segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Paulistano Nota Dez: Braz Rodrigues Nogueira - Júlia Gouveia


Nome: Braz Rodrigues Nogueira
Profissão: educador
Realidade que transformou: fez com que um colégio cercado de violência em Heliópolis se tornasse a semente de um polo de lazer e cultura aberto à população

Quando Braz Rodrigues Nogueira assumiu a direção da Escola Municipal Presidente Campos Salles, na favela de Heliópolis, em 1995, o local estava mergulhado em violência. A praça em frente era palco de crimes como tráfico de drogas e estupro (certa vez, até encontraram por lá um cadáver). "Nas classes, havia cinco ou seis agressões físicas entre alunos todos os dias, e sobrava cadeirada até para mim", lembra. O ambiente se tornou ainda mais assustador em 1999, com o assassinato de uma estudante logo após sair da aula. Foi o momento do basta. Nogueira passou, então, a organizar caminhadas anuais pela paz nas ruas da região e investiu em um programa de aproximação do colégio com a vizinhança. Se antes os estudantes, funcionários e professores viviam às voltas com problemas de segurança, hoje o Campos Salles nem sequer tem muros. "Percebi que os problemas da escola são os do bbairro, e vice-versa", conta Nogueira.

A transformação começou com a criação de comissões de pais para debater melhorias. Em paralelo, o diretor incentivou professores a ir aonde moram os matriculados. "Aos poucos, a aproximação mostrou bons resultados", afirma. Em 2002, ao ser surpreendido com o roubo de 21 computadores, saiu pela vizinhança dizendo quanto as máquinas fariam falta. Três dias depois, elas reapareceram. Em 2010, ocorreu a inauguração do Centro de Convivência Educativa e Cultural de Heliópolis que surgiu a partir de uma ideia de Nogueira de integrar a praça antes problemática a um polo de ensino infantil. Hoje, o complexo agrega outros cinco colégios e equipamentos abertos à população, como teatro, cinema e quadra. Na estratégia pedagógica do Campos Salles, uma recente iniciativa vanguardista aboliu paredes e as aulas expositivas deram lugar a grupos de aprendizado tutorados pelos docentes. Conseguir um bom resultado com a inovação é a nova meta do filho de lavradores pobres. Nascido na zona rural da região de Araçatuba, no interior do estado. Nogueira andava diariamente 12 quilômetros para estudar e se formou em filosofia e pedagogia. "Minha motivação era dar orgulho aos meus pais", relembra ele, com a certeza do objetivo alcançado.


(texto publicado na revista Veja São Paulo de 17 de abril de 2013)

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