domingo, 19 de julho de 2015

Papa Francisco e o óleo de cozinha - Edcarlos Bispo


Você já fritou um pastel em casa? E um bolinho de chuva? O óleo usado foi parar no ralo ou teve um outro fim?  Antes que você se pergunte se esta será uma matéria sobre culinária, a resposta é: não. Esta é uma matéria sobre a encíclica do Papa Francisco, a Laudato sì. Lançada em 18 de junho, a carta do Santo Padre fala sobre o meio ambiente e o cuidado com a "casa comum".

Na sua Encíclica, o Papa propõe mudanças de comportamento em relação ao meio ambiente. Essas mudanças devem afetar grandes governos e poderes econômicos, assim como, de forma geral, toda a população mundial, para que entenda que cuidar da natureza é o papel de qualquer ser humano.

Nessa lógica, cada pessoa deve ser responsável por reduzir o consumo e colaborar para a preservação do meio ambiente. "Uma mudança nos estilos de vida poderia chegar a exercer uma pressão salutar sobre quantos detêm o poder político, econômico e social. Verifica-se isso quando os movimentos de consumidores conseguem que se deixe de adquirir determinados produtos e assim se tornam eficazes na mudança do comportamento das empresas, forçando-as a reconsiderar o impacto ambiental e os modelos de produção. É um fato que, quando os hábitos da sociedade afetam os ganhos das empresas, estas se veem pressionadas a mudar a produção. Isso lembra-nos a responsabilidade social dos consumidores. 'Comprar é sempre um ato moral, para além de econômico'. Por isso, hoje, 'o tema da degradação ambiental põe em questão os comportamentos de cada um de nós", escreve o Papa em trechos da Encíclica.

Para Tânia Cristina Gonçalves Pereira, 42, moradora da zona norte de São Paulo, a prática de reutilizar e diminuir o consumo é algo antigo. Desde os potes de sorvete, aos copos de requeijão, tudo é reutilizado em sua casa. A prática, de acordo com ela, "ajuda o meio ambiente e, também, nos custos de casa".

Tânia não possui uma ideia exata de valores que economiza ao longo do ano, mas acredita ser mais que R$ 50,00, o que contribuiu para "o pagamento de uma conta mensal de água", afirma. Mãe de uma menina de 11 anos, Tânia conta que a filha já aprendeu a importância de guardar e reutilizar as coisas e, sobretudo, evitar o lixo desnecessário.

Mas o que o óleo de cozinha tem a ver com isso?

Dentre as coisas que Tânia reutiliza em sua casa está o óleo usado. Ela, assim como alguns brasileiros, aprendeu a dar um outro fim, que não o ralo da pia a esse material que pode causar entupimento das tubulações, além de ser um produto que prejudica o solo, a água, o ar e a vida de muitos animais.

Conforme dados da Sabesp, um litro de óleo de fritura pode contaminar até 25 mil litros de água. Se acabar no solo, o líquido pode impermeabilizá-lo, o que contribui com enchentes e alagamentos. Além disso, quando entra em processo de decomposição, o óleo libera o gás metano que, além do mau cheiro, agrava o efeito estufa.

Tânia recolhe o óleo usado e encaminha para sua mãe ou para sua vizinha que fazem um sabão caseiro, usado para lavar louça. Mas essa é apenas uma das destinações dadas ao produto. Para evitar que o óleo de cozinha usado seja lançado na rede de esgoto, cidades, instituições e pessoas de todo o mundo, têm criados métodos para reutilizá-lo. As possibilidades são muitas: produção de resina para tintas, sabão, detergente, glicerina, ração para animais e até biodiesel.

Há na cidade de São Paulo diversos lugares que recolhem o óleo usado, além de receitas na internet para fazer o sabão caseiro. Para saber mais, acesse: www.ambiente.sp.gov.br ou www.oleosustentavel.org.br.




(texto publicado no jornal O São Paulo edição 3059, ano 60 - 8 a 14 de julho de 2015)

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