quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Da depressão ao pódio - Lucas Faraldo


Rafaela Silva, Diego Hypolito e Poliana Okimoto tiveram de superar o distúrbio para ganhar medalha na Rio 2016. São exemplos de superação que podem ajudar outros pacientes

Rafaela Silva, Diego Hypólito e Poliana Okimoto, além das medalhas conquistadas na Rio 2016, têm ao menos mais uma semelhança: superaram diagnósticos de depressão para chegar ao pódio no maior evento esportivo do planeta. E podem agora servir de inspiração - e salvação - para pacientes que sofrem do distúrbio.

Antes de mais nada, é importante enfatizar que depressão não é "frescura". Baixa autoestima, perda de interesse em muitas atividades e dores sem motivo aparente levam ao suicídio até 7% dos adultos diagnosticados, segundo estudo publicado em 2014 pela Universidade de Oxford, dos Estados Unidos.

Sempre que um atleta é confrontado com desafios, ele acaba sofrendo um bloqueio. Para superar as provas, tem de impedir que os acontecimentos ruins voltem à tona - explica Vinicius Hirota, professor de educação física com ênfase em desenvolvimento humano.

E bloqueios dos mais diversos foram superados por Rafaela, Diego e Poliana. A judoca, vítima de ataques nas redes sociais após ser derrotada em Londres 2012, se afastou dos tatames, pois só conseguia chorar ao pensar em judô. O ginasta foi demitido do Flamengo depois de falhar em Pequim 2008 e Londres, perdeu dez quilos e foi hospitalizado por conta de ansiedade elevada. A nadadora, que abandonou a prova da maratona aquática em 2012 com quadro de hipotermia, cogitou encerrar sua carreira antes da Rio 2016.

- A depressão ameaça não só a carreira esportiva de uma pessoa, mas a própria vida dela - sintetiza Eduardo Cillo, psicólogo esportivo.

- Esse exemplo dos medalhistas é fantástico. Quantas medalhas foram concorridas em mais de 100 anos de Olimpíadas? Pouquíssimas comparadas ao número de competidores. Isso é uma história de superação, mostra que os atletas sofreram, mas treinaram, se dedicaram e aí o resultado foi positivo - aponta Hirota.

E o que são esses atletas senão pessoas dando a volta por cima em algo no qual sentem prazer em praticar? É justamente nisso que pacientes diagnosticados com depressão podem se espelhar. Afinal, também são pessoas buscando superação.

- As medalhas desses atletas têm um valor muito grande para uma pessoa que está passando por dificuldade - diz Cillo, que complementa:

- O que mais emociona na história desses três esportistas é ver que o momento ruim ou o momento no qual não vemos saída ou esperança não é necessariamente o fim. É um momento. Se tiver paciência, cuidado, a gente pode sair dessa situação e voltar a ter momentos de felicidade plena na vida. Isso não só para o atleta, mas para qualquer pessoa. Isso é emocionante, dá esperança.


(texto publicado no jornal Lance! o diário da olimpíada de 18 de agosto de 2016)

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