Scena del film "Altrimenti ci arrabiamo"
quinta-feira, 30 de junho de 2016
quarta-feira, 29 de junho de 2016
segunda-feira, 27 de junho de 2016
E se...imposto não existisse? - Fernando Brito
Isso pode doer no coração e no bolso, mas é verdade é que não chegaríamos muito longe sem tributos. Grandes conquistas da civilização só foram possíveis graças à riqueza acumulada com os impostos. Foi com dinheiro público que reis, imperadores e presidentes nos levaram a conquistas, desde as mais simples - como a construção de estradas - até as mais complexas - como a chegada do homem à Lua.
Até o próprio governo como o conhecemos só existe por causa dos impostos. Tudo começou como uma forma de reverência: nas primeiras civilizações, os tributos serviram como oferenda a reis que se consideravam divindades. Não eram revertidos em nenhum serviço à população. Tinham a função de diferenciar os senhores dos súditos. (Não à toa a palavra "tributo" serve tanto para imposto como para homenagem). Era essa divisão que dava status e legitimidade aos líderes.
Se o imposto não tivesse surgido, os primeiros governantes seriam fracos. Fariam mandatos sem muitas realizações. Ainda que estivessem determinados a organizar a vida da comunidade, não teriam estímulo para tomar decisões importantes: não receberiam salário pela função nem contariam com caixa para financiar grandes empreitadas, como guerras ou reformas relevantes. Assim, o desenvolvimento da sociedade dependeria de iniciativas individuais ou de grupos organizados, que juntariam seus recursos e esforços para melhorar a vida.
Não teríamos ido muito além das tribos primitivas que ainda existem, como indígenas, esquimós e aborígenes. Democracia, direitos fundamentais, conhecimento tecnológico, tudo avançaria pouco. Nossa vida seria bem mais simples, como você vê a seguir.
Afrouxem os cintos, o Leão sumiu
Livres de impostos, presos na Idade Média.
Privatização
Todos os serviços seriam cobrados, mesmo os mais básicos. Quer andar em rua pavimentada? Precisa pagar. Sua casa pegou fogo e os bombeiros apareceram? Prepare-se para receber a conta. O mesmo vale para educação, iluminação pública... Em compensação, só pagaríamos pelo que realmente usássemos.
Credos de sobra
Milhares de seitas conviveriam sem que nenhuma fé se impusesse. Religiões, historicamente, sempre se associaram ao Estado para se fortalecer. A católica, por exemplo, só se disseminou ao virar a religião oficial do Império Romano. Em alguns casos, fé e governo eram quase a mesma coisa - no Brasil, a separação entre Igreja e Estado veio com a proclamação da República.
Só na carroça
A inovação viria de empresas, mas faltaria fôlego para grandes investimentos. E serviço que não desse lucro não seria explorado. Carros elétricos, por exemplo, rodam hoje graças a subsídios que os tornam acessíveis - sem ajuda governamental, os fabricantes não venderiam nada. Por isso, uma sociedade sem tributos seriam menos desenvolvida.
Vida lôka
Sem dinheiro, o governo não teria como manter polícia ou Poder Judiciário. Teríamos menos segurança nas ruas. (Até porque nem iluminação pública existiria). E o pessoal faria justiça com as próprias mãos. Pena de morte e castigos físicos seriam corriqueiros, já que faltaria dinheiro para manter cadeias.
Vida breve
Morre-se mais cedo em uma sociedade tribal. Entre os índios brasileiros, a expectativa de vida é de 46 anos, contra 73 na população em geral. Sem vacinação nem assistência públicas, até diarreia e sarampo podem matar. Uma grande população doente deixaria vulnerável até quem pagasse por serviço de saúde particular.
(texto publicado na revista Super Interessante edição 291 - maio de 2011)
Você sabia que Hitler... - Eduardo Cosomano
Além de artista frustrado, racista e megalomaníaco, ele era esquisito para caramba.
... era fã do Mickey Mouse?
Hitler adorava um ícone da cultura americana: desenhos animados. Se fosse do Mickey, então, o Holocausto podia esperar. No Natal de 1937 o ministro da propaganda, Joseph Goebbels, lhe deu 12 desenhos de camundongo da Disney e anotou em seu diário: "Ele está absolutamente feliz com seu tesouro!".
... tinha estômago delicado?
Cólicas estomacais e crises de flatulência acompanharam Adolf desde a infância. Após consultas com uma nutricionista vienense chamada Marlene Von Exner, seu cardápio passou a priorizar suco de laranja com mingau de linhaça, pudim de arroz com molho de ervas e biscoitos com nozes e pasta de manteiga.
... ainda é best-seller?
O estado da Baviera adquiriu os direitos autorais sobre Mein Kampf (Minha Luta), que Hitler concluiu na cadeia em 1924, para impedir sua republicação - mas traduções piratas vendem bem no Oriente Médio e na Índia e seus vizinhos. Em tempo: Mein Kampf vira domínio público em 2016.
... adorava cruzeiros?
Para o ditador, lazer era direito de todos (os arianos): criou cursos de férias, centros de recreação e câmaras de cultura (nazista, claro). Curioso era o incentivo para que os trabalhadores desfrutassem de cruzeiros marítimos: para Hitler, todos deveriam fazer uma viagem dessas uma vez na vida.
... admirava um judeu?
Sua parte favorita da revista automotiva Motor-Kritik eram os artigos do engenheiro judeu Joseph Ganz. Há quem diga que ele foi o verdadeiro invetor do Fusca e teve a honra usurpada pelo alemão Ferdinand Porsche. Ganz chegou a ser preso pela Gestapo, mas escapou com vida do Terceiro Reich.
...mudava planos por causa de uma cadela?
Era Blondi, uma pastora alemã. Hitler interrompia reuniões para mostrar os truques que a cadela havia aprendido. O problema é que, se ela errava algo, Hitler ficava insuportável. Um de seus generais disse: "Parecia que a campanha na Rússia dependia mais de Blondi do que de nós".
(texto publicado na revista Super Interessante edição 291 - maio de 2011)
O lado bom da pobreza - Antoine Van Agtmael
Quanto menos recursos temos, mais precisamos de ideias criativas. E é dessa criatividade que o mundo necessita para crescer.
Se a população não chega aos médicos, que os médicos cheguem à população. Foi pensando assim que os indianos resolveram criar serviços de enfermagem itinerantes no país. Grande parte da população da Índia não tem acesso a postos de saúde. Mas esse pessoal agora não fica mais sem atendimento. Enfermeiros e médicos vão hoje aos vilarejos e fazem exame de sangue e raio X nos moradores por lá mesmo. Os dados são enviados via internet para algum hospital da redondeza, onde então é feito o diagnóstico.
Os indianos pensaram como qualquer um de nós pensaria no dia a dia. Se não temos recursos para resolver problemas, só nos resta improvisar. Usar a criatividade. Essas ideias nascidas da escassez podem resolver o problema de uma pessoa, de uma comunidade, de um país, como no caso da Índia. Em alguns casos, de gente de todo o mundo. A ideia dos indianos de levar atendimento a vilarejos, por exemplo, serviu de inspiração para a gigante americana GE. A companhia lançou em 2008 o Mac400, primeiro aparelho de eletrocardiograma portátil do mundo. Ele cabe em uma maleta, tem bateria que dura uma semana e custa menos de US$ 1 000 (10% do preço de um convencional). E agora é exportado para países como a China, onde ajuda pessoas carentes a conseguir atendimento médico.
