sexta-feira, 13 de maio de 2016

Para que tanta ansiedade, meu bem? - Tatiana Ferrador



Preocupar-se com alguma coisa que ainda vai acontecer e sofrer antecipadamente por isso é um transtorno que afeta pessoas de todas as idades, desde o nascimento até a velhice

Há fases na vida em que ficamos mais sensíveis até mesmo aos acontecimentos tipicamente cotidianos, como sobrecarga no trabalho, falta de dinheiro, crise nos relacionamentos afetivos, preocupação com os filhos, entre outros. A forma como reagimos nessas situações pode variar, de acordo com o estado emocional, afinal preocupações são normais e fazem parte da vida de todos, certo? 

O problema é quando essas aflições ultrapassam o limite da normalidade e começam a causar males à saúde e transtornos emocionais. Uma ansiedade excessiva, que muitas vezes impede a realização de tarefas simples do dia a dia e que traz sintomas físicos, como é o caso do transtorno de ansiedade generalizada (TAG), que como o próprio nome diz, é caracterizado por uma excessiva, incontrolável e, eventualmente, irracional preocupação.

Como explica o psiquiatra carioca Dr. Rodrigo Pessanha, o TAG pode surgir como uma expectativa apreensiva em relação a eventos ou atividades, levando a uma preocupação excessiva que frequentemente interfere nos assuntos pessoais, profissionais, familiares e acadêmicos. "Ou seja, de tanto se preocupar com alguma coisa que vai acontecer, sempre atribuindo a essa questão um desfecho catastrófico, a pessoa sofre imensamente e apresenta sintomas mentais e físicos por conta dessa apreensão excessiva", diz.

Como diagnosticar?

O psiquiatra ressalta, contudo, que não é qualquer tipo de ansiedade que pode ser considerada TAG, uma vez que esses sintomas têm que ser persistentes, existir ao longo de grande parte do dia, e no decorrer de pelo menos seis meses. "Ou seja, não é simplesmente uma questão de estar preocupado com o resultado de uma prova ou apreensivo com o resultado de um exame que por acaso tenha sido feito há uma semana", lembra Dr. Pessanha. "Isso são reações relativamente normais. O problema está quando tal preocupação se torna persistente, além dos limites tidos como saudáveis", conclui.

Há vários fatores que podem causar o TAG, e assim como qualquer transtorno psíquico, ele é multifatorial. Alguns estudos apontam que pessoas que têm pais, tios ou avós com doenças como depressão grave, transtorno bipolar ou esquizofrenia podem apresentar uma predisposição para o TAG, mas o aparecimento do transtorno não é linear. Os fatores ambientais e individuais também podem contribuir para o desenvolvimento do distúrbio.

Estudos apontam que, estatisticamente, as mulheres têm duas vezes mais transtorno de ansiedade generalizada do que os homens.

Na opinião do especialista no assunto, psiquiatra da Associação Brasileira de Psiquiatria e membro do corpo clínico da Clínica Fares, Dr. Miguel Franco, casos na família são fatores de risco. "O fato de uma mãe ter tido uma depressão grave durante a gravidez pode contribuir para desencadear o TAG no filho, mas não é regra; o contrário também é possível: uma mãe pode ter tido um pré-natal muito tranquilo, sem nenhum tipo de estresse ou desconforto emocional, mas aparentar um gene para tal transtorno", diz.

"É importante ressaltar que a identificação da doença em si, livre de qualquer tipo de estigma, ou seja, o entendimento da doença, a procura de um profissional capacitado e a adesão a um tratamento adequado são quase que  a garantia de um resultado bem-sucedido", complementa Dr. Pessanha.

O tratamento do TAG inclui o uso de medicamentos antidepressivos ou ansiolíticos (usados para diminuir a ansiedade e a tensão), sob orientação médica, aliado à terapia comportamental cognitiva.

Sintomas mais comuns do TAG

- Sintomas cardiovasculares: aumento da pressão arterial e da frequência cardíaca.

- Sinais respiratórios. como dificuldade de respirar.

- Indícios gastrointestinais, como dificuldade de engolir, além de náuseas, vômitos, alterações do trânsito intestinal (como diarreia ou mesmo prisão de ventre).

- Inquietação motora.

- Dificuldade de concentração.

- Mal-estar geralmente acompanhado por tremores, inquietação, fadiga, tensão muscular.

- Perturbação do sono.

- Perda de apetite.

- Fraqueza nas pernas.


(texto publicado na revista Ponto de Encontro nº 61 -abr/mai de 2016)

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