sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Erra o parceiro que não procura o outro por receio de se sentir inferior - Dr. Nahman Armony


Reprimir o desejo de telefonar ou de escrever par alguém com quem nos relacionamos só por achar que isso nos leva a uma condição de inferioridade é pura disputa de poder. Atitudes como essa, regidas pelo medo de nos tornarmos aquele que cede e não o que dita as regras da vida do casal, devem ser evitadas, pois levam à situação de dominador/dominado, que não faz bem às relações.

Quem procura quem é uma questão que costuma aparecer nas relações amorosas - e na maior parte das vezes trata-se de uma disputa de poder. Acredita-se que aquele que toma a iniciativa de procurar o outro o faz porque precisa mais do parceiro e isso o deixa em posição de inferioridade para discutir o estilo de vida e os valores do casal, tendo que ceder frequentemente.

Ter poder, estar em uma posição superior, é uma vantagem que todos nós desejamos, pois dá uma sensação de segurança, de intocabilidade e de que se pode impor o próprio jeito de ser. Por isso, algumas pessoas reprimem o impulso de procurar o parceiro. Não querem ficar "por baixo". Pensamentos como "eu é que não vou telefonar primeiro" fazem parte dessa síndrome. Muitas vezes uma relação promissora não vai adiante em razão dessa espécie de orgulho que não leva a lugar nenhum.

Numa relação assim, que já começa com uma disputa de poder, sempre haverá um dominador e um submetido, mesmo que o casal não perceba. O dominado sentir-se-á desvalorizado e sofrerá com isso, podendo vir a adoecer psíquica e fisicamente, que recairá sobre o dominador, que terá um problema em suas mãos. Outra possibilidade é o submetido, ressentido com a situação, vingar-se de seu opressor de muitos modos sutis, podendo tornar a vida do casal permanentemente desagradável.

Vários são os motivos que nos levam a desejar o poder. Um deles - e esse interessa particularmente à situação de casal - tem a ver com a tendência de sermos influenciados. A imposição de valores é uma forma de defesa de identidade: convencendo o outro e trazendo-o para o nosso sistema de valores somos nós que o influenciamos, ficando a salvo de sua influência. Acreditamos que se não formos pró-ativos corremos um risco maior de sermos sugestionados e de, desse modo, perdermos a nossa identidade.

O que fazer? Devemos trabalhar este medo, diminuindo-o ou neutralizando-o, para evitar certas situações de disputa, de orgulho, de teimosia. A questão sobre quem procura quem deixa de ser um termômetro de poder e passa a ser sinal de interesse: se eu o procuro é porque o amo e espero que ele retribua meu amor procurando-me sempre que sentir falta de mim. Estamos aí no registro da troca, da mutualidade, do amor, da confiança, da reciprocidade e não no do orgulho, da teimosia, da competição, da luta por um poder duvidoso.

O esforço para não se enfraquecer diante do companheiro também leva a outros comportamentos, como o de esconder aspectos de nossa personalidade ou de nossa vida que que, acreditamos, poderiam nos desvalorizar. Em geral isso é feito em nome do direito à privacidade. Este realmente é importante, mas quando usado a serviço da manutenção da superioridade e do poder psicológico pode levar a uma relação afetiva problemática. Portanto, vale a pena se perguntar: "Por que estou escondendo isso dele ou dela?" Se a resposta for "porque quero me manter poderoso", então algum trabalho psíquico deverá ser realizado.

Numa relação ideal, as diferenças inevitáveis nos modos de ser e agir nunca são usadas para criar uma relação de superioridade/inferioridade. Elas são negociadas, cada um cedendo um pouco, em busca da harmonia na relação.




(texto publicado na revista Caras edição 1010  - ano 20 - nº 11 - 15 de março de 2013)




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