segunda-feira, 7 de julho de 2014

Lições para controlar a raiva - Rê Campbell


Por causa do mau comportamento, o cantor Justin Bieber vai ter aulas sobre como conter a irritação. Mas, afinal, quais são os ensinamentos para quem precisa superar a raiva? Entenda o problema e conheça quatro passos para evitar o descontrole

Aulas para controlar a raiva: esse foi o tratamento indicado pela Justiça dos Estados Unidos ao cantor Justin Bieber. Após dirigir sem licença, em alta velocidade, sob efeito de drogas e resistir à prisão, autoridades de Miami decidiram que o astro deve aprender a conter a irritação. A informação é do site TMZ.

Quando começou a carreira, Bieber tinha fama de bom-moço. Entretanto, ataques de fúria frequentes transformaram o rapaz em sinônimo de encrenca. Ele já xingou fãs, abandonou shows, atacou fotógrafos, fez comentários maldosos em redes sociais e até quebrou quarto de hotel.

A raiva não é um sentimento exclusivo de artistas. Quantas vezes você já presenciou cenas de pessoas consideradas calmas, mas que, de uma hora para outra, perdem o controle da situação? Fila no banco, trânsito, cobranças no trabalho ou mágoa de um amigo podem ser suficientes para estimular a irritação. A raiva costuma surgir quando somos contrariados, provocados, injustiçados ou agredidos. O problema é que essa emoção pode se acumular e sair do controle.

Quando ocorre um explosão de raiva, a pessoa irada age sem pensar e descarrega a energia acumulada em forma de gritos, xingamentos e até agressões físicas. mas por que a raiva pode levar uma pessoa a situações extremas? O psicólogo João Alexandre Barbosa explica que a raiva é uma emoção que surge para esconder outro sentimento, como a humilhação, o medo ou a frustração. Ou seja, a raiva tem raízes mais profundas. "Se a pessoa vai acumulando raiva e não sabe a origem do problema, essa raiva vira fúria e ódio. Quando a raiva está no nível máximo, a pessoa tenta resolver o sofrimento que está dentro dela de forma cega", explica Borba.

O psicólogo destaca,entretanto, que é possível reverter o problema e viver de forma mais equilibrada. "Uma pessoa que tenha tido um ataque de raiva não é um monstro. A questão é que ela acumulou várias mágoas. O melhor remédio para a raiva é conhecer a si mesmo", ensina João Alexandre Barbosa.

Da raiva à compreensão

A raiva já provocou muitos prejuízos na vida da cozinheira Silvania Gomes Silva, de 39 anos. "Sentia raiva desde o momento que acordava. Eu me irritava com as tarefas domésticas, com meu marido e com a minha filha. Ficava nervosa até com pessoas desconhecidas que cruzavam por mim na rua. Às vezes, dava vontade de bater e xingar", relembra.

Sem compreender o motivo para tanta irritação, Silvania começou a ter problemas em casa e no trabalho. "Agredia a minha filha porque achava que a raiva ia sair, eu me sentia aliviada depois de bater nela. Também me afastei do meu marido, não queria que ele tocasse em mim", diz.

Já no trabalho, a cozinheira recusava tarefas e chegou a discutir. "Um dia, a filha da patroa pediu para eu fazer um bolo. Eu respondi gritando que, se ela quisesse bolo, deveria pegar os ingredientes e fazer ela mesma: Depois, joguei o avental longe e sai andando", conta.

Silvania admitiu que precisava mudar quando ficou isolada da família e dos amigos. "Vi que tinha algo errado. Eu precisava resolver os problemas conversando e mudar meus pensamentos e atitudes. Comecei a me voltar aos ensinamentos de Jesus e, quando a raiva vinha, eu tentava entender o que estava acontecendo", relata, acrescentando que percebeu que a origem da raiva eram conflitos familiares mal resolvidos. "Hoje, converso sobre os problemas e não guardo rancor. A raiva é um sentimento totalmente destrutivo. É como um copo de veneno: você engole e passa mal", finaliza.

A carioca Vanessa de Almeida Assunção, de 28 anos, também vivia incomodada com o sentimento de raiva. "Eu ficava muito agitada, tinha palpitações e dores de cabeça. Era só alguém me contrariar que eu gritava, brigava, tinha pensamentos negativos sobre a pessoa. Não admitia que meu namorado discordasse de mim", conta.

A raiva de Vanessa provocou discussões no ambiente de trabalho e o fim do relacionamento amoroso. Nesse momento, ela decidiu adotar uma nova atitude. "Comecei a pensar duas vezes e respirar fundo antes de extravasar a raiva. Aos poucos, fui aprendendo que a raiva me deixava estressada. Hoje em dia sei que as pessoas não pensam igual a mim. Estou mais tranquila e não preciso bater boca para resolver uma questão", resume.

Entenda a raiva

O psicólogo João Alexandre Borba explica o problema e ensina como agir para evitar consequências graves

O que é

A raiva é uma emoção ativada quando a pessoa precisa proteger e/ou esconder outra emoção e também está relacionada à imaturidade. Uma pessoa com medo, por exemplo, pode ter o sentimento de raiva ativado para que consiga ter coragem de enfrentar o medo. A raiva estimula uma força interna para resolver algo. O problema é que a raiva pode se transformar em excesso de energia mal direcionada.

Problema acumulado

Descarregar a raiva quebrando objetos, agredindo alguém ou gritando não resolve. O indivíduo pode até se sentir aliviado por um tempo, mas ele vai continuar sem saber o que gera o problema. Se acumulada, a raiva pode surgir ainda mais forte em outra ocasião. E não adianta apenas controlar a raiva. O segredo é compreender o que gera a raiva e tentar solucionar o que está errado.

Descontrole

A raiva libera uma descarga de adrenalina e cortisol, hormônios que deixam o corpo mais tenso e preparado para a ação, para o ataque. Um indivíduo com raiva sente vontade de extravasar a energia acumulada. O excesso de raiva pode fazer a pessoa perder o controle de suas ações e partir para xingamentos, agressões, discussão e outros tipos de violência.

Doenças e destruição

A raiva gera dor de cabeça, sudorese, vertigens, inquietação, insônia, respiração acelerada, tensões musculares e dor de estômago. Pessoas que sentem raiva constantemente podem desenvolver enxaqueca, gastrite, problemas cardíacos e até obesidade. Isso ocorre porque a raiva confunde o corpo e faz o indivíduo comer sem controle. A raiva também prejudica amizades, atrapalha o desenvolvimento profissional e pode destruir relacionamentos amorosos.

4 passos para superar a raiva

Pare e respire

Evite agir por impulso. Ao identificar a raiva, tente se afastar da situação que está provocando esse sentimento.Depois faça um exercício de respiração: imagine que você tem uma bexiga (balão) dentro da barriga; coloque as suas mãos em cima do umbigo e inspire o ar até que sua barriga fique grande, como se a bexiga estivesse cheia. Conte dois segundos e expire, esvaziando sua barriga. Repita essa respiração cerca de 20 vezes. A técnica ajuda a desativar a raiva, oxigenar o cérebro e diminuir a sensação de incômodo.

Entenda e converse

Quando sentir raiva, tente compreender se aquela energia é proporcional ao que está acontecendo. Será que é saudável sentir raiva só porque alguém disse algo que você não gostou? Brigar e gritar são as melhores atitudes para lidar com um problema? O autoconhecimento é o melhor remédio para a raiva. Procure descobrir o problema e as emoções que estão por trás da raiva. Você se sente frustrado? Tem medo? Está desmotivado? Em vez de guardar mágoas, o ideal é tentar resolver, conversar com os envolvidos, falar o que o incomoda e encontrar uma solução racional.

Coloque um foco

A raiva gera um tumulto grande e provoca consequências que muitas vezes não podem ser resolvidas apenas com um pedido de desculpas. A raiva não tem foco. Quebrar objetos, por exemplo, é capaz de resolver um desentendimento? É claro que não. Para superar a raiva, é importante descobrir estratégias para lidar com as situações que incomodam. A pessoa precisa direcionar a energia certa para cada problema e escolher a melhor atitude.

Gaste energia

Fazer exercícios pode ser uma boa forma de extravasar a tensão provocada pela raiva. Em vez de explodir, é melhor gastar a energia acumulada em atividades mais saudáveis. Mas lembre-se que é importante descobrir o que provoca a raiva. Afinal, sentir raiva por muito tempo é prejudicial à saúde.



(texto publicado no jornal Folha Universal - 22 de junho de 2014)














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