terça-feira, 23 de agosto de 2016

Paulistano Nota Dez: Alex dos Santos - Aretha Yarak


Nome: Alex dos Santos
Profissão: rapper
Atitude transformadora: usa músicas de funk e rap para falar da importância da educação em colégios da periferia

Nascido e criado no bairro de Cidade Kemel, em Poá, município da Grande São Paulo vizinho ao distrito do Itaim Paulista, no extremo da Zona Leste, o rapper Alex dos Santos, de 27 anos, é o caçula de uma família marcada pelo consumo de drogas e pelo envolvimento com o crime. Na infância, nos anos 90, acostumou-se a ver policiais armados invadir o quintal da casa da avó, onde brincava com primos, á procura de três tios, à época ladrões de banco. Seu pai sofre com o alcoolismo e os dois irmãos mais velhos são ex-viciados em cocaína. Ele próprio foi usuário frequente da droga a partir dos 16 anos de idade, principalmente em noites de balada na região. "Eram 10 gramas por dia, no mínimo", recorda. Essa vida durou oito anos e só terminou no fim de 2011, quando se internou por três meses em uma clínica. Nesse período, escreveu sua primeira música. A letra resumia o drama pessoal e sensibilizou pacientes que passavam pela mesma situação. "Percebi que poderia ajudar outras pessoas fazendo algo de que gosto", conta. Assim, em fevereiro de 2013, um ano após concluir seu tratamento, passou a levar o hip-hop a colégios da periferia. Mas, no lugar de estrofes sobre carrões e outros artigos de luxo, marca registrada de muitos artistas ligados ao funk, cria rimas a respeito da importância de frequentar o colégio. "Minha ostentação é o estudo. Quero mostrar que só isso pode ajudar alguém a ganhar um dinheiro digno", diz.

Batizada de "rap e funk da educação", a batida de Lemaestro, seu apelido no meio, já foi ouvida por cerca de 300 000 jovens de 100 escolas da Grande São Paulo, como as estaduais Doutor José Eduardo Vieira Raduan, em Ferraz de Vasconcelos, e Américo Franco, em Poá. As apresentações ocorrem por meio de dois projetos, o Show de Inspiração e o MCs pela Educação, que são braço do Instituto Gerando Falcões, no qual atua como coordenador de arte e cultura. São cinco eventos por semana, com duração média de uma hora e meia, no pátio ou na quadra das instituições de ensino. A agenda está lotada até junho e há mais de dez colégios na fila de espera para o segundo semestre. A iniciativa viajou também para municípios do Rio de Janeiro e de Minas Gerais. Além de realizar os shows, ele ajuda estudantes a iniciar "carreira-solo". Entre os frutos desse trabalho, está um CD produzido em novembro de 2013 por alunos da Escola Estadual Professora Lacy Lenski Lopes, no Jardim América, em Poá. Até agosto, ele planeja ainda lançar o primeiro álbum próprio, batizado de Escolhas Mudam Histórias. "Quero usar minhas canções para ajudar as pessoas", afirma.

Em paralelo com a música, Lemaestro mantém um programa ligado ao esporte chamado Falcões do Skate. As aulas ocorrem nas manhãs de domingo, também na escola Lacy Lenski Lopes - há quarenta vagas disponíveis para crianças e adolescentes entre 8 e 20 anos. A modalidade surgiu em sua vida na infância e ele chegou a competir com o apoio de patrocinadores. O sonho de tornar-se um atleta de elite foi interrompido aos 16 anos, quando sofreu uma lesão. Sem ajuda financeira para bancar a recuperação, teve de abandonar o plano. Durante esses encontros com os jovens, o rapper aproveita para prestar orientação profissional e oferecer outros conselhos, até mediando conflitos típicos da idade. "Eu me tornei referência e muitos pedem ajuda." Sua influência com os garotos é tamanha que, em janeiro de 2014, acabou sendo escolhido pelo Global Shapers, uma iniciativa do Fórum Econômico Mundial, como um dos dezessete paulistas de até 30 anos com potencial para mudar o mundo.


(texto publicado na revista Veja São Paulo de 15 de abril de 2015)

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