Mesmo quando são virtuais, os comentários maldosos podem ter consequências reais
"Você ficou sabendo da última?" Esta pergunta já espalhou muitas fofocas pelos corredores das empresas. Antigamente, a maledicência ficava restrita às paredes dos escritórios, mas, hoje, ela supera todos os limites de espaço e tempo. Com a internet, os comentários maldosos e as tradicionais indiretas da hora do cafezinho invadiram o mundo digital e se alastram na velocidade dos cliques.
"As redes sociais não criaram nada novo, apenas amplificaram o que já existia", diz Ana Gomes, gerente de recursos humanos. "A fofoca agora chega, de imediato, a muito mais gente." Segundo uma pesquisa da AVG (empresa mundial de segurança na internet) que ouviu 500 funcionários de pequenas, médias e grandes empresas brasileiras, 40% dos entrevistados já escutaram rumores sobre eles mesmos circulando por e-mail ou outras formas de comunicação digital.
Os números provam o que todo mundo já sabe: não são poucas as pessoas que se escondem atrás das telas de computador e dos celulares para fazer insinuações a respeito dos colegas de escritório, criticar sua capacidade, falar mal de suas roupas ou até zombar de características físicas. Muitas vezes, quem sofre com o zum-zum fica tão incomodado que acaba deixando o emprego.
"A fofoca desperta um sentimento muito negativo nas vítimas, que se sentem envergonhadas e invadidas", comenta Edna Bedani, uma das diretoras da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-SP). "Elas têm dificuldade em tocar no assunto e, em alguns casos, partem para o contra-ataque", conta Edna. Mas, mesmo indignada, a vítima não deve revidar na mesma moeda nem discutir com quem fez a fofoca, seja pelas redes sociais, seja pessoalmente, ela recomenda. "Senão, vira uma bola de neve."
Na opinião das especialistas, o melhor é respirar fundo e manter a cabeça fria. Dependendo do conteúdo da fofoca virtual, a atitude mais indicada é simplesmente ignorá-la, para ver se ela diminui e desaparece. Quando o falatório não termina e traz algum prejuízo, o ideal é que a vítima procure o autor da fofoca para uma conversa franca, ou até mesmo busque a ajuda do RH.
O outro lado
E se a fofoca no trabalho é ruim para quem a sofre, pode ser ainda pior para quem a faz. Falar mal dos colegas é sinal de imaturidade e falta de profissionalismo, e pode ter consequências graves para a carreira.
Mariana (nome fictício), 24 anos, conhece o preço da indiscrição. Ela vinha trocando mensagens com outros cinco colegas de trabalho quando ficou sabendo que a empresa iria cortar a internet dos funcionários. Não pensou duas vezes: aproveitou o bate-papo para compartilhar toda a sua raiva com o grupo, xingando a chefe. Passado um mês, Mariana foi despedida por "mau comportamento", depois de cinco anos na companhia. O conteúdo de sua mensagem havia chegado aos ouvidos da coordenadora. "Com certeza foi uma baita lição", reconhece ela. "Mas é óbvio que não precisava da demissão para aprender a ser mais cautelosa nas redes sociais."
Ainda que reprovável, a atitude de Mariana tem explicação. "As pessoas costumam se sentir mais corajosas e até irreverentes no mundo virtual, porque pensam que estão protegidas", esclarece a consultora de etiqueta Janaína Depiné. "Com essa sensação de que nada pode atingí-las, ficam mais propensas a criticar e difamar os outros."
Não se deve sair compartilhando tudo o que dá na telha. E isso vale tanto para as críticas diretas quanto para as indiretas e para os desabafos. Mesmo que a intenção seja apenas dividir um sentimento com os amigos, o estrago também pode ser grande.
Que o diga Brenda Silva, 21 anos. Insatisfeita com o cargo em uma empresa de construção civil, ela extravasou no Facebook. "Fiz um post dizendo que queria um emprego novo", conta. "Não quis ofender ninguém. Foi só um desabafo mesmo." A chefe de Brenda encarou de outra maneira. Quando soube do comentário, chamou a funcionária à sua sala e a repreendeu. Indignada, Brenda voltou ao Facebook, agora para reclamar da advertência que recebera. A história não acabou bem: pouco depois, ela também foi demitida. "Fui no impulso", admite Brenda. "Teria sido melhor eu ter resolvido de outra forma." Custou caro, mas Mariana e Brenda aprenderam: o que se faz no mundo virtual se paga no mundo real.
(texto publicado na revista Sorria para ser feliz agora nº 40 out/nov de 2014)
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