Há quase dois anos, deixei de pagar plano de saúde, depois de muito tempo mantendo contratos com diversas empresas. É verdade que tenho o privilégio de não ter nenhuma doença crônica, mas, até aí, muita gente também não sofre desse mal e, mesmo assim, continua pagando altas mensalidades para “garantir” um atendimento médico mais decente, em caso de necessidade.
É como se alguém (as empresas do ramo, a mídia, a sua mãe) ficasse o tempo todo dizendo pra você: “Olha, é melhor ter, porque nunca se sabe o dia de amanhã”. Ou seja, é melhor não confiar no seu corpo, não contar com a sua capacidade de se cuidar; é melhor temer e esperar sempre o pior. Isso é pura cultura do terror em nossa sociedade! É a mesma alavanca que impulsiona as seguradoras, a indústria bélica, a farmacêutica e até o cinema-catástrofe. Sem falar que, como quase tudo hoje em dia virou relação entre fornecedor e consumidor, lá no fundinho do nosso inconsciente é como se alguém soprasse, de vez em quando: “Que tal ficar doente para fazer valer a pena pagar pelo plano de saúde? Tanto investimento para nada”?
Desisti de pensar assim. Primeiro, porque faz tempo que os planos de saúde deixaram de ser garantia de alguma coisa – prova disso está no número alarmante e crescente de reclamações feitas diariamente aos mais diversos órgãos de defesa do consumidor. Segundo, porque prefiro me cuidar de modo preventivo e, quando é o caso, investigar as raízes do problema, e não apenas buscar um remédio (ou uma farmácia inteira) para cortar os sintomas da doença que, se tratada dessa forma, certamente surgirá novamente, ali adiante, e repetidas vezes.
Em outras palavras, não gosto da alopatia nem da pressa dos hospitais e clínicas que mais parecem fábricas de robôs ou qualquer coisa que não tenha nome, nem personalidade, nem sentimentos. Cansei dos ‘doutores’ que não olham no olho do paciente, das enfermeiras que tiram sangue e fazem curativos como se estivessem em um açougue de hipermercado, das recepcionistas de clínicas e laboratórios “treinadas” pelas piores empresas de telemarketing.
Não se trata de comparar o atendimento na rede pública com o que se oferece nos sistemas privados, ou de ficar listando os problemas políticos que nos trouxeram até aqui, num blábláblá cansativo e mais desanimador do que horário eleitoral obrigatório – estes assuntos renderiam outro post, ou muitos deles. Mas, de maneira pragmática: por que continuar pagando por algo que foge às minhas crenças e valores? Nas poucas vezes que precisei de ajuda médica, recorri a profissionais da chamada – e tão criticada – medicina alternativa (a amiga homeopata, o amigo quiroprático, a acupunturista indicada pela vizinha etc.) que, claro, não faziam parte da lista de médicos do convênio. (Só para dar um exemplo, sete anos atrás, curei uma crise renal exclusivamente com acupuntura). Por tudo isso, então, qual o sentido de manter o tal plano de saúde?
Mais do que pagar ou contar com a oferta do governo, decidi acreditar que meu estilo de vida atual é meu verdadeiro plano de saúde. De verdade! Nos últimos anos, notei que minha saúde se fortaleceu desde que deixei a capital para viver numa ecovila rural no interior do estado. Não foi a troca de CEP que me deixou mais resistente a doenças. O que sinto e percebo na prática é que o fato de eu beber água de nascente, respirarar puro e me alimentar basicamente de produtos orgânicos e comida não industrializada fez um bem danado ao meu sistema imunológico – nesse sentido, vale lembrar que prefiro pagar um pouquinho a mais pelos orgânicos a ter que gastar depois com remédio na farmácia…
O resultado? Não precisei de médicos em 2014. Nem em 2013 ou 2012. Atualmente, a exceção é o acompanhamento pré-natal que estou fazendo com a médica que acompanhará meu parto, daqui a cerca de 90 dias. E, mesmo assim, graças à boa saúde, fiz apenas uma bateria de exames de sangue e duas ultrassonografias para verificar as condições do bebê. No mais, as consultas mensais são encontros para tirar dúvidas, definir o plano de parto, comentar sobre leituras e as mudanças no meu corpo, enfim, coisas desse tipo.
De nada adiantar pagar o mais caro e incrível plano de saúde se você mantém uma rotina estressante e sedentária, regada a fast food e “pequenos” vícios (muita cafeína, cigarros, o álcool dos “inofensivos” happy hours).
Voltando ao tema de duas semanas atrás, quando escrevi sobre como privatizamos as coisas mais simples da vida, é preciso resguardar a simplicidade que contribui para o nosso bem-estar. Várias pesquisas já mostraram que ter mais contato com a natureza favorece nosso sistema imunológico – ao contrário do que acontece quando enfrentamos hora no trânsito e no caos urbano ou quando trabalhamos numa sala fechada, com ar-condicionado e iluminação artificial.
Uma caminhada rápida pelo parque, uma pausa na varanda para contemplar o por do sol ou um suco de fruta fresca no meio da tarde são coisas simples e muito potentes para o nosso organismo. E não é preciso morar no mato para experimentar um pouco desses “luxos”. É preciso, sim, combater a ideia de que dependemos dos médicos (descontentes e mal pagos) e de mil exames para manter a saúde, quando, na verdade, um copo de água fresca, um prato de comida livre de agrotóxicos e um pouco de diversão ao ar livre (ar puro, hein!) podem fazer muito mais por nós. Experimente!
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