Ideias criativas como essas estão nascendo cada vez mais nos chamados países emergentes. Deles têm saído iniciativas que inspiram seus colegas ricos, como EUA, Japão e europeus. É o que chamamos de inovação na base da pirâmide, ou seja, inovação gerada pelos mais pobres. Primeiro as pessoas introduzem uma ideia para solucionar desafios do cotidiano. O produto é então vendido no mercado interno, ganha escala e acaba exportado.
Basta ver os dados para entender como isso está acontecendo. A coreana Samsung investe mais em pesquisa e desenvolvimento do que a americana Intel. A China investe mais em pesquisas e desenvolvimento do que o Japão. Com a ajuda deles o mundo tem ganhado mais conhecimento e riqueza. Dois fatores impulsionam a criatividade dos países mais pobres: o baixo custo e a ousadia. E um ótimo exemplo é o Brasil, que também partiu de suas necessidades para gerar inovação.
Aproveitando a capacidade intelectual mais barata dos excelentes engenheiros aeroespaciais brasileiros, a Embraer produziu aviões que custam menos que os dos concorrentes. A companhia olhou para um nicho ignorado por empresas já consolidadas no setor. Foi também com ousadia que surgiram no país outras ideias distantes do pensamento convencional e de fórmulas prontas, como o etanol e o motor flex para carros e o "porco light" da Embrapa (que concentra mais carne por quilo de animal).
Claro que os países mais pobres ainda têm um longo caminho a trilhar. Mas, para mim, eles possuem um espírito inovador capaz de levar as ideias mais loucas e revolucionárias adiante. E de derrubar as velhas maneiras de pensar.
(texto publicado na revista Super Interessante edição 291 - maio de 2011)
Regimes doidos - Walcyr Carrasco
Uma amiga fez uma dieta detox. Emagreceu, mas ficou completamente maluca
A grande batalha da minha vida é contra a barriga. Qualquer coisa basta para aumentá-la. Se como uma cocada, a calça já não fecha. Tenho ódio quando boto uma camisa e fica aquele botãozinho estourando no umbigo. Pior: se inicio um regime, perco tudo no rosto. E a barriga continua grande! Encontrei um motivo sério para perdê-la. Explico, sábio:
– Segundo a medicina, a barriga masculina é perigosa, porque induz à síndrome metabólica.
É verdade. Induz. A tal síndrome implica diabetes, risco cardiovascular e uma porção de horrores. A verdade: quero perder a barriga para olhar no espelho e sorrir. Simples assim. Já sei que não me tornarei, aos 60, um gatão musculoso e atlético. Mas também não quero ser derrotado pelas banhas. Já tentei vários regimes, todos com médicos, nutricionistas ou nem sempre. E conheço gente que também entrega o corpo à próxima novidade.
Uma vez o médico prometeu:
– Você emagrecerá 8 quilos em dez dias.
A dieta consistia em tomar um remédio – HCG – para simular que eu estava grávido! Explico: o tal remédio lançava hormônios que diziam ao corpo que eu estava esperando um bebê. Aí, eu parava de comer carboidratos. E só um mínimo de proteínas.
– O seu corpo pensará: eis uma grávida no deserto.
A resposta do corpo seria jogar todas as gorduras acumuladas para salvar o “bebê”. Como o bebê não existia, o emagrecimento seria uma consequência natural. Não podia nem fazer massagem com óleo, pois o corpo, sábio, aproveitaria até o próprio para criar gordura. Nem ginástica, para não gastar energias, tal o mínimo de alimento. Resisti. Óbvio: durante o regime, um amigo deu uma festa fantástica, inesquecível. Com um dos melhores jantares que já vi. Só de olhar a mesa de doces engordei. Mas resisti. Fiquei só no salmão cru da entrada. E fugi antes que fosse derrotado pela gula. Dez dias depois tinha perdido 2 quilos.
– Tanto sacrifício para perder só isso?
– É o seu metabolismo – explicou o endocrinologista. – Se quiser tentar outra rodada, espere 15 dias.
Saí correndo do consultório.
Tive um alívio quando outro me propôs a dieta cetogênica. Só à base de proteína. Eu podia comer bacon, churrasco, à vontade. Café da manhã, bacon! Almoço, picanha! Jantar, presunto, mortadela, salsicha! Queijos amarelos. Nozes! Só era preciso eliminar os carboidratos. Pensei ser feliz, enfim! Vamos confessar, quem não adoraria sobreviver à base de picanha, bacon e mortadela? Mas o problema...bem, esses alimentos sem os carboidratos produzem uma reação química no organismo. Aceleram o metabolismo e queimam as gorduras. Mas se você dá uma fugidinha... fui traído por uns pãezinhos franceses. A reação química se inverteu! Engordei 8 quilos de uma vez só!!! Oito, 8!
Sou só eu? Tenho um amigo modelo. Alto e magro. Candidatou-se a um desfile. O pedido do estilista:
– Você está aprovado, mas tem de perder 6 quilos.
Tinha uma semana. Inventou ele mesmo a dieta. De manhã, uma omelete de cinco ovos. No almoço, mais cinco. Completava 18 até o anoitecer. Como não suportava mais o sabor, engolia os últimos crus, de uma vez só. Perdeu os 6 quilos. Mas entrou em depressão. Agora voltou ao normal: tapioca com ovos de manhã, frango no almoço, frango no jantar, cinco ovos antes de deitar. Motivo: ovos são proteína pura, sem sódio. É vida?
– Só como frango! Tenho ódio só de olhar frango! – desesperou-se outro.
Uma amiga fez uma dieta de desintoxicação, a Master Cleanse. Por 15 dias só tomava limão espremido com pimenta- caiena, xarope de bordo e água. Emagreceu, mas ficou absolutamente doida. Foi o momento em que, diante de todos ingredientes, desisti de tentar mais essa. Já sou meio doido, seria internado.
Um ser humano costuma consumir 2.500 calorias por dia. Óbvio, muitos regimes dão o truque nas calorias. A mais extrema é a que propõe só 500. Já vi muitos tentarem. Poucos conseguiram, pois a vida se torna insuportável.
Comecei outra, com uma admirável nutricionista. No momento estou tomando um shake à base de farinha de maracujá, farinha de berinjela, proteína de carne e chocolate. Não existe sabor mais horrível. Mas tenho de me contentar, pelo menos enche o estômago. Ao deitar, terei direito a oito amêndoas. É o que resta para o dia. Diante de tantos exemplos, tentativas e reflexões, eu deveria ter escolhido a felicidade. Mas nada. Sofro. E a barriga continua lá, estourando os botões no umbigo!
