Este câncer se caracteriza pelo crescimento desordenado do tecido mieloide, um segmento da medula óssea. É mais comum após os 60 anos. Ele se deve a alterações em alguns genes, como o FLT3-ITD, o NPM1 e o CEBPA. Hoje, a identificação de qual deles está alterado é importante para a escolha do tratamento mais indicado e em breve poderemos ter remédios para corrigir tais alterações.
O tecido mieloide é um segmento da medula, que ocupa o interior de todos os ossos humanos. Ela produz os leucócitos, ou glóbulos brancos do sangue, que são responsáveis pelas defesas do organismo. Chama-se leucemia mieloide aguda ao crescimento desordenado das células desse tecido, isto é, um tipo de câncer. Essas células anormais são conhecidas como blastos. Não existe estatística sobre a doença no Brasil. Sabe-se, porém, que nos Estados Unidos ocorrem todo ano 12 000 casos novos. Lá a incidência anual é de três casos a cada grupo de 100 000 habitantes.
A leucemia mieloide aguda é rara em crianças. Em geral ocorre em homens e mulheres adultos de todas as raças, sobretudo após os 60 anos. A causa são alterações em alguns genes, como o FLT3-ITD, o NPM1 e o CEBPA. Os sintomas básicos são: cansaço extremo, febre de causa desconhecida de intensidade variável e manchas roxas na pele. Como você vê, são sintomas comuns a muitas enfermidades.
Considera-se que uma pessoa tem a doença quando os blastos já constituem pelo menos 20% do total das células medulares. Essa célula cancerígena, aliás, se multiplica rapidamente e aos poucos vai ocupando todo o espaço no interior dos ossos. O resultado é que os leucócitos e as plaquetas, responsáveis pela coagulação do sangue, não são produzidos e o paciente apresenta tanto hemorragias quanto infecções como sinusite e pneumonia de gravidade variável. Nas situações extremas, o doente pode ir a óbito em semanas ou até dias.
Infelizmente, ainda não é possível evitar o desenvolvimento da leucemia mieloide aguda. Pessoas com sintomas devem consultar um hematologista. Boa alternativa no serviço público é o Departamento de Hematologia das Universidades Federais e Estaduais existentes nas capitais e em muitas cidades grandes.
Diagnostica-se a doença com exame de aspirado de medula, com o qual se descobre que está com mais de 20% das células blásticas, e da tipagem por computador, com o qual se vê que são células de origem mieloide e não linfoide, outro tipo de tecido da medula. Para a escolha do tratamento, porém, é fundamental descobrir quais genes do paciente estão alterados. Pessoas que apresentam mutação no gene NPM1 e não no FLT3 e no CEBPA podem ser curadas apenas com quimioterapia. Já aquelas cuja alteração é apenas no FLT3-ITD têm o pior prognóstico e, além da quimioterapia, terão de fazer também transplante de medula óssea doada por um parente ou de banco de medula. O mesmo vale para as que não têm alteração em nenhum dos três.
Vale destacar que o tratamento de leucemia mieloide aguda é sempre realizado por uma equipe multidisciplinar, ou seja, um médico hematologista, um fisioterapeuta, a enfermagem e uma psicóloga. Isso se deve ao fato de que o doente fica completamente isolado, já está debilitado pela doença e a quimioterapia o deixará ainda mais enfraquecido, elevando bastante seu risco de infecções. Em um momento tão complicado, precisa ser acompanhado e apoiado pelo menos por esse grupo básico de profissionais. É fundamental destacar, finalmente, que o tratamento de tais pacientes em unidades especializadas aumenta muito a possibilidade de sucesso.
(texto publicado na revista Caras edição 1010 - ano 20 - nº 11 - 15 de março de 2013)
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