domingo, 14 de agosto de 2016

Tumbas na rede - Tatiana Izquierdo


Depois de mapear quase 100% das ruas da capital, o Google Street View chega às quadras dos cemitérios

Assim que o engenheiro Tomás Nora passa pelo número 666 da Avenida Doutor Arnaldo e põe os pés no Cemitério do Araçá, na Zona Oeste, dois gatos pretos cruzam seu caminho e baratas escondem-se nas tumbas, enquanto ele caminha a passos lentos. Leva nas costas os 20 quilos de uma mochila com um aparelho chamado trekker. Trata-se de uma colmeia de quinze câmeras, apontadas para diversas direções do terreno. Por ali, há 29 000 sepulturas em 222 000 metros quadrados. Depois de cinco dias de trabalho, realizado no começo deste mês, deu por encerrada a missão de capturar as imagens de cada alameda do local. A ideia é desbravar por aqui a mais nova fronteira do Google Street View, ferramenta com a qual o gigante da internet permite passeios virtuais por cidades ao redor do mundo. Em São Paulo, a tecnologia lançada em 2007 expandiu-se, aos poucos, por praticamente 100% das ruas, incluindo favelas e até estádios. A coisa continua avançando, já que o objetivo é estar em todos os lugares públicos.

Seguindo essa lógica, faltava ainda mapear os cemitérios. "Além de serem locais que sempre atraem muita curiosidade, muitos têm valor cultural, porque abrigam obras de artistas como Eugenio Prati e Victor Brecheret", explica Nora, coordenador-geral do projeto. As imagens do Araçá deverão estar disponíveis no site até o fim deste mês. Durante a captação, foi preciso aguardar enterros e velórios, de modo a evitar situações mórbidas, o que atrasou o processo. A produção envolveu uma dupla de operadores além de Nora. Houve dificuldades na hora de escalar o time. "Não é todo mundo da equipe que gosta de passar dias inteiros em meio às tumbas", diz o engenheiro. Próximas paradas: cemitérios da Consolação e São Paulo (em Pinheiros).


(texto publicado na Veja São Paulo de 28 de outubro de 2015)

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