sábado, 27 de agosto de 2016

Paulistano Nota Dez: Luis Junqueira - Clara Novais


Nome: Luis Junqueira
Profissão: professor de português
Atitude transformadora: criou projeto para a publicação de livros de crianças e adolescentes em instituições públicas

Após ser diagnosticada com uma doença grave, o maior conforto da jovem Angelina era a companhia do seu labrador, Charlie, que a seguiu até os últimos dias do tratamento. A história de afeto entre os dois, fruto da imaginação de uma menina de 13 anos, e outras tramas ficcionais elaboradas por crianças e adolescentes estão virando livro pelas mãos do professor de língua portuguesa Luis Junqueira. O docente ajuda os iniciantes a desenvolver as narrativas, que, depois de revisadas e editadas, são impressas com pequena tiragem em gráficas da capital. Fazer com que os futuros autores ponham a mão na massa foi o jeito encontrado por Junqueira para estimular o interesse deles pela escrita e pela literatura. "Não ensino a todos da mesma maneira, mas, a partir do estilo e da dificuldade de cada um", relata o paulistano de 34 anos, morador do Jardim Bonfiglioli, na Zona Oeste.

O negócio surgiu quando Luis lecionava em colégios particulares. Batizado de Primeiro Livro, o projeto é aplicado há um ano em instituições públicas e já teve 300 aprendizes. Em São Paulo, a iniciativa envolveu duas unidades da Fundação Casa na Vila Maria, na Zona Norte, e a Escola Municipal de Ensino Fundamental Campos Salles, na comunidade de Heliópolis, na Zona Sul. "Alguns despejam as palavras inconscientemente no papel, sem reler nada", conta o professor. "Vou vendo nos buraquinhos que aparecem no texto os caminhos para ensinar."

Até agora, foram lançados 300 títulos, e cada autor recebeu 25 exemplares, realizando 7 500 volumes. Para isso, Luis obteve o apoio de 493 pessoas, que, juntas, doaram mais de 56 000 reais por meio de um site de financiamento coletivo. "Fizemos festas com sessões de autógrafos, todas muito emocionantes", afirma. Com as obras em mãos, alguns dos jovens presenteiam parentes ou tentam vendê-las. "Mas muitos optam por trocar seus trabalhos com os dos colegas", diz o professor.


(texto publicado na revista Veja São Paulo de 6 de abril de 2016)

Nenhum comentário:

Postar um comentário