Era uma brincadeira: desenhe o quarto dos seus sonhos. Fiz o meu com uma cama redonda com cortinas de princesa ao redor e muitas almofadas, porque eu queria dormir com dois travesseiros e a minha mãe não deixava. E eu queria dormir sozinha no quarto, e não mais com minhas irmãs.
Um dia, ganhei um quarto só pra mim, mas a cama era pequena. Tudo bem, porque pelo menos eu iria dormir sozinha. Mas aí veio o gato. Chegou pisando disfarçado por cima de mim, afofou minha barriga como se fosse um ninho, deitou enroscado e ligou seu motor. No começo, fiquei com medo de dormir assim: e se eu me mexesse e ele me unhasse? E se ele deitasse na minha cabeça e colocasse o rabo no meu nariz? Bom, tudo isso aconteceu mesmo, mas não foi tão ruim assim. Porque a parte boa, que é dormir abraçada, é tão melhor que deixou o resto engraçado.
Depois o tempo passou e a cama ficou grande. O gato se foi, e pensei: agora pelo menos tenho dois travesseiros. Mas aí veio o amor. Chegou como quem vai só esticar as costa, pegou meu lado da cama, colocou a perna por cima de mim e começou a ressonar de leve. No começo, fiquei estranhíssima de dormir assim: e se ele roncar ou meu braço ficar dormente? E se ele me ouvir falando no sonho ou sentir meu bafo? Bom, tudo isso aconteceu mesmo, mas não foi nada de mais. Porque a parte boa, que é dormir me sentindo amada, é pura felicidade.
Mais tempo se passou, o amor virou também marido, a cama é a mesma. Me acostumei com as coisas, e pensei: ok, então é só arrumar mais travesseiros. Mas aí veio o bebê. Chegou com sua própria cama, mas gostou mais da nossa, e a gente também não conseguia parar de afofá-lo. No começo, fiquei preocupada de dormir assim: e se ele cair da cama ou ficar abafado? E se ficar todo mundo apertado ou alguém vier dizer que não pode, não deve? Bom, tudo isso aconteceu mesmo, mas foi tudo bem. E a parte boa, que é dormir aconchegada com aqueles a quem mais amo, é minha razão para acordar sorrindo.
(texto publicado na revista Sorria para ser feliz agora nº 40 out/nov de 2014)
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