quarta-feira, 9 de julho de 2014

Prazer em ler - Ana Carolina Contri e Mari Bellini


Colecionadores de livros e revistas mostram que a tecnologia ainda não conseguiu superar o hábito da leitura à moda antiga

Uma pergunta não quer calar: será que as mídias digitais dominarão o mundo? A expansão de e-books e o barateamento de tablets e computadores portáteis permitem a leitura virtual. Mas contrariando todas as pesquisas, muitos brasileiros e cidadãos pelo mundo afora continuam mantendo acesa sua paixão pelos livros e cuidam com todo carinho de verdadeiras relíquias em suas bibliotecas particulares. Basta dar uma volta pelo planetinha azul e descobrir algumas delas, verdadeiramente incríveis!

Confira nesta matéria algumas coleções que encantam os eternos apaixonados pela literatura na maneira clássica do termo.

Rara beleza

"A gente só se arrepende do livro que não compra", costumava dizer o advogado, empresário e bibliófilo José Mindlin. Não é à toa que, durante seus 95 anos de vida, reuniu livros pra lá de especiais em uma coleção raríssima que neste ano ganhou um lugar só para ela, com 20 mil m², na Universidade de São Paulo.

A Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, localizada na Cidade Universitária (Zona Oeste da capital paulista), abriga os quase 60 mil volumes, entre livros e documentos sobre o Brasil, além da primeira coleção reunida e doada por ele à USP, em 2005. Como grande leitor e colecionador de livros, ele deixou expresso o desejo de que todos pudessem usufruir o seu acervo.

Entre as obras raras, estão a primeira edição do livro "O Guarani", de José de Alencar, o original de "Vidas Secas", de Graciliano Ramos, e a primeira edição de "Marília de Dirceu", de Tomás Antônio Gonzaga.

Amor antigo

Outro apaixonado por esse universo é o jornalista e escritor Alberto Villas. O mineiro se recorda de sua primeira aquisição: "Quando eu tinha 10 anos de idade, fui à banca de Seu Benito, em Belo Horizonte, e comprei o primeiro número da revista Quatro Rodas. Fiquei tão encantado com aquele Karmann-Ghia na capa, com aquele mapa desdobrável mostrando quilômetro por quilômetro da estrada que ligava o Rio a São Paulo, que resolvi guardar para sempre a publicação. Acho que foi naquele agosto de 1960 que começou a minha paixão por revistas, por guardar, colecionar, encadernar".

Atualmente, depois de tantos anos se dedicando à coleção, Alberto têm três cômodos na casa cheios de revistas. "Algumas delas são preciosidades, além de coleções completas da revista 'Realidade dos anos 1960', do jornal 'Rolling Stone', bem marginal, publicado em 1972 no Brasil, do jornal 'Opinião', dos anos 1970, da revista 'Senhor', dos anos 1950, da 'Fairplay', a primeira revista masculina made in Brasil, na qual as mulheres apareciam de calcinha e sutiã", conta. Ele costuma postar em seu Facebook essas raridades, que sempre dão muito ibope entre seus fãs.

Sua paixão pelas revistas não para por aí. Ele possui várias coleções de revistas francesas, a Geo, por exemplo, encadernada em 66 volumes. Começou a comprar quando ela foi lançada nos anos 1970. "Os exemplares da 'Actuel', da 'L'Histoire', da 'Le Magazine Littéraire' - tenho todos devidamente arquivados", revela.

Alberto comenta que suas filhas muitas vezes tentam convencê-lo a trocá-las por um pendrive, mas como um bom adorador de livros e revistas, ele gosta do cheiro e de se deliciar com notícias antigas que um dia impressionaram o mundo.

"Outro dia mesmo comecei a folhear uma revista mensal chamada 'Enciclopédia Bloch', de 1968 - a Superinteressante dos anos 1970 - e descobri um artigo que começava assim: "Em janeiro do ano 2000 vai morrer o último elefante da face da Terra". Quarenta e cinco anos depois, os elefantes não sumiram do planeta, nem as minhas revistas das estantes", compara o escritor, às gargalhadas.

A literatura do mundo

É só fazer um passeio virtual para descobrir que os apaixonados pelos livros e revistas ainda resistem à tecnologia e revelam a beleza de uma coleção de raridades. Um desses exemplos é a biblioteca particular do empresário americano Jay Walker. Ela é tão importante que sua casa foi projetada e construída em função dela. Praticamente um parque de diversões para os leitores.

Na Espanha é possível conhecer a Biblioteca de Miguel Mateu, no castelo de Peralada. Em um incrível estilo medieval, ela foi criada em 1888, como parte do edifício de um mosteiro do século 14, e ampliada em 1923 pelo financista e político espanhol Miguel Mateu, um colecionador de livros. Ela possui 80 mil livros, manuscritos e até mesmo incunábulos (primeiros livros impressos).

E quem não se lembra de George Lucas? O gênio criador de "Star Wars" e outros sucessos do cinema construiu uma biblioteca de dois andares no Rancho Skywalker, um retiro em Marin County, Califórnia. A biblioteca dispõe de uma cúpula em vitral, uma escadaria circular, painéis de madeira e estantes por todos os lados. Ela abriga 27 mil livros.

O que não falta são apaixonados por livros e revistas para provar que talvez as contas de quem acredita que eles sumirão nos próximos 15 anos esteja errada. Tomara!




(texto publicado na revista Ponto de Encontro nº 44 -jun/jul de 2013)






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