sábado, 6 de agosto de 2016

Elogiar: sim ou não? - Profa. Dra. Maria Regina Ramos de Andrade


É bom elogiar alguém quando faz algo útil e bem feito, ou será que o elogio só o levará a envaidecer-se?

É voz corrente no meio espírita que não se deve elogiar alguém pelo seu trabalho, principalmente mediúnico, pois isso poderá prejudicá-lo. A partir desse pensamento, muitos generalizam e tornou-se voz corrente condenar todo elogio como sendo perigoso.

Saindo do terreno da opinião, analisemos o que a Psicologia tem a dizer sobre o assunto.

Existem, sim, elogios prejudiciais. Outros, porém, são bons e necessários.

Os prejudiciais são aqueles que se dirigem á personalidade da pessoa.

Tais elogios tendem a provocar conflitos internos e sentimentos de culpa porque o conceito que a pessoa tem de si pouco ou nada tem a ver com o conteúdo do elogio.

- Que bom que você arrumou a cama! Você é mesmo um menino muito bonzinho" (dito para uma criança).

- Você é o melhor médium desta casa (dito para um adulto, médium).

Elogios dirigidos à personalidade tendem a criar tensões e ansiedade nas crianças, pois o "menino bonzinho", que não é sempre "bonzinho" e sabe disso vai manter uma imagem de mentira, que não sente como sua, apenas para que sua mãe - se autora do elogio - continue a gostar dele. Na fantasia da criança, sua mãe não conseguiria gostar dele do jeito que ele se sente ("bonzinho" - às vezes - e, com grande frequência, "uma peste").

Um elogio à personalidade é como uma pitada de fermento para as ideias negativas que a pessoa faz de si própria.

Em um adulto, pode incentivar o tipo de resposta vazia, de falsa modéstia, favorecer a pessoa a sentir-se uma fraude ou, em alguns lamentáveis casos, ajudá-la, se já meio perturbada, a "se achar a cereja do bolo". Está aí o temido incentivo à vaidade.

Todo ser humano precisa ser amado e compreendido de modo real: é falta de respeito para com ele projetar-lhe um rótulo, por melhor que seja. Elogios deste tipo não aumentam a confiança da criança ou do adulto em suas possibilidades, nem lhe trazem segurança.

O elogio que faz bem é aquele que leva a pessoa a ver-se forte, responsável e capaz de fazer coisas buscando-se na realidade. Quando uma menina ajuda a mãe a limpar a cozinha, o desejável será a mãe referir-se apenas ao esforço que a filha fez e ao ótimo resultado que obteve. Assim, por exemplo, Ana Lúcia, de 14 anos, lavou e guardou a louça do almoço para a sua mãe e varreu a cozinha. A mãe ficou grata e satisfeitíssima.

- Havia tanta louça e tanta sujeira no chão! Não pensava que essa cozinha poderia ser limpa só em uma hora! 

- Eu fiz tudo sozinha, mãe.

- Valeu filha, tinha quatro panelas e tantos copos e pratos!

- Eu lavei tudo caprichado, sequei e guardei no armário.

- Uau, bom serviço!

- É isso aí, falôôô! (sorrindo)

- A cozinha está agora tão em ordem que dá gosto de ver. Obrigada, Nalú.

- Oi mãe, tudo bem, só não vai acostumar! (com um sorriso alegre)

O diálogo acima mostra que Ana Lúcia ficou satisfeita e orgulhosa com o seu esforço e habilidade. Isso elevou ao bom conceito que faz de si mesma de modo realista. Se a mãe em vez de falar daquele modo elogiasse a personalidade da filha com qualquer uma das frases abaixo, isso não ocorreria.

- Você é mesmo a ajudante querida da mamãe!

- Madalena, você é sempre tão atenciosa! Obrigada.

- Você é mais caprichosa do que Maria, parabéns.

- Você tem talento para escrever, embora ainda lhe falte bastante treino.

- Você é um amor de rapaz!

Elogios úteis e construtivos são aqueles que se referem com sinceridade ao que a pessoa fez, descrevendo de algum modo sua ação. Exprimem também nosso sentimentos, nosso envolvimento pessoal diante do que aconteceu. Elogios deste tipo podem ser utilizados sem temor. Além de serem bem aceitos, ajudam a pessoa a perceber-se de modo mais realista, trazendo-lhe maior segurança emocional. Adultos e crianças precisam sempre de elogios, assim, de tipo feedback, beneficiando-se muito com eles.

O conceito que uma pessoa faz de si depende muito das avaliações realistas e positivas que recebe dos outros pelas ações que executa. Por meio do comportamento de elogiar, pode-se perceber o quanto as palavras são poderosas: São forças vivas que traduzem ideias e tomam forma e corpo em outras mentes!

A necessidade de autoconhecimento acompanha-nos a todos, seres humanos em evolução na Terra, por toda a vida. Ajudar aos outros a se conhecerem melhor é um importante gesto de amor que se pode, com facilidade, aprender a exercitar. Elogiar bem, só faz bem!

Concluindo, fazemos nossas as palavras de Emmanuel: "Insuflemos nos ouvidos alheios a tranquilidade que ambicionamos e falemos dos outros aquilo que desejamos que os outros falem de nós" (XAVIER, 1973, p. 235).


(texto publicado na revista Seareiro nº 124 - ano 21 - nov/dez de 2012)

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