Depois de patinar em atrações que limitavam seu poder de fogo, Marcelo Adnet encontrou em Marcius Melhem o parceiro ideal, para reviver a tradição de programas como o extinto TV Pirata
A amizade entre os comediantes Marcius Melhem, 42, e Marcelo Adnet, 32, nasceu há dez anos. Em 2004, Marcius foi convidado para integrar o espetáculo teatral de Adnet, Zenas Emprovisadas. A partir de então, ao menos no último dia de temporada anual, Marcius sobe ao palco para também fazer comédia. Apesar dos dez anos a mais de idade e dos caminhos diversos trilhados por ambos, Melhem e o parceiro, revelado na grade da MTV, em 2008, com o programa 15 Minutos, sempre esbanjaram afinidades.
Jornalista de formação, mas humorista por convicção Melhem é figura assídua, há mais de dez anos, na grade televisiva da Rede Globo, em programas populares, como Zorra Total. E foi no humorístico que ele fortaleceu parceria anterior com Leandro Hassum. Em referência clara a O Gordo e o Magro, eles criaram a dupla Pedrão e Zoinho e emplacaram um programa autoral, Caras de Pau, na emissora carioca, entre 2007 e 2010.
Contratado pela emissora carioca em 2013, Adnet encarou esquetes no Fantástico, como as hilárias paródias de videoclipes de artistas como Ney Matogrosso e Maria Bethânia e experimentou o protagonismo com o Dr. Paladino, da série O Dentista Mascarado. Com os índices de audiência mais para dramalhão do que para comédia, a direção da Rede Globo tratou de mandar Adnet para a geladeira. Injustamente, afinal, as primeiras tentativas, incipientes e engessadas, não permitiam a ele exercitar seu talento inato. Situação revertida, a partir de 10 de abril último, quando teve início a primeira temporada do humorístico Tá no AR: a TV na TV, estrelado por Marcius e Adnet.
Sem reinventar a roda, mas eficaz e divertido, o programa faz uma série de colagens metalinguísticas e alucinadas de esquetes, que vão desde paródias de comerciais famosos - como a polêmica campanha de Roberto Carlos para a Friboi, transformada em "freebode e freebofe" - a programas do jornalismo mundo-cão, como o Jardim Urgente, no qual espécie de José Luiz Datena trata de "crimes" terríveis cometidos por criancinhas tiranas. Outro momento impagável é a sátira A Galinha Preta Pintadinha, versão afrodescendente, praticante de umbanda e candomblé, da série de animação infantil A Galinha Pintadinha. Em uma dessas paródias, a cantiga de roda Samba-Lelê teve o refrão subvertido com a frase: "Bate um atabaque pro erê/Bate um ponto pro Orixá". Outro destaque é a intervenção copiosa de um guerrilheiro de esquerda, interpretado por Adnet, com forte sotaque nordestino, que invade a transmissão do programa para criticar a alienação cultural provocada pela emissora carioca. No penúltimo episódio da primeira temporada, depois de ser exibida uma piada com o teatro alternativo, bradou, em tom arretado e indignado: "Mas isso é uma vergonha! A Rede Globo está contribuindo, de maneira irresponsável, para o extermínio do teatro de vanguarda em nosso País!".
"Pela versatilidade e criatividade dele nesse terreno pop, Adnet é o parceiro ideal para essa jornada. O programa faz algo que eu sempre quis fazer na vida: usar o humor como subversão. Levantar questões que se colocam na sociedade e dialogam com o que acontece no País e no mundo." O relato de Melhem foi registrado em entrevista à Brasileiros uma semana antes de ser exibido o último episódio da primeira temporada de Tá no AR: a TV na TV, no dia 5 deste mês de junho (Adnet encarava extensa agenda de compromissos e não tivemos sucesso em falar com ele).
Apesar do fim da atração, Melhem tem mesmo motivos de sobra para comemorar. O programa deu bons índices de audiência e parece ter caído no gosto de um público carente de humorísticos, como TV Pirata e Casseta & Planeta, que marcaram época justamente por apostar no ímpeto transgressor. Drietor da atração e também da sitcom Entre Tapas e Beijos, Maurício Farias reverbera o entusiasmo de Melhem: "De um lado temos Adnet, esse grande comediante, com um repertório bem diverso do humor feito na Globo. Do outro, temos Marcius, um talento incrível para fazer coisas populares com qualidade. O fato de a gente ter feito grande sucesso já na primeira temporada, aparentemetne tem a ver com o interesse do público na volta desse humor ácido que fala abertamente, faz rir e provoca".