(texto publicado na revista Época de maio de 2016)
O nu se banalizou - Walcyr Carrasco
Basta abrir a internet e há um universo de peladas, de todos os tipos, para todos os gostos. Daqui a pouco, não haverá mais graça
Levei um susto quando soube que a principal revista de nus femininos brasileira vai sair de circulação. E que a Playboy americana abriu mão de publicar mulheres nuas. O nu não aumenta a venda de revistas nem atrai publicidade. É engraçado, porque venho de uma época em que o sonho de toda starlet era posar nua e comprar um apartamento. Ok, sou bem mais antigo que isso. Sou do tempo em que aparecer nua em revista ou filme era uma vergonha para a família. Durante a ditadura militar – não podemos esquecer que ela aconteceu –, as revistas eram duramente censuradas. Na capa, eu me lembro, podia mostrar o bico de um seio. Não dois. Qual a loucura da cabeça de quem criou essa regra não consigo imaginar. Porque dois bicos destruiriam a família brasileira e um só não? Mais tarde, o nu faturava no ramo editorial e no cinema (nas antigas pornochanchadas que, aos olhos de hoje, eram comportadíssimas). Havia programas na televisão que brincavam com uma sensualidade discreta, quase ali, mas nunca exatamente ali. Números na banheira em que moças apareciam de biquínis mínimos. Eu era jornalista e havia várias revistas de nu feminino. As fofocas circulavam. Uma certa atriz, já de idade, aceitou posar (está ainda por aí, sempre fazendo a ousada). O truque era cruzar as mãos embaixo da cabeça, para erguer os seios. Mas suas costas e seu rosto foram repuxados com fita-crepe. A pele, esticadíssima. Na época não existia Photoshop, mas examinavam-se as primeiras provas de imagem e marcava-se com a caneta cada ruguinha a ser tirada. E um profissional raspava com lâmina, corrigia a foto até o corpo da bonita ficar lisinho. Os leitores se admiravam.
– Nessa idade, ainda está inteiraça!
Pois é. Não estava. Nem ela nem outras que continuam estando. Milagre não existe.
Hoje, basta abrir a internet e há um universo de peladas, de todos os tipos, para todos os gostos. Existem sites específicos, de prostituição, mas não é deles que estou falando. Exibir-se faz parte da vida moderna, eis tudo. Ontem, entrei no Instagram. Entre as sugestões de pessoas para seguir, havia uma “gatinha” quase nua. Olhei suas fotos. Belíssima. Sensual. Milhares de curtidas. Está se tornando uma celebridade da internet. Simples assim.
Outro dia um amigo veio mostrar a foto da filha, de 6 anos. É uma garota bem bonita. Mas o que fazia de top de oncinha, bermuda jeans e perninha erguida? Perguntei:
– Está educando sua filha para ser periguete?
Ele ficou sem jeito, estava orgulhoso da foto. Os pais acham que aparecer é um caminho para ganhar bem, fazer sucesso, enriquecer. Qual é o jeito mais fácil? Arrancar a roupa, aparentemente. Não vi nenhum ganhador de Prêmio Nobel ter milhões de seguidores no Instagram. Peladas, sim. As filhas são educadas para arrancar a roupa o mais rápido possível. Só que são tantas que, simplesmente, isso se banalizou. Certa vez, uma atriz fora da mídia apareceu nua numa praia. Disse que fora assaltada, e os ladrões levaram... o biquíni! Fez escândalo, chorou. Assim como outra, na movimentada Praia do Leblon, no Rio de Janeiro, de tarde, fez topless. E depois reclamou dos paparazzi.
– Não tenho direito à intimidade!
Os pais tentam resguardar os filhos, controlando o acesso aos computadores. Mas adianta? O nu e até fantasias bizarras estão aí, para qualquer um ver. O adolescente esperto, que entende mais de tecnologia que seus pais, entra nos sites e vê. Na minha modesta opinião, já nem fica chocado. É normal. Pode achar uma garota mais bonita que a outra e só.
Soube que há uma “internet sombria”, onde estão as coisas mais proibidas. Fiquei curioso, perguntei a um amigo. Ele me aconselhou:
– Não entre. Eu visualizei dois minutos no máximo, havia umas fotos de pedofilia e fiquei com náuseas. É uma experiência horrível.
Meu amigo é descolado, vejam bem.
Daqui a pouco, não haverá mais graça em ver alguém pelado. Talvez, sim, seja curioso admirar gente vestida. Também é fato que o nu proliferou, aconteceu, e a família brasileira continua aí. Não foi destruída, como previa a ditadura militar.
A única coisa que me deixa curioso em toda essa história é por que o topless ainda continua proibido nas praias brasileiras. Mais ainda, por que o nudismo não se torna normal, cotidiano? Garanto, ninguém vai se assustar. Talvez só com minha barriga, se eu me atrever.
(texto publicado na revista Época de dezembro de 2015)
Detox do celular - Cinthia Quadrado
Curtir jogos, aplicativos e redes sociais é legal, mas aproveitar os momentos reais com seus amigos, colegas e família é ainda melhor
O smartphone serve para mandar fotos para as amigas, compartilhar os pensamentos no Facebook e, eventualmente, ligar para a família para matar as saudades. Apesar de ser um meio para se comunicar com todos, ele nem sempre tem o papel de aproximar as pessoas, porque muita gente fica viciada nos joguinhos e mensagens e acaba deixando de lado quem está fazendo companhia. "Tantas funcionalidades, aplicativos e atrativos fazem com que muitos 'mergulhem' dentro de seus aparelhos, se desconectando do mundo externo, e consequentemente dos seres humanos e de seus relacionamentos reais", explica Alessandra Vieira Fonseca, psicóloga coach e sócia-proprietária da ConsultaRH (DF). Pois bem, essas atitudes podem trazer vários malefícios para a vida e distanciar seus colegas de você. Para não entrar nessa roubada, confira agora as dicas da 7 Dias.
Aqui é trabalho!
Na hora do serviço, dá uma baita vontade de checar o Instagram para ver a foto nova do seu amigo ou conversar com alguém pelo Facebook? Saiba que isso pode ser um baita "tiro no pé", porque você pode perder os prazos de entrega dos jobs, além de acabar com o foco no trabalho e o seu chefe te pegar no flagra. "Então é melhor que a pessoa mantenha uma postura profissional e respeite as regras da empresa quanto ao uso do dispositivo. Enquanto algumas aceitam, outras são bem rígidas com esse assunto", afirma Alessandra Vieira.
Oi, eu tô aqui do lado!
Quem nunca saiu com os amigos e passou muita raiva porque eles só ficavam no celular? E sabe quando bate aquele silêncio na mesa e você fica até sem graça de tentar puxar assunto, porque ninguém levanta a cabeça e conversa? É muito chato, mas tem solução. "Ao se sentir incomodado, vale a pena chamar a atenção deles para o que está acontecendo no exato momento, deixando clara a sua insatisfação e o desejo de uma relação normal durante o encontro de vocês", explica Ana Paula Magosso Cavaggioni, psicóloga (SP).
Será que eu sou viciada?
Se as atividades importantes ficam em segundo plano, você atrasa o seu almoço ou dorme mais tarde por causa do aparelhinho, fique esperta porque pode ter se tornado um vício. "Se você sempre se preocupa se há um local para recarregar o celular, nunca sai sem ele, se sente ansiosa quando "cai" a internet, posta tudo o que pensa e tira foto de tudo pensando em como colocá-la nas redes também pode ser um mau sinal", avalia Ana Paula. Caso você ainda não tenha se convencido, faça o seguinte: mapeie o tempo para perceber quantas horas do dia você fica na internet. Se ela passar de mais de duas horas, essa ação pode ser prejudicial para o seu corpo e saúde. Reavalie e perceba seu vício.
Você não me ama?
