domingo, 21 de agosto de 2016

Medicina expressa - Aretha Yarak


Inaugurada na capital no mês passado, a clínica Dr. Agora oferece consultas a 89 reais sem necessidade de agendamento

Um novo conceito de atendimento médico acaba de ser lançado na capital. Com a primeira unidade inaugurada em maio na Vila Olímpia, a rede Dr. Agora oferece consultas rápidas com clínico-geral, e sem necessidade de agendamento prévio, por um custo fixo de 89 reais. A intenção é atuar em situações de baixo risco como uma alternativa ao pronto-socorro. Só serão recebidas por ali pessoas com mais de 12 anos que apresentem quadros específicos. No caso, sinusite, amigdalite, conjuntivite, gripe, diarreia aguda, resfriado, rinite, otite externa ou infecção urinária. Pacientes em qualquer outra condição, como dor de cabeça, serão encaminhados a um centro de saúde tradicional. "Os problemas listados são simples e identificáveis sem grandes investigações", diz o diretor clínico Eduardo Correa. Todos os casos terão diagnóstico sem a realização de exames, como testes de sangue ou raio X. A proposta é que cada atendimento dure, em média, quinze minutos.

A ideia da rede é inspirada na Minute Clinic, inaugurada em 2000 nos Estados Unidos. Hoje existem por lá mais de 800 estabelecimentos, instalados em farmácias e supermercados. Nessa versão, as consultas podem ser realizadas até por enfermeiros, algo proibido pela legislação do Brasil. Idealizador do projeto no exterior, o americano Rick Krieger é um dos responsáveis por trazer a iniciativa para São Paulo. Ele está ao lado de outros cinco investidores, como o empresário Omilton Visconde, fundador da farmacêutica Segmenta, vendida em 2010 ao grupo Eurofarma. O grupo planeja gastar 7,5 milhões de reais no negócio nos próximos cinco anos. Até o fim de 2015 serão abertas mais cinco unidades na cidade (duas no centro, duas na Zona Leste e uma na Zona Norte). Elas ficarão em espaços com cerca de 30 metros quadrados e terão até dois médicos por turno. Além de fazer os atendimentos a equipe trabalhará com um catálogo de vacinas. Na unidade da Vila Olímpia está disponível desde a última quarta (17) a opção contra a gripe, por 89 reais. Para o segundo semestre, entrarão na lista imunizações contra HPV, meningite, hepatites, sarampo, caxumba, rubéola, catapora, tétano e pneumonia.

Nos primeiros trinta dias de funcionamento, ainda em esquema de soft opening, foram atendidas cerca de cinquenta pessoas com algum tipo de problema leve. Uma delas foi a auxiliar administrativa Rosangela Viotti Sardi, de 39 anos. “Eu estava com infecção urinária, sentindo muita dor, mas não queria ir ao hospital e resolvi experimentar a novidade”, conta. “Fui bem recebida e saí de lá muito melhor”, completa. Como está localizada em um bairro de alta concentração empresarial, a unidade da Vila Olímpia vem fechando parcerias com escritórios da região, como o Fleury e Coimbra Advogados. “É bastante conveniente e prático ter uma clínica tão perto”, comenta o sócio Eduardo Fleury, que comprou crédito para vinte consultas ou vacinações para seus funcionários.

Apesar de inovadora, a iniciativa provoca controvérsias, pelo risco advindo da ausência de exames. “Nenhum diagnóstico clínico tem 100% de precisão”, afirma o presidente do Conselho Regional de Medicina de São Paulo, Bráulio Luna Filho. “Depender só do médico exige uma equipe muito qualificada para evitar erros”, diz Oswaldo Yoshimi Tanaka, professor de saúde pública da USP. 

A empresa argumenta que todos os casos são analisados de acordo com protocolos válidos no país e que pratica um minucioso processo de seleção para a contratação de seus profissionais. “Só vamos chamar quem tiver experiência comprovada em clínica geral”, diz Correa. “Para isso, podemos realizar simulações de atendimento com os candidatos.” 

As unidades do Dr. Agora integram uma nova gama de empreendimentos que surge em meio às deficiências dos sistemas de saúde da capital. Criado em 2011 pelo administrador Thomaz Srougi, o grupo Dr. Consulta também tem baixo custo, mas oferece especialistas e exames laboratoriais e de imagem. Lá, uma sessão sai por até 120 reais, e o paciente também passa por cuidados preventivos. Atualmente são oito unidades,a maioria na periferia, e mais de 250 000 pacientes atendidos em quatro anos.

(texto publicado na revista Veja São Paulo de 24 de junho de 2015)

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