Escrito a nove mãos por Adnet, Melhem, Alexandre Pimenta, Angélica Lopes, Leonardo Lanna, Wagner Pinto, Thiago Gadelha, Maurício Rizzo e Daniela Ocampo, o programa voltará à grade semanal em janeiro de 2015. Segundo Marcius, com total autonomia para continuar anarquizando: "Nossa liberdade foi discutida desde o primeiro minuto que sentamos para apresentar a ideia do Tá no Ar, pois o programa não existiria, ou não faria o menor sentido, se não fosse feito com liberdade. Vendemos nosso peixe para a direção da casa, a coisa deu certo e, lógico, estamos, agora, absolutamente felizes com a perspectiva da segunda temporada".
Sem reinventar a roda, mas eficaz e divertido, o programa faz uma série de colagens metalinguísticas e alucinadas de esquetes, que vão desde paródias de comerciais famosos - como a polêmica campanha de Roberto Carlos para a Friboi, transformada em "freebode e freebofe" - a programas do jornalismo mundo-cão, como o Jardim Urgente, no qual espécie de José Luiz Datena trata de "crimes" terríveis cometidos por criancinhas tiranas. Outro momento impagável é a sátira A Galinha Preta Pintadinha, versão afrodescendente, praticante de umbanda e candomblé, da série de animação infantil A Galinha Pintadinha. Em uma dessas paródias, a cantiga de roda Samba-Lelê teve o refrão subvertido com a frase: "Bate um atabaque pro erê/Bate um ponto pro Orixá". Outro destaque é a intervenção copiosa de um guerrilheiro de esquerda, interpretado por Adnet, com forte sotaque nordestino, que invade a transmissão do programa para criticar a alienação cultural provocada pela emissora carioca. No penúltimo episódio da primeira temporada, depois de ser exibida uma piada com o teatro alternativo, bradou, em tom arretado e indignado: "Mas isso é uma vergonha! A Rede Globo está contribuindo, de maneira irresponsável, para o extermínio do teatro de vanguarda em nosso País!".
"Pela versatilidade e criatividade dele nesse terreno pop, Adnet é o parceiro ideal para essa jornada. O programa faz algo que eu sempre quis fazer na vida: usar o humor como subversão. Levantar questões que se colocam na sociedade e dialogam com o que acontece no País e no mundo." O relato de Melhem foi registrado em entrevista à Brasileiros uma semana antes de ser exibido o último episódio da primeira temporada de Tá no AR: a TV na TV, no dia 5 deste mês de junho (Adnet encarava extensa agenda de compromissos e não tivemos sucesso em falar com ele).
Apesar do fim da atração, Melhem tem mesmo motivos de sobra para comemorar. O programa deu bons índices de audiência e parece ter caído no gosto de um público carente de humorísticos, como TV Pirata e Casseta & Planeta, que marcaram época justamente por apostar no ímpeto transgressor. Drietor da atração e também da sitcom Entre Tapas e Beijos, Maurício Farias reverbera o entusiasmo de Melhem: "De um lado temos Adnet, esse grande comediante, com um repertório bem diverso do humor feito na Globo. Do outro, temos Marcius, um talento incrível para fazer coisas populares com qualidade. O fato de a gente ter feito grande sucesso já na primeira temporada, aparentemetne tem a ver com o interesse do público na volta desse humor ácido que fala abertamente, faz rir e provoca".
Escrito a nove mãos por Adnet, Melhem, Alexandre Pimenta, Angélica Lopes, Leonardo Lanna, Wagner Pinto, Thiago Gadelha, Maurício Rizzo e Daniela Ocampo, o programa voltará à grade semanal em janeiro de 2015. Segundo Marcius, com total autonomia para continuar anarquizando: "Nossa liberdade foi discutida desde o primeiro minuto que sentamos para apresentar a ideia do Tá no Ar, pois o programa não existiria, ou não faria o menor sentido, se não fosse feito com liberdade. Vendemos nosso peixe para a direção da casa, a coisa deu certo e, lógico, estamos, agora, absolutamente felizes com a perspectiva da segunda temporada".
(texto publicado na revista Brasileiros nº 83 - junho de 2014)
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