quarta-feira, 22 de julho de 2015

Sem vergonha - Lucas Tauil de Freitas


Precisamos encarar os problemas que nos cercam. Somente pela união será possível mudar essa história

Quando a gente deixa nossa casa e se larga no mundo, abrem-se horizontes, passamos a ver além de nossa cultura - formas diferentes de pensar, novos hábitos e costumes.  Desde que soltamos as amarras em 2003 e começamos a velejar, essa tem sido a regra. E nos deparamos com outras visões de mundo e nos maravilhamos com as comunidades tradicionais que encontramos pelo caminho.

Nos últimos anos, porém, tenho me surpreendido com algo inesperado: uma globalização no modo de pensar, uma pasteurização de mitos. Em quase todas as sociedades urbanas onde aportamos, percebo um mesmo mito. E ele, de uma maneira resumida, dita que nossa espécie está no planeta para dominar a natureza e usá-la para crescer, indefinidamente. Em guerra com o meio ambiente e as demais espécies, não levamos em conta o fato de que vivemos em um planeta com recursos finitos.

Por mais que cresçam as evidências do dano que causamos ao planeta e à nossa própria continuidade, nenhum de nossos líderes propôs um caminho sólido que leve em consideração as gerações futuras.

Nossa escolha de matriz energética amplia a temperatura da atmosfera, o que desdobra em aumentos de tempestades, secas e enchentes. Os resíduos industriais e urbanos comprometem nossos recursos hídricos e o ar que respiramos. Nossa população cresce desenfreadamente, e para alimentar a todos envenenamos os campos. Muito do que é comum - e não propriedade particular - está em abandono. Pela ganância de poucos, o modelo de desenvolvimento sabota a sustentabilidade de nossa espécie.

Estamos decepcionados com nosso comportamento, mas ainda assim não conseguimos mudar. Aí, fica a verdadeira armadilha. Para sobreviver, cuidamos apenas do nosso quintal, enquanto a vizinhança naufraga. Atitude infértil à mudança da qual depende nossa sobrevivência.

O horizonte é tempestuoso, mas confesso que sigo bastante otimista. Não acredito que o medo, a vergonha, a paralisação ou mesmo o pânico possam nos ajudar a escapar da borrasca.

Vejo, todos os dias, uma quantidade considerável de movimentos e organizações em busca de caminhos e, principalmente, de soluções para nossos desafios. Pessoas brilhantes engajadas em objetivos do grupo e não apenas em sucesso individual.

Desviar o olhar dos nossos umbigos e agir em comunidade me parece ser a saída para quebrar a bola de neve da culpa e da vergonha. Só assim vamos reescrever essa história.




(texto publicado na revista Vida Simples nº 145 - junho de 2015)

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