Se vocês vão para o parque, o shopping ou para a casa dos seus pais e ele não larga do celular, tenha uma conversa bem franca e mostre que você não está feliz assim. "Fale que quer jantar sem intromissões e que o smartphone deve ficar desligado enquanto estiverem juntos. Acordos como este podem fazer maravilhas para o casal", afirma Alessandra. "Alguns estudos até comprovam que, quando o companheiro está sendo dispensado por causa disso, ele sente muito mais ciúmes", diz Ana Paula.
Reunindo a família
Natal, Páscoa, Dia das Mães... Todo mundo se junta, mas ninguém troca ideias, fala do trabalho ou menciona quais os seus planos durante o ano. Eles ficam apenas mostrando as fotos de gatinhos engraçados, as notícias de política que são polêmicas ou as receitas rápidas para fazer em casa com poucos ingredientes. "O mundo virtual vai, pouco a pouco, substituindo o real. Postar uma foto da comida, então, parece ser mais positivo do que compartilhá-la efetivamente com a família", explica Ana Paula. Nesse caso, vale a pena impor algumas regrinhas especiais. Por exemplo, quem mexer no smartphone na mesa vai ter que tirar os pratos e lavar a louça toda sem reclamar. O que você acha? Se eles ficarem de cara feia, converse e mostre que isso só isola as pessoas e deixa os encontros desanimados, ok?!
Detox tecnológico
Você não nasceu grudada com o celular, certo? Então, dá para ficar longe dele sem ter que ficar nervosa. Veja como fazer isso na sua vida:
- Deixe o aparelho no modo avião durante as atividades importantes (reuniões, almoços ou quando está dirigindo). Eles desligam a rede do celular, wi-fi, rádio FM e bluetooth simultaneamente, mas é possível usar os demais apps que não precisam de rede, incluindo os de ouvir música ou assistir vídeos.
- Tire os livros empoeirados da estante e comece a lê-los. Assim, dá para se distrair sem ser "refém" das redes sociais.
- Faça exercícios físicos com mais frequência. Eles desestressam, promovem bem-estar e ainda queimam os quilinhos extras.
- Vá ao cinema para curtir o momento com quem você ama. Além de renovar os ares, dá para distrair a cabeça e se divertir bastante sem tocar na bendita telinha do aparelho celular.
(texto publicado na revista 7 Dias nº 683)
domingo, 26 de junho de 2016
Para lá de Jaçanã - Fred Linardi
Linha imortalizada por "Trem das Onze" vira tema de documentário
Em 1964, o sambista Adoniran Barbosa disse que não podia ficar nem mais um minuto com sua amada. Tudo porque morava em Jaçanã (o que, na verdade, era apenas uma licença poética para a música). Se perdesse o trem das 11, só voltaria para casa na outra manhã - além de provocar uma noite de insônia em sua pobre mãe. Assim, sem querer, imortalizou a linha do Tramway, condutora do tal trem.
O "trem das 11" existiu mesmo, e funcionava desde 1894. Construído apenas para instalar e levar dutos de água da região da serra da Cantareira ao centro de São Paulo, onde a vida urbana já efervescia, ele foi extinto no ano seguinte ao do sucesso musical, em 1965. Ninguém imaginava, na época de sua construção, que aqueles pequenos vagões sobre a bitola de 60 centímetros seriam tão populares.
No início do século 20, a linha passou a ser utilizada pelos paulistanos que queriam fughir da vida urbana para passar aprazíveis tardes na Cantareira. O crescimento da população, no entanto, acabou expandindo bairros até então distantes, como Santana, Jaçanã e Tremembé. E os moradores de lá começaram a usar o trem também para se locomover para o trabalho. A partir de 1940, as bitolas foram expandidas para 1 metro, a fim de adaptar os trilhos ao número de passageiros - em 1945, eram 20 mil por dia. Ao mesmo tempo, ninguém esquecia que a linha tinha seus dias contados desde sua criação, pois tinha sido feita só para o transporte dos dutos de água. As vias para carros e ônibus, já na década de 50, expulsaram-na gradativamente da capital.
Os vagões, já ultrapassados no fim dos anos 50, custavam caro: com as passagens baratas e grande parte da despesa subsidiada, o carvão mineral que o movia foi substituído por lenha - isso quando os vagões a diesel já existiam. "O trem começou a ser criticado. A fuligem queimava as roupas dos passageiros e eles eram identificados pelos outros como usuários do trem", diz Rogério Nunes, produtor de Nos Trilhos do Trem das Onze, em cartaz em novembro no Sesc Santana, em São Paulo, junto à exposição de fotos que conta a evolução da cidade nos 71 anos de vida da ferrovia. O filme deverá ser exibido em mostras de cinema pelo país no ano que vem.
(texto publicado na revista Aventuras na História edição 51 - novembro de 2007)
"Ovo de Colombo" é, na verdade, de Brunelleschi
A expressão "ovo de Colombo" indica algo que parece fácil depois de feito. Está associada a Colombo, em uma suposta explicação do seu projeto de chegar às Índias. Na realidade, o episódio tem como protagonista o arquiteto italiano Filippo Brunelleschi (1377-1446), autor da cúpula da catedral de Florença. Ele achatou o canto de um ovo e o colocou de pé para explicar como faria a cúpula. Inspirada no Panteão romano. "Isso aí, qualquer um faz", irritou-se um de seus concorrentes na licitação. "Mostre-nos o projeto." Brunelleschi retrucou: "Se eu mostrar, aí sim é que qualquer um faz".
(texto publicado na revista Aventuras na História edição 53 - dezembro de 2007)
É necessário viver o luto para se recuperar da perda de um amor - Maria Vilela Nakasu
Separar-se de alguém que se ama é uma das situações mais doloridas na vida humana. Fica o tormento dos bons momentos vividos juntos, ficam a saudade e um "vazio" difícil de preencher. A recuperação sempre é demorada, claro, e alguns nem a conseguem. A única alternativa é viver o luto, que em geral torna a dor suportável. Também se pode buscar o auxílio de um especialista.
Toda separação dói, seja pelo fim da paquera, da "ficada" ou do namoro, seja pelo divórcio ou por falecimento. Em sua música Pedaço de Mim, o cantor e compositor carioca Chico Buarque (71) fala da dor da perda e da saudade. Ele diz: "A saudade é o pior tormento,/é pior do que o esquecimento,/é pior do que se entrevar". Tormento doloroso esse afeto que arrebata a todos que já tiveram relações importantes. Desejar voltar no tempo, desejar a pessoa de volta, desejar sentir aquela alegria que ficou marcada no passado. Sim, como diz Chico, "(...) a saudade é o revés de um parto,/a saudade é arrumar o quarto./do filho que já morreu (...)"
Sentir saudade dói. As lembranças são vivas, têm cheiro, cor, emoção, mas a pessoa não está mais lá. Na vida real, não está mais, porém no plano do afeto aparece nas paisagens, em cada esquina, em cada imagem vista.
Por que dói a saudade? Como lidar com essa dor sem se despedaçar? Como habitar essa emoção sem se desintegrar ou se desestruturar? Ora, não há receita. Todo processo de luto implica dor, e além disso, um investimento libidinal maciço sobre o objeto perdido. Isso significa que "tudo" faz lembrar a pessoa. Na memória, ela está viva, mas na realidade não. Os sentimentos vividos internamente nada têm a ver com o que a realidade mostra. Nesse caso, a passagem do tempo é relativa.
