculos e órgãos), devolvendo liberdade de movimentos. Em termos psíquicos, dá maior clareza mental, tornando-os fortalecidos para lidar com suas questões", diz a terapeuta.
Achou que vale a pena? Dê um jeito de encaixar as práticas na rotina. Meditar pelo menos três vezes na semana, de 30 a 45 minutos, ajuda a aliviar sintomas de ansiedade, depressão e dores crônicas. Quanto às massagens, a partir de uma sessão semanal dá para combater o desgaste. E não subestime o sono, todos os especialistas concordam que o tempo de reparação é importantíssimo para controlar os nervos.
Para ajudar, alguns fitoterápicos usados há gerações no alívio dos sintomas do estresse receberam o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no que diz respeito à sua eficácia. Dentre eles, a passiflora incarnata (maracujá); melissa officinalis (erva-cidreira) e matricaria recutita (camomila) são reconhecidas como ansiolíticos simples, sem restrições de uso e venda. "Plantas reconhecidas pelo potencial relaxante ajudam, eventualmente, em casos de ansiedade esporádicos do dia a dia", diz Lichtenstein.
Já pra rua!
Iniciativas que melhoram a convivência nas grandes cidades são fundamentais. "O isolamento social é prejudicial. Espaços coletivos aumentam a sensação de amparo, de proteção e deixam as pessoas menos estressadas", afirma Laura. Segundo ela, pausas como fins de semana e feriados quebram a rotina viciosa. Aproveite esses momentos para desligar e relaxar.
"Há duas saídas: fugir ou saber lidar com o estresse. Isso é um aprendizado diário, uma verdadeira arte", orienta Lichtenstein. Ao invés de bater em retirada, aproveite parques, eventos ao ar livre, passeios em família e o que puder para melhorar a relação com o meio onde vive.
Quando remediar
Quando a ansiedade é patológica, a coisa muda de figura. "Nesse caso, incapacita a pessoa, que precisa de ajuda para voltar à normalidade. Para isso são necessários terapia e, possivelmente, uso de remédios", afirma o clínico geral. A abordagem médica varia de acordo com o que desencadeou a crise. "Trata-se do estresse pós-traumático, que exige tratamento adequado", completa Lichtenstein.
Da parcela da população que vive com um nó na garganta, a maior parte apresenta a chamada fobia simples (medos diversos, como sair sozinho ou de altura). Em seguida, aparecem as fobias sociais e, depois, os transtornos obsessivos compulsivos (TOCs). "Dois terços dos que têm ansiedade relatam casos moderados ou graves de manifestação dos sintomas, os quais levam a algum tipo de incapacitação", diz a psiquiatra.
Ao contrário da depressão, a ansiedade não é gerada por desequilíbrios fisiológicos, como baixa nos níveis de vitaminas, por exemplo. "Essa é uma questão superimportante. Propagandas de suplementos vitamínicos que exploram essa ideia são mentirosas, pois não existe literatura médica que comprove tal ligação." Outra diferença se dá em relação ao papel de terceiros. "A depressão é uma doença da família, todos devem colaborar para a melhora do doente. Já a ansiedade faz com que a família sofra, pois o ansioso fica impaciente", diz Lichtenstein. Em situações de tolerância zero, familiares ajudam relevando e sugerindo válvulas de escape.
Na hora de procurar ajuda, comece pelo clínico geral, que orientará se há necessidade de recorrer a especialistas. "A ansiedade e a depressão normalmente vêm juntas. Sabe-se que estão ligadas ao aparecimento de doenças crônicas, como diabetes, hipertensão, problemas cardiovasculares, quadros de asma, e outras, porque aumentam as inflamações no organismo", diz o médico.
(texto publicado na revista Saúde hoje e sempre nº 2)
Nenhum comentário:
Postar um comentário