segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Paulistana Nota Dez - Adriana Farias


Nome: Clara Haddad
Profissão: contadora de histórias
Realidade que transformou: oferece oficinas de narração de contos em escola pública

Clara Haddad, de 40 anos, cresceu em uma família de descendentes de libaneses no bairro de Santo Amaro, na Zona Sul, ouvindo a avó narrar os mais diferentes contos. Eram trechos de As Mil e Uma Noites, coleção de escritos dos séculos XIII a XVI da literatura árabe, e relatos sobre a fuga dela para o Brasil a bordo de um navio durante a II Guerra Mundial (1939-1945). Sua vivência nesse universo levou Clara a se profissionalizar como atriz e contadora de histórias e criar, em 2012, o projeto social Jovens Narradores - Descobrindo Novos Horizontes na escola pública Professor Airton Arantes Ribeiro, no Jardim São Luís, onde sua irmã e parceira da empreitada, Sandra, 52, dá aulas. Um dos objetivos do programa é estimular o senso crítico dos alunos e sua participação na comunidade.

Com oficinas de contação, projeção vocal, expressão corporal, escrita e leitura, atualmente 200 crianças de 11 a 15 anos estão envolvidas na ação. O trabalho, desde seu início, beneficiou ao menos 800 alunos. Um deles é Vinícius Serafim Siqueira, de 14 anos. Antes um menino tímido, que mal se comunicava, é um dos destaques da turma e chegou a ganhar o prêmio de melhor artista do colégio em 2015. "Eu me sinto uma pessoa mais segura, sonho grande com a vida", diz o estudante. "Conto histórias para a minha mãe e os meus primos." Ele também passou a frequentar casas de idosos para alegrá-los transmitindo sua arte.

Os encontros no centro de ensino ocorrem, por exemplo, na sala de leitura até três vezes por semana com duração total de quatro horas. Neste ano, serão trabalhadas as temáticas de contos de países lusofônicos, ou seja, que têm o português como língua oficial. No primeiro semestre, o curso é ministrado por Sandra. No segundo, é a vez de Clara, que mora em Portugal há dez anos e retorna sempre nesse período para dar continuidade à empreitada. "O ganho é enorme, pois os alunos conseguem se pôr na situação vivida pelas personagens e aprendem a superar obstáculos", explica. "A autoestima cresce, e eles passam a se posicionar na comunidade."


(texto publicado na revista Veja São Paulo de 16 de março de 2016)

Nenhum comentário:

Postar um comentário