Há pessoas que levam só um mês para se refazer, mas outas precisam de toda a vida para esquecer o amor que perderam, ou nunca esquecem. O tempo cumpre muitas vezes a função de amenizar a dor da perda, a dor bruta, incomensurável. Mas, se o processo de luto não ocorrer por dentro, não é possível superá-la, não é possível transformar a dor insuportável em suportável. O que isso significa? Bem, significa dizer que a exteriorização da emoção é crucial para o alívio da dor. Conversar sobre a pessoa, chorar, orar, escrever sobre o sentimento, desenhar. Muitas vezes um livro que se lê, um filme que se vê ativa o processo de luto também. Sim, em outros termos, é importante "colocar para fora" o sentimento, não guardar. Ainda em Pedaço de Mim "(...) A saudade dói latejada,/é assim como uma fisgada,/no membro que já perdi (...)". A dor pulsa, incomoda. Há pessoas que insistem em olhar as fotos, ler as cartas. Há outras que não querem ouvir o nome do "falecido" ou da "falecida". Há ainda aquelas que logo põem outra no lugar. Um senhor de 74 anos perdeu a esposa, com quem ficou casado por 30 anos, e um ano depois namorava outra mulher. Todos se indignaram. Mas não se pode julgar, uma vez que cada um lida com suas perdas à sua maneira.
O luto não tem tempo certo. A Psicoterapia também pode ajudar nesse processo. Muitas vezes a pessoa precisa até recorrer a um psiquiatra, tomar antidepressivo por um tempo. Quanto estrago faz uma separação na vida de alguém! Sim, o rompimento pode traumatizar a ponto de a pessoa não querer mais se relacionar com ninguém. Por isso, diante de uma perda é necessário atenção com a própria saúde mental, observar-se para ver se não há uma depressão no processo de luto. Mas se quer viver não é possível se furtar ou correr o risco de viver a dor da perda. Como diz o escritor mineiro João Guimarães Rosa (1908-1967), "Viver é perigoso".
Toda separação dói, seja pelo fim da paquera, da "ficada" ou do namoro, seja pelo divórcio ou por falecimento. Em sua música Pedaço de Mim, o cantor e compositor carioca Chico Buarque (71) fala da dor da perda e da saudade. Ele diz: "A saudade é o pior tormento,/é pior do que o esquecimento,/é pior do que se entrevar". Tormento doloroso esse afeto que arrebata a todos que já tiveram relações importantes. Desejar voltar no tempo, desejar a pessoa de volta, desejar sentir aquela alegria que ficou marcada no passado. Sim, como diz Chico, "(...) a saudade é o revés de um parto,/a saudade é arrumar o quarto./do filho que já morreu (...)"
Sentir saudade dói. As lembranças são vivas, têm cheiro, cor, emoção, mas a pessoa não está mais lá. Na vida real, não está mais, porém no plano do afeto aparece nas paisagens, em cada esquina, em cada imagem vista.
Por que dói a saudade? Como lidar com essa dor sem se despedaçar? Como habitar essa emoção sem se desintegrar ou se desestruturar? Ora, não há receita. Todo processo de luto implica dor, e além disso, um investimento libidinal maciço sobre o objeto perdido. Isso significa que "tudo" faz lembrar a pessoa. Na memória, ela está viva, mas na realidade não. Os sentimentos vividos internamente nada têm a ver com o que a realidade mostra. Nesse caso, a passagem do tempo é relativa.
Há pessoas que levam só um mês para se refazer, mas outas precisam de toda a vida para esquecer o amor que perderam, ou nunca esquecem. O tempo cumpre muitas vezes a função de amenizar a dor da perda, a dor bruta, incomensurável. Mas, se o processo de luto não ocorrer por dentro, não é possível superá-la, não é possível transformar a dor insuportável em suportável. O que isso significa? Bem, significa dizer que a exteriorização da emoção é crucial para o alívio da dor. Conversar sobre a pessoa, chorar, orar, escrever sobre o sentimento, desenhar. Muitas vezes um livro que se lê, um filme que se vê ativa o processo de luto também. Sim, em outros termos, é importante "colocar para fora" o sentimento, não guardar. Ainda em Pedaço de Mim "(...) A saudade dói latejada,/é assim como uma fisgada,/no membro que já perdi (...)". A dor pulsa, incomoda. Há pessoas que insistem em olhar as fotos, ler as cartas. Há outras que não querem ouvir o nome do "falecido" ou da "falecida". Há ainda aquelas que logo põem outra no lugar. Um senhor de 74 anos perdeu a esposa, com quem ficou casado por 30 anos, e um ano depois namorava outra mulher. Todos se indignaram. Mas não se pode julgar, uma vez que cada um lida com suas perdas à sua maneira.
O luto não tem tempo certo. A Psicoterapia também pode ajudar nesse processo. Muitas vezes a pessoa precisa até recorrer a um psiquiatra, tomar antidepressivo por um tempo. Quanto estrago faz uma separação na vida de alguém! Sim, o rompimento pode traumatizar a ponto de a pessoa não querer mais se relacionar com ninguém. Por isso, diante de uma perda é necessário atenção com a própria saúde mental, observar-se para ver se não há uma depressão no processo de luto. Mas se quer viver não é possível se furtar ou correr o risco de viver a dor da perda. Como diz o escritor mineiro João Guimarães Rosa (1908-1967), "Viver é perigoso".
(texto publicado na revista Caras edição 1165 - ano 23 - nº 10 - 4 de março de 2016)
sábado, 25 de junho de 2016
Educando para o futuro - Leandro Karnal
A concepção tradicional de ensino sempre foi uma espécie de taxidermia. O que é isso? Taxidermia é a arte de empalhar animais. Enchia-se um animal morto, colocavam-se olhos de vidro e ele aparentava estar vivo. Os professores tradicionais faziam algo similar: empalhavam o saber, davam aparência de vida e apresentavam aos alunos.
O grande desafio do passado era como passar o conhecimento acumulado da humanidade para que o aluno pudesse enfrentar bem suas funções profissionais e sociais. Educar era empalhar e apresentar como vivo. Os livros eram a fonte, a aula o método e a identificação o verbo principal de avaliação.
O mundo mudou de forma estrutural. O saber fica datado não mais em 50 a 1000 anos, mas em poucos meses. As gerações de conhecimento são rápidas. Educar para o futuro é deixar de lado o taxidermista e despertar a vida em transformação. Não era ruim a educação tradicional, apenas era adequada a um mundo que não existe mais. Servia bem, como um dia serviu o telégrafo ou o trem a vapor.
Hoje, preparamos alunos para aprender, mais do que para repetir. Damos ferramentas de busca mais do que respostas prontas. Hoje, despertamos a curiosidade para que ele enfrente um mundo para o qual, nem ele nem nós, temos consciência de como será.
Assim, ao invés de um conceito fixo, trabalhamos com o processo de selecionar, reorganizar, criticar e restabelecer o conhecimento. Ensinamos a aprender.
É um desafio, porque nós professores não fomos treinados para isso. Mas é uma aventura fascinante, pois além de proporcionar uma educação mais orgânica, tem o poder de desinstalar também as nossas convicções como educadores.
Educar, hoje, é criar, muito mais do que empalhar. Ao invés do animal que pareça vivo, mostramos a vida pulsante e inquieta. Para isso, nós, educadores do século XXI, temos de abandonar várias certezas. Haverá algo mais fascinante do que aprender a criar, em lugar de somente repetir?
