segunda-feira, 20 de julho de 2015

Paulistana nota dez: Marika Gidali - Carolina Giovanelli


Nome: Marika Gidali
Profissão: empresária e diretora do Ballet Stagium
Atitude transformadora: criou o Projeto Joaninha,cujos cursos beneficentes de dança já receberam mais de 1.000 jovens de baixa renda

Nascida em Budapeste, na Hungria, Marika Gidali veio para o Brasil quando tinha 10 anos. Seus pais, judeus, ainda receosos por causa da situação difícil que enfrentaram durante a II Guerra Mundial, resolveram sair da Europa. Por aqui, a menina começou a frequentar aulas de balé e aperfeiçoar sua técnica. Chegou a integrar companhias importantes a exemplo do Corpo de Baile do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, e trabalhar com figuras reconhecidas na área, como Renée Gumiel. Em 1971, ela juntou-se ao marido, o bailarino mineiro Décio Otero, na direção de uma empreitada que dura até hoje: o Ballet Stagium, um dos principais grupos do Brasil.Com o elenco, fez turnês por cantos esquecidos do país e viu a cultura fazer diferença na vida da plateia. "Depois disso, nunca mais subimos no palco por exibicionismo, queríamos sempre dialogar com o público", lembra. "Dar é muito fácil. Para receber, porém, precisa ter modéstia."

O contato com crianças teve início nos anos 90, quando a trupe passou a se apresentar em escolas públicas. Marika, hoje com 78 anos, foi então convidada a colaborar com a antiga Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor (Febem), onde coordenou por sete anos cerca de sessenta professores, encarregados de ensinar dança aos infratores em todas as unidades paulistas. Pensando em como poderia evitar que os garotos fossem parar ali, fundou, em 2000, ao lado do marido, o Projeto Joaninha, responsável por promover cursos de danças contemporânea e clássica, além de esgrima e capoeira, para jovens de baixa renda.

O projeto começou na sede do Ballet Stagium, na Rua Augusta. Cinco anos depois, mudou-se para um espaço maior, do governo estadual, na Zona Sul, de onde precisou sair em outubro por causa da instalação no local do Centro Paralímpico Brasileiro. Agora, o grupo voltou para os Jardins. "Não penso apenas em formar bailarinos, mas cidadãos", diz. Os cursos chegaram a atender 300 jovens ao mesmo tempo. Atualmente, são setenta. Eles ingressam com idade entre 7 e 11 anos. Às vezes, participam de até cinco aulas por semana, durante mais de uma década. Já foram acolhidos mais de 1.000 aprendizes. Alguns viraram professores e profissionais do ramo. "Sei que posso ajudar muito mais, só preciso de oportunidades", lamenta ela, que há oito anos banca o projeto sem patrocínio. "Não é um trabalho voluntário, mas uma opção de vida."



(texto publicado na Veja São Paulo  de 1º de julho de 2015)

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