Como o psicólogo paulistano Janderson de Oliveira virou Sri Prem Baba, o guru com milhares de seguidores espalhados pelo mundo
Ele não chega a ser uma celebridade entre seus conterrâneos, mas é um paulistano de raiz entre os líderes religiosos mais carismáticos do mundo. Se você apostou em um cardeal católico, um pastor evangélico ou mesmo em um pai de santo, errou feio. O autor da façanha é Sri Prem Baba, um psicólogo que se tornou mestre de hinduísmo em um centro espiritual no interior da Índia. Por lá, milhares de seguidores ouvem seus ensinamentos sobre compaixão e entoam cânticos no idioma sânscrito. Prestes a completar 50 anos - a data será comemorada nesta segunda (9) -, o guru desembarcou na semana passada na capital, onde estão programadas pelo menos sessenta celebrações em sua homenagem.
Neste domingo (8), por exemplo, ele vai ministrar uma palestra gratuita no Espaço Hakka, na Liberdade. As inscrições para o evento, chamado de satsang (o termo significa "encontro com a verdade"), foram abertas há cerca de um mês, e os 1 300 lugares disponíveis esgotaram-se em três dias, deixando 500 pessoas na lista de espera. Na segunda, o documentário Isso Existe, do americano David Hanrahan, que narra sua trajetória, será lançado em duas sessões do CineArte, da Livraria Cultura, às 19h30 e às 21 horas. Os ingressos custam 35 reais.
Nascido em uma família de classe média baixa da Aclimação, Janderson de Oliveira lutou taekwondo na infância e sonhava seguir os passos do ator e mestre de artes marciais Bruce Lee. "Tentava tirar fotos representando golpes, como ele", relembra. Com o objetivo de ganhar mais elasticidade nas pernas, começou a praticar ioga. A partir daí, conheceu a meditação e interessou-se por terapias alternativas. Sua formação é um arco-íris de esoterismo e espiritualidade. Cursou faculdade de psicologia no Centro Universitário Paulistano, na Vila Mariana, e atuou como massoterapeuta, instrutor de ioga, acupunturista e xamã. No campo religiosos, é ainda mais eclético: foi católico, evangélico, kardecista e budista.
Em 1999, resolveu ir à Índia durante a lua de mel com a professora de educação física e bailarina Mara Regina Caccia. Em Rishkesh, cidade de peregrinação para praticantes de ioga, conheceu o guru Sri Hans Raj Maharaj ji, que se tornou seu mestre. Após três anos de aprendizado, ganhou o título de Sri Prem Baba, que significa "auspicioso" (sri), "amor divino" (prem) e "homem santo" (baba). Ao longo da década seguinte, passaria períodos de até cinco meses por ano ao lado de Maharaj, conquistando sua simpatia e confiança. Com a morte do líder, em 2011, tornou-se o primeiro brasileiro a comandar um ashram (espécie de monastério) na Índia, mesmo sem falar hindi e inglês.
Até ali, no entanto, seu nome estava restrito aos adeptos do hinduísmo. A grande virada para a fama ocorreu em novembro de 2013, quando organizou o festival de música Love & Peace Rocks, no parque aquático Beach Park, em Fortaleza, no Ceará. O evento serviria para ele apresentar o projeto Awaken Love, cuja proposta é traduzir os ensinamentos de sua linha espiritual ao público leigo. Entre as atrações estavam Toquinho e Gilberto Gil. Cerca de 2000 pessoas passaram pelo local, entre elas famosos como a jornalista Glória Maria, o ator Márcio Garcia e as atrizes Juliana Paes, Letícia Sabatella e Marina Ruy Barbosa. Esses e outros artistas foram os principais responsáveis por difundir suas ideias no mundo das celebridades. "Ele não faz milagres, mas ajuda a lidar com questões da mente ligadas ao ego", conta o ator Reynaldo Gianecchini.
O sucesso de Prem Baba pode ser medido em números. Entre setembro e outubro, atraiu 15000 pessoas durante um período de ensinamentos em uma comunidade espiritual de Alto Paraíso de Goiás. No Facebook, onde posta mensagens diárias, tem 125 000 fãs. Mantém um centro espiritual em Nazaré Paulista, a 48 quilômetros da capital, e um espaço para meditação na Vila Monumento, na Zona Sul. Quando está na cidade - passa aqui seis meses por ano -, costuma fazer programas prosaicos, como ir ao Shopping Pátio Higienópolis, com a filha Nuyth Anada, de 12 anos. Nessas ocasiões, mete-se numa calça jeans, veste uma camiseta e prende os cabelos compridos para tentar passar incógnito. A longa barba branca, no entanto, sempre o denuncia. Assim, não é raro que seja parado para tirar fotos com fãs da sua escola espiritual. "Ainda alimento a ilusão de que sou uma pessoa normal", brinca.
(texto publicado na revista Veja São Paulo de 11 de novembro de 2015)
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