(texto publicado na revista The Bear - A revista das escolas Maple Bear nº 8)
quinta-feira, 23 de junho de 2016
Como se acalmar durante um ataque de ansiedade (O Segredo)
Coração acelerado, náuseas, desconforto estomacal e tremores são alguns sintomas de um ataque de ansiedade. Os ataques de ansiedade podem ser assustadores – portanto, é útil saber que você pode limitá-los quando eles ocorrerem. Este artigo listará algumas técnicas que podem ser usadas para você se acalmar.
1) Pratique a respiração profunda. Caso esteja sofrendo de um ataque de pânico, é possível que você esteja começando a hiperventilar. Mesmo que não esteja, respirar profundamente pode ajudá-lo a reduzir o estresse e a fornecer oxigênio ao cérebro para aumentar o foco. Tente dar, no mínimo, 8 respiradas profundas por minuto. Demore 4 segundos para inalar, prenda a respiração por 2-3 segundos e demore outros 4 segundos para soltar o ar.
Se você estiver respirando rápido demais para começar a respirar profundamente, use um saco de papel pardo para desacelerar seu ritmo respiratório. Segure-o sobre sua boca enquanto respira, desacelerando a respiração progressivamente. Desacelere até poder começar seus exercícios de respiração profunda.
Continue a respirar profundamente por vários minutos até poder notar uma diferença em seu relaxamento muscular e na sua clareza de pensamentos.
2) Use diversões cognitivas. Se você estiver no meio de um ataque de ansiedade, distraia sua mente através de diferentes diversões mentais. Por exemplo, conte os números ímpares de 100 a 0, diga o nome de todos os presidentes do Brasil ou declame seu poema (ou canção) predileto. Force-se a fazer uma (ou várias) dessas técnicas até se acalmar um pouco.
3) Pratique o relaxamento muscular progressivo. Este é o processo de desacelerar através do corpo e de retesar e relaxar cada grupo muscular. Isso tem duas finalidades: lhe força a se concentrar em algo que não seja seu medo; e simultaneamente relaxa seus músculos. Comece com os músculos no rosto e vá descendo até ter relaxado todas as partes do corpo.
Retese o grupo muscular por dez segundos – em seguida, libere a pressão. Você pode fazer isso com o mesmo grupo muscular diversas vezes. Ainda assim, fazê-lo uma vez deve bastar.
Grupos musculares grandes que podem ser retesados e relaxados incluem: mandíbula, sua boca (carranca/relaxamento), braços, mãos, estômago, bumbum, coxas, panturrilhas e pés.
4) Tente “parar e substituir”. Este é o processo pelo qual você impede seus pensamentos produtores de ansiedade e substitui-os por reflexões que tragam felicidade ou paz. Por exemplo, se você estiver ansioso por conta de uma viagem de avião e não puder parar de pensar no que pode acontecer caso a nave caia, impeça tal pensamento imediatamente e substitua-o ao imaginar como serão suas férias com seus amigos.
5) Use imaginação guiada. Pense num lugar em que você se sinta em paz e relaxado: poderia ser sua casa, seu ponto de férias predileto ou os braços da pessoa amada. Enquanto pensa nesse lugar, continue adicionando detalhes à cena, de maneira a focar toda a sua mente no campo da imaginação. Sinta-se livre para fazer isso com os olhos fechados ou abertos. Fechar os olhos pode facilitar o processo. Quando sentir que é possível pensar claramente na ansiedade, você pode parar a imaginação guiada.
6) Reconheça sua ansiedade. Ainda que deseje reduzir a ansiedade que sente, você não quer ignorá-la. Reconheça que você está com medo. Analise o medo. É um perigo verdadeiro e presente? Provavelmente, você está usando declarações do tipo “e se?” e entrando em pânico com algo que ainda não aconteceu ou que mal pode acontecer. Compreenda que você está sentindo medo, mas que não há nenhum perigo. Retirar o perigo da situação lhe ajudará a relaxar um pouco.
7) Escreva seus sentimentos. Se você for suscetível a ataques de pânico, crie um diário para escrever textos que expliquem seus sentimentos. Escreva o que você sente, o que lhe causa medo e por que a ansiedade surgiu. Escrever lhe ajudará a focar seus pensamentos, e reler os textos poderá ajudá-lo a controlar melhor a ansiedade.
8) Faça algo. Sentar e ruminar sua ansiedade apenas piorará seu estado e dificultará a superação do pânico. Distraia sua mente e seu corpo ao realizar uma tarefa, ao limpar, ao desenhar, ao ligar para um amigo, enfim, ao fazer qualquer coisa que lhe mantenha ocupado. Preferencialmente, faça algo de que você desfrute como um hobby.
9) Use terapia musical. Crie uma playlist com suas músicas preferidas. Elas podem ajudá-lo a relaxar ou a se sentir feliz. Então, se/quando você tiver um ataque de pânico, escute as músicas e se acalme. Use headphones bons, que impeçam a intromissão de barulhos externos, para poder se concentrar apenas na música. Enquanto escuta, foque em diferentes instrumentos, no som e nas letras. Isso o(a) ajudará a parar de pensar em seus medos.
10) Faça um pouco de exercício. Fazer com que seu corpo se ative libera endorfinas que são responsáveis pelo aumento da sensação de paz e de felicidade. Vá caminhar ou experimente um pouco de yoga; exercícios leves poderão lhe ajudar a relaxar mais que esportes agressivos ou treinos de resistência.
11) Consiga ajuda de um amigo. Se você estiver entrando no mundo da ansiedade e não conseguir sair dele, ligue para um amigo ou membro da família e peça ajuda. Peça para que ele distraia você e analise seu medo para poder superar a sensação de estresse. Se você for suscetível a ataques de ansiedade, ensine aos amigos como eles devem agir durante uma crise sua. Assim, eles o compreenderão e poderão obter ajuda quando preciso.
12) Procure um terapeuta. Se você tiver ataques severos de ansiedade por períodos prolongados de tempo, visite um psicólogo local para obter terapia e conselhos. Você pode ter desordem do pânico ou desordem de ansiedade generalizada. Ambos os casos são normais e podem ser tratados por profissionais. Você também pode receber uma receita que indique medicamentos controlados para a ansiedade caso nenhum outro meio de controlar o pânico surta efeito.
DICAS ESSENCIAIS:
- Cante uma canção. Ela o(a) ajuda a respirar melhor e distrai você do terror de um ataque de pânico.
- Se seu ataque de pânico piorar e você começar a vomitar, tome um banho quente com uma camiseta ou uma toalha sobre seu corpo. Isso o(a) fará se sentir confortável. Relaxe e descanse no banho pelo tempo que precisar. Não apresse as coisas após sair. O melhor conselho é dormir após terminar o banho.
- Se você tiver um ataque de pânico tarde da noite, caminhe pelo quarto e respire profundamente.
- Borrife óleo puro de lavanda misturado com água em um lenço. (Mantenha-o disponível no seu bolso) Os óleos na lavanda ajudam a pessoa a relaxar e a se acalmar durante ataques de ansiedade.
- Exercite-se regularmente. Aprenda técnicas de relaxamento que sejam eficientes para reduzir o estresse. Durma por mais tempo – o sono é absolutamente necessário para quem sofre de ansiedade. Você nunca deve abrir mão dele de propósito.
