sábado, 25 de julho de 2015

Fundamentos psicossomáticos da asma brônquica - Dr. Norberto Keppe


Existe relação entre os distúrbios psíquicos e a asma brônquica?

Em nossos trabalhos com os doentes do Hospital das Clínicas de São Paulo, temos encontrado, não apenas confirmação de teorias de autores nacionais e estrangeiros, em medicina psicossomática, mas também formulado hipóteses, que se têm mostrado válidas, para efeito de tratamento.

Em nossa opinião, todo indivíduo doente com asma brônquica possui uma personalidade extremamente infantil, que o leva a uma exagerada dependência, seja aos familiares, ou aos que lhe são próximos.

M. L. A., com 35 anos de idade, sofria de asma brônquica havia 30 anos. Encaminhada para tratamento psicanalítico, apresentou os seguintes sinais neuróticos: era solteira, repudiava o sexo, e vivia com uma irmã, 4 anos mais velha.

Trabalhava numa repartição pública, e raramente saía de casa para passear - a não ser em companhia da mana. Aliás, não fazia nada, sem lhe pedir conselhos, o que equivale dizer que substituíra a mãe por ela, sendo incapaz de assumir responsabilidades.

Ela fez sessões semanais de psicoterapia de grupo, durante quatro meses seguidos. Criou atritos graves com a irmã, mudou-se para um apartamento na cidade de Santos, transferindo seu trabalho para lá.

À medida que conseguia essa autonomia, seus sintomas foram passando, deixando de comparecer ao hospital.

Não é fora de propósito mostrar como a doença servia de pretexto para M. L. A. provocar o afeto da irmã, repetindo-se a situação infantil de seus 5 anos de idade, ocasião em que falecera sua mãe. Deste modo, a paciente pretendia permanecer eternamente nessa fase, recusando-se a tomar uma atitude adulta.

O doente portador de asma brônquica tem pronunciado sentido de autodestruição. Não são poucos aqueles que, numa situação difícil, deixam de apresentar os seus sintomas típicos.

Pelos conceitos da medicina psicossomática, a doença faz parte de uma personalidade masoquista, porque vem sanar em grande quantidade os seus sentimentos neuróticos de culpas. Por este motivo, em ocasiões de crise política, de guerra ou revoluções, o povo adoece menos.

O soldado no front de batalha, em situação higiênica adversa, apresenta geralmente menor número de doenças, principalmente as de nítido fundamento emocional.

A doença tem uma finalidade. Ela sempre surge quando os mecanismos psicológicos de defesa falharam completamente. Enquanto houver esperança de conseguir realizar seus fins, pelos caminhos normais, o indivíduo permanecerá livre dela, porém, quando eles falharem, lançará mão dos meios drásticos.

R. L. sofre de asma há seis anos. Encaminhada para a psicoterapia, revelou que seus sintomas surgiram, depois que notou um certo desinteresse do marido pelos seus problemas.

Ele foi aos Estados Unidos da América, a fim de ganhar melhor. Permaneceu lá oito meses, voltou, e agora pretende novamente seguir para aquele país. Quando R. L. soube disso, veio desesperada às sessões de análise. Depois de quinze dias, apresentou um caroço no ombro. Durante o período de dez dias, à espera da operação, declarou que jamais tivera a menor dificuldade com as vias respiratórias.

Na última sessão de psicoterapia de grupo, disse textualmente:
- Será que nem com esse tumor, meu marido desistre de ir aos Estados Unidos?"

É claro que é muito fácil ver a etiologia de uma doença psíquica nos outros, mas basta ser um pouco objetivo, para qualquer um de nós notar que usamos de inúmeras moléstias para conseguir certos fins.

Outro fator característicos no asmático é a sua incapacidade de amar. Quando mulher, e casada, raramente chega ao orgasmo em suas relações sexuais. Quando homem, tem dificuldade para se resolver casar, ou tem uma impotência sexual parcial ou total. São extremamente castrados, isto é, incapazes de tomar decisões sérias.

No entanto, o doente com asma brônquica oferece as mesmas dificuldades para psicoterapia, que os outros indivíduos que somatizaram seus distúrbios psíquicos.



(texto publicado no jornal Stop nº 62 - abril/maio de 2012)




Nenhum comentário:

Postar um comentário