domingo, 17 de maio de 2015

Algo me diz... - Patrícia Affonso


Pressentir um acontecimento na família, no trabalho ou na vida social não tem nada a ver com o sobrenatural. Isso se chama intuição, uma voz interior que, bem compreendida, é capaz de ajudá-la a ser mais assertiva. Sabia que você pode aprender a ser intuitiva?

A resposta de que precisa está dentro de você. Mais precisamente no seu inconsciente, armazenada na forma dos milhares de dados que recebemos todos os dias. As informações ficam no cérebro esperando o momento de virem à tona quando mais necessitamos. Quem ajuda a despertá-las é a intuição, que age como uma ponte para que possamos acessá-las. "O sentido pode nos fornecer pistas preciosas, quando a razão, os sentimentos e as sensações... que são as outras formas de conhecimento existentes - não nos bastam para uma conclusão", diz a psicóloga Virgínia Marchini (SP). Estudos têm contribuído para fixar esse conceito. Um exemplo é a pesquisa conduzida pela Universidade de Oxford (EUA), que investigou 3.890 casos de atendimento pediátrico com pacientes de 0 a 16 anos. Nas consultas em que os médicos respeitaram a própria intuição, os tratamentos foram bem mais eficientes. Que tal aprender a afinar a sintonia entre o racional e o inconsciente para receber avisos e usá-los a seu favor? Siga estas dicas e ative a conexão!

Antes de tudo, acredite!

Temos o impulso de desconsiderar aquilo que julgamos pouco confiável. E é numa dessas vezes que você pode deixar os chamados da sua intuição no modo mute (mudo). "Se eu acredito, fico mais atento aos avisos intuitivos", afirma Nivaldo Scrivano (SP), especialista no desenvolvimento de talentos humanos. A psicóloga Maura de Albanesi (SP) complementa: "A intuição é como aquela nossa amiga que vive nos aconselhando, mas nunca a ouvimos. Até que um dia ela desiste de insistir e se cala. Portanto, dê voz a ela", recomenda.

Coloque a sua intuição à prova

Se você ainda tem um pé atrás com o tema, proponha-se um período de experiência. "Identifique quando aparecer um lampejo intuitivo e guarde-o na memória ou anotado num caderninho. Depois, independentemente da atitude que tenha tomado, avalie se o conselho ofertado faria diferença no desfecho que obteve", sugere Nivaldo. Aos poucos, você vai desenvolvendo confiança para utilizar esse dado complementar no panorama que estiver enfrentando.

Abra os seus ouvidos

Algumas pessoas chegam em casa e já ligam a TV, por puro hábito. Enquanto o programa passa, elas checam o celular, comem, varrem a casa... "Se algo bom estiver passando e o indivíduo fizer uma pausa para ouvir, pode absorver a informação e utilizá-la depois. Mas, se usa o barulho da TV só como som de fundo, não vai captar nada", afirma Nivaldo. O mesmo vale para a intuição. Invista no silêncio e na concentração quando estiver em busca de uma luz. Do contrário, o clarão pode passar despercebido.

Não seja tão literal

A intuição não traz mensagens 100% claras e fundamentadas. Como não vem de um conhecimento racional, é sutil e até subjetiva. "Ela costuma se manifestar por meio dos sonhos, de coincidências e até das nossas sensações", conta Virgínia. A expert orienta os seus pacientes a pedir que os sonhos lhe ajudem a tomar decisões. "Depois é preciso interpretar a mensagem com calma. Por exemplo: uma pessoa que está em dúvida se aceita ou não uma proposta de trabalho e sonha que está dirigindo numa estrada esburacada. Pode ser que o ato de dirigir represente a própria vida e que, naquele momento, dizer 'sim' ao novo emprego não seja a melhor alternativa, pois ela terá complicações no percurso", simula. Em resumo, tente encaixar a situação no cenário emocional no qual está inserida.

Conheça (bem) as suas emoções

É comum confundirmos intuição com outros sentimentos, como o medo. Daí, usamos o frio na barriga como desculpa para não agir. "Esse tipo de emoção confunde o nosso potencial intuitivo. Outro sentimento que nos confunde é o desejo. A pessoa quer quanto que algo dê certo que acha que é a intuição falando alto. Mas, na verdade, não é", diz Virgínia. Como fazer a diferenciação? Investindo no autoconhecimento.

Relaxe um pouco

A ansiedade e o estresse comprometem a intuição. Por isso, na maioria das vezes, os insights ocorrem enquanto a pessoa realiza uma atividade prazerosa. "É quando ela se entrega e permite que a sua voz interna venha à tona", explica Virgínia.

X da questão

Enquanto o conhecimento racional está baseado em fatos e análises conscientes, a intuição se apresenta como um pressentimento inquietante, cuja fonte é o nosso inconsciente.

Intuição feminina

É verdade que as mulheres, sobretudo as mães, têm essas habilidades mais afloradas. Porém, os homens, que culturalmente foram forçados a desenvolver mais o lado racional, também podem ser intuitivos. "No caso da mãe, a intuição que ela tem com o filho se reforça graças à conexão afetiva que eles nutrem desde a gestação. A mulher fica com os radares ligados no que diz respeito á cria", pontua Maura. "Estudos iniciados durante a Segunda Guerra Mundial mostraram que as mães de soldados sabiam intuitivamente se os filhos estavam vivos ou não. Muitas vezes afirmavam o dia e o momento em que algo ruim havia acontecido com eles", diz Virgínia.




(texto publicado na revista Máxima edição 60 - ano 5 - nº 12 - maio de 2015)


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