- Tente beber um copo de chá de camomila durante a noite. Evite cafeína, refrigerantes e nicotina – tais produtos são estimulantes.
- Mesmo que isso seja óbvio para algumas pessoas, sempre se lembre de que sua família existe para apoiá-lo, amá-lo e protegê-lo. Não receie em contar seus problemas a eles, mesmo que isso seja embaraçoso.
Experimente diversas atividades para acalmar sua ansiedade.
Beleza masculina - Walcyr Carrasco
Tenho um pé atrás com o padrão tórax forte e barriga de tanque. A beleza está na naturalidade
Vi a foto de um amigo que foi morar na Califórnia. Está com o queixo quadrado, maxilares proeminentes. Quando saiu daqui, era magro de rosto afunilado. Hoje, é outro. Perguntei o que ele fez e a resposta foi a que ouço sempre:
– Nada.
Foi a mesma que recebi de um ator. Durante uma de minhas novelas, seu rosto permaneceu imóvel. Ia chorar, erguia as sobrancelhas. Ia rir, erguia as sobrancelhas! Desespero absoluto? Sobrancelhas! Não porque seja mau ator. Simplesmente as ditas cujas eram a única parte de seu rosto que se mexia, tal o excesso de Botox! O corpo masculino como um todo mudou. O modelo ideal é o dos viciados em academia. Esculpem seus corpos. Sempre dentro de um mesmo padrão: tórax forte, barriguinha de tanque. Tenho um certo pé atrás com isso. Um corpo-padrão significa o quê? Não é real. A beleza está, penso, em desequilíbrios, em naturalidade. Se assisto a um filme dos anos 1970, é outro universo. Os homens são magros, esguios. Os de hoje correspondem a um padrão de marinheiro americano no início do movimento LGBT. Ou seja, a uma fantasia gay do homem forte. Calma! Não estou dizendo que todos os malhadões são gays. Mas a fantasia gay influenciou a construção de um ideal de beleza masculina. Já aconteceu na Grécia, séculos atrás. Quem vê as estátuas dos atletas nos principais museus do mundo vê que eles cultivavam a beleza masculina. Mas o ideal grego de homem correspondia a uma união entre o físico e o saber. A filosofia ocupava um espaço fundamental na vida grega. No mundo atual, a filosofia cedeu lugar ao Instagram. O Brasil, com suas praias, sempre gostou de cultivar o corpo. É um dos poucos lugares do mundo em que conheço alguém e pergunto:
– O que você faz?
– Eu malho.
Não é uma questão de classe social. O país malha, em todo tipo de academia, pobre ou rica. Ter um abdômen tanquinho parece mais importante que um diploma universitário. Não há um objetivo em si. Mas a vontade de ter aquele corpo. Vem aí uma parte ilegal e perigosa: o corpo perfeito exige bombas. Ou seja, complementos para aumentar o bíceps, por exemplo. Doses cavalares do GH, o hormônio do crescimento. É perigoso se aplicado indiscriminadamente, sem supervisão médica. Nas academias, sempre há alguém que “consegue”. Os bonitões aplicam as injeções em si mesmos. Tragédias? Acontecem sim. Hipertrofias, doenças a longo prazo. Evolução rápida de um câncer. Mas eles não estão nem aí. As vezes que perguntei, me olharam como se dissesse absurdo.
– Não tem problema, daqui a pouco vou ficar trincado.
Trincado é a palavra da moda. Significa que o corpo não tem um grama de gordura extra. As formas e medidas estão perfeitas no padrão. A vida é um sacrifício, claro. Outro dia, falei com um “atleta”:
– O que você come?
– Frango cozido no almoço e no jantar.
Eu entraria em depressão com tal cardápio. Ou criaria penas. Essa vida de sacrifício tem um único objetivo: ser belo. Podem nunca ler um livro, mas muitos postam fotos no Instagram, para receber “likes”. Ou seja, curtidas de fãs. Não estou brincando. Outro dia, olhei o número de seguidores desses rapazes. Um tinha mais de milhão. Só que não fazem nada com isso. Não vira publicidade – homem de sunga serve para publicidade de quê? Ah, bom, só dele próprio, mas aí é melhor nem entrar nesses detalhes.
O fato é que o corpo está sendo tratado como um uniforme. Um traje, assim como o de um besouro. Em vez de andar na moda, a pessoa simplesmente corresponde ao protótipo idealizado de beleza masculina. Parece forte, mas talvez, se entrar numa briga, leve uma surra. Também se supõe que seja bem alimentado, mas passa de dieta em dieta com frango e batata-doce. Conheci um sujeito que antes das férias ficou 15 dias à base de clara de ovo. Para estar “trincado”, já que ia para o litoral. Foi com a mulher, também “trincada”. Os dois só queriam despertar olhares.
Eu penso no futuro, talvez próximo. Todos esses complementos químicos são relativamente novos. A longo prazo, o que podem causar? O tempo na academia é ótimo, mas e a universidade? E o sentido da vida, se é que se perguntam sobre isso? Que vida é essa, cujo único propósito é usar o corpo como um uniforme idealizado?
Eu já sei de muito modelo de sucesso, corpo perfeito, que depois dos 30 anos voltou para o interior para ser ajudante de pedreiro. Bem... quem carrega tijolo não precisa de academia. Mas que vida é essa, cuja maior satisfação é se olhar no espelho?
(texto publicado na revista Época de 23 de fevereiro de 2016)
Depois de ler isso, você nunca mais vai colocar papel higiênico no assento do vaso novamente. Nunca. (O Sagaz)
Banheiros públicos podem ficar nojentos rapidamente. Todo mundo já passou por isto, especialmente as mulheres: ter que ir ao banheiro, mas quando abre a porta, encontra algo repugnante lá. Aí você se pega pensando se você precisa ir tanto assim ou não. Quem sabe quem mais sentou ali antes de você, então, o que fazer?
A resposta parece óbvia: um pouco de papel higiênico no assento do vaso, assim tem pelo menos uma barreira entre o seu corpo e os germes. É muito melhor não entrar em contato com nada que tenha respingado dos outros usuários, né?
Verdade seja dita, esta não é a melhor solução. Na verdade, você nunca deve colocar papel higiênico no assento, porque o próprio assento já é muito bem elaborado. Há muito tempo, as pessoas pensam que o vaso está coberto de germes e nojeiras, e que nós podemos pegar todo tipo de infecções gastrointestinais horríveis, ou coisa pior, dali. Mas, dado o seu formato original e sua superfície particularmente macia, os assentos sanitários previnem as bactérias de permanecerem nele. Além disso, germes não podem se multiplicar na pele nua, então o mero contato com o vaso não é tão ruim assim. O papel higiênico, no entanto, é uma história bem diferente.
É de conhecimento comum que (quase) ninguém abaixa a tampa do vaso depois de dar descarga. Como resultado, todos os germes se espalham pelo banheiro, e também pelo papel higiênico. Ao contrário da tábua do vaso, o papel higiênico é o lugar ideal para juntar germe. Sua superfície é fácil para as bactérias de acomodarem. E é precisamente este papel higiênico cheio de germes que você vai pegar com as mãos e depois, inconscientemente, vai tocar seu rosto, deixando a bactéria com o caminho livre para entrar no seu corpo.
