domingo, 22 de maio de 2016

O ator de computador - Mila Burns


Ele já foi King Kong, Gollum, um primata em Planeta dos Macacos: A Origem e no fim deste ano será Capitão Haddock, o melhor amigo do herói de quadrinhos Tintim. Os papéis são diferentes, mas todos dependem da tecnologia para existir. Aos poucos, Andy Serkis está se transformando n maior ator de captura de movimentos de Hollywood - e dá as dicas para ser um bom personagem de faz-de-contas.

Fazer um personagem criado pelo computador é diferente de interpretar um papel de carne  e osso?

Nunca fiz distinção entre interpretar um papel convencional ou usar tecnologia de captura de performance ]quando o ator veste roupas especiais e tem os movimentos reproduzidos por computadores]. No fim das contas, tudo é atuar. Quanto mais a tecnologia avança, mais evidente isso fica. Ainda há um medo com o desenvolvimento tecnológico, mas com o tempo o cinema vai entender que isso não altera a essência do trabalho.

Mas o que muda para o ator quando é usada a tecnologia de captura de performance?

É muito diferente, porque as atuações são capturadas durante a ação, ao vivo. Em Senhor dos Anéis, quando não existia essa técnica, a minha parte foi filmada em outro momento, eu nem encontrava os atores. Depois a cena era recriada com efeitos especiais. Em Planeta dos Macacos, eu estava lá, com o diretor, contracenando com os atores. Eu só era diferente porque usava uma roupa especial, para a captura, um collant verde.

Você abriu uma empresa para produzir videogames de alta tecnologia. Isso influencia na escolha dos personagens?

Não é que eu escolha por causa da tecnologia, mas isso realmente me atrai. O que aconteceu em Planeta dos Macacos, O Senhor dos Anéis, Tintim e King Kong foi uma união entre tecnologia, roteiro e oportunidade de interpretar papéis que não dependem apenas da minha imagem, mas de outras formas de expressão. Todos os meus personagens, de certa forma, têm grandes questões emocionais.

A convivência com os outros atores é importante?

Com certeza. Passei muito tempo com o James Franco, por exemplo. Ele acreditava no papel, mesmo me vendo de roupa verde em vez de ver um macaco [risos]. Franco deu mais energia a meu personagem. Não é fácil um ator mergulhar tanto nesse processo. Ao usar a tecnologia de captura de performance, é fundamental confiar na técnica.

Os primeiros filmes com efeitos especiais parecem piada se comparados aos atuais. Onde é que a tecnologia do cinema vai parar?

Eu sempre me pergunto como estaremos contando histórias daqui a 10, 20 anos. Qual será a interface entre nós e as histórias? Já dá para perceber que está ficando ultrapassado ir ao cinema e assistir a um telão. É óbvio que não vai ser assim. Imagino as pessoas na sala de sua casa se conectando pela internet a games imersivos. Vai chegar o dia em que você vai ver uma família inteira sentada vendo um filme 3D, que não é apenas cinema. É um game que parece um filme, provoca e entende as suas emoções, faz você chorar e rir, envolver-se com o personagem e, ao mesmo tempo, controlar o destino dele. Vai haver uma convergência muito grande entre os cinema e os games. E isso deve acontecer rápido, dentro de uma década.


(texto publicado na revista Super Interessante edição 295 - setembro de 2011)

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