O mesmo se aplica às torneiras e aos secadores de mãos. As pessoas usam as torneiras logo após fazerem suas necessidades, fazendo da torneira um ímã de germes. E ela é tocada novamente depois das pessoas terminarem de lavar as mãos. Com os secadores é a mesma coisa. Na verdade, um estudo recente mostrou que estes secadores de mãos elétricos espalham bactérias em grandes extensões.
Em primeiro lugar, os secadores elétricos mexem com o ar do ambiente, e assim lançam os micróbios e as partículas virais no ar e em todo o banheiro. Em segundo lugar, após lavarmos as mãos, sempre ficam germes residuais, que ao invés de serem removidos pelos secadores, se espalham ainda mais. No geral, quanto maior o fluxo de ar, maior os problemas com germes. As melhores alternativas são as toalhas de papel. Elas te livram mais eficazmente dos germes.
Então é isso. De agora em diante, você talvez olhe o papel higiênico mais criticamente do que assento do vaso. E, da próxima vez que você usar um banheiro público, lembre-se: a tábua do vaso é sempre a melhor opção. É difícil, mas às vezes, imaginar toda a sujeira e nojeira é algo mais vívido do que o próprio risco.
quarta-feira, 22 de junho de 2016
Cauby Peixoto (1931-2016). o maior ator dramático da música brasileira - Diogo Vilela
Cauby Peixoto cantava com a mesma temperatura emocional das divas do teatro, como Fernanda Montenegro ou Nathalia Timberg
O teatro traz uma estranha eternidade aos atores e suas personagens. Por estar na profissão desde muito jovem, pude perceber isso ao ver Marília Pêra em Apareceu a Margarida e, mais tarde, Bibi Ferreira em Gota d’água. Quando Bibi cantava as músicas de Chico Buarque, eu agradecia a Deus por testemunhar aquele momento de harmonia incandescente. Era eletrizante ver aquela mulher fazendo Medeia de um jeito tão brasileiro e tão universal! Eu ficava mudo. Cresci em minha profissão, muito inspirado em Marília, Fernanda Montenegro, Nathalia Timberg e Henriette Morineau. Eu me identificava com aquelas deusas do teatro. Entendi que personagens são como espíritos, não têm sexo e usam a verve do ator para subir aos palcos. Nunca esqueci o brilho de Glauce Rocha e de Cleide Yáconis. Cleide era única. Dominava as palavras com um requinte e uma impostação que dava gabarito ao nosso teatro. Quando acabava o espetáculo, saía modesta, cigarro na boca, para jantar comigo dirigindo seu Fusca pela Avenida Paulista. Ela substituiu Madame Morineau quando esta, de uma maneira delicada, teve um infarto do miocárdio ao fazer uma cena comigo. Ela não queria parar o espetáculo. Segurando com força a minha mão, exigia que eu a deixasse terminar em paz o segundo ato para que aí sim fosse socorrida.
Muitos anos mais tarde, num momento de reflexão e solidão, eu assisti a uma entrevista de Cauby Peixoto. Ele, com seu vozeirão, falava de si mesmo de forma lacônica e macia, mas com uma dramaticidade velada. Quando a câmera fechou em seu rosto, pensei: aí está um personagem vivo de nossa história, com uma voz que transmite a mesma temperatura emocional das divas do teatro. Eu me vi no palco como aquele personagem dificílimo, que não falava muito, mas que, ao cantar, transmitia a mesma dramaticidade dos grandes atores do meu passado. Fiquei nervoso. Estaria sendo muito ousado? Nos dias seguintes, comprei todos os hits de Cauby. Um a um! Devorava as músicas e decorava as suas letras cantando em cima de sua voz durante meses... Meu professor Victor Prochet foi o primeiro a me garantir que eu poderia fazer a personagem Cauby. Disse que eu precisaria apenas trabalhar a técnica. Entramos então no universo de vocalises dificílimos. Corria perigo ao construir uma personagem que ainda vivia e todos amavam. Cauby tinha uma voz única, que jamais poderia ser igualada ou imitada, mas sim recriada. Foram três anos de aprendizado, cantando em cima de sua voz nos CDs, tentando alcançar seus glissandos e seus agudos, tentando perder o medo. Qualquer um que me visitasse passava por um ritual: eu punha a pessoa sentada em uma cadeira confortável, de costas para mim. Colocava o CD de Cauby e soltava minha voz, entoando “Conceição eu me lembro muito bem...”. Ao terminar, pedia o veredicto do convidado. Um dia, minha cunhada interrompeu uma demonstração de “Bastidores”, de Chico Buarque, e me disse: “Está muito parecido, faz essa peça!”. Daí em diante, pude contar com a lucidez de Flávio Marinho, a quem devo muito por ter investido em minhas ideias e por ter escrito o musical Cauby! Cauby!.
Durante um ano, eu e meus colegas de elenco fomos felizes. Aos poucos, tudo o que Bibi Ferreira me ensinara em Gota d’água, em termos de técnica e música, foi transposto para o palco. O resultado foi uma temporada vitoriosa. Na estreia paulista, Cauby foi aplaudido de pé por uma plateia lotada. Ao fim do espetáculo, ele se aproximou, emocionado, me abraçou e disse baixinho no meu ouvido: “Obrigado”. Como se precisasse!
Cauby se foi. Lamento muito não ter sua voz na nova montagem que comemoraria dez anos de Cauby! Cauby! Seria hilário. Na primeira cena, eu estaria dormindo e o telefone tocaria. A voz de Cauby me convidaria a voltar com o espetáculo: “Vai, Diogo, faz novamente que eu vou adorar! E me faz um favor? Começa com ‘Conceição’?”. Tudo se transformaria em cena e, logo após uma cortina dourada se baixar, uma voz diria: “Senhoras e senhores, com vocês, Cauby Peixoto!”. Eu viria em silêncio, vestido de Cauby, mas ainda como Diogo, e me transformaria no maior cantor do Brasil de todos os tempos cantando “Conceição”. Ao receber essa homenagem, Cauby talvez sorrisse. Tenho certeza de que ele ficará feliz em ser eternizado dessa forma. Mas, desta vez, do céu!
Cauby Peixoto interpreta um de seus maiores sucessos, "Conceição"
Diogo Vilela fala do espetáculo "Cauby, Cauby"
Diogo Vilela canta "New York, New York", interpretando Cauby Peixoto
terça-feira, 21 de junho de 2016
segunda-feira, 20 de junho de 2016
O nazismo entre nós - Walcyr Carrasco
Crianças negras sem pais esperam um lar. Mas muitos casais preferem não adotar, por querer um bebê idealizado
Pela primeira vez desde a morte de Adolf Hitler, a Alemanha relança Mein Kampf (Minha luta), único livro escrito por ele e marco das ideias nazistas. Para muitos de nós, é um susto. Embora seja vendido no Brasil, o relançamento do livro na Alemanha causa a desagradável impressão de que o nazismo está pronto para ser ressuscitado. De fato, existem grupos neonazistas em todo o mundo. É assustador. Sem receber esse título, ideias e comportamentos nazistas fazem parte do cotidiano.
Conheci um casal que queria ter um filho, mas o marido era estéril. Foram aos Estados Unidos, escolheram um doador e hoje vivem felizes com seu filho de olhos azuis. No Brasil, é mais complicado. Mas, em vários países do mundo, um casal, seja de que nacionalidade for, pode escolher o pai ou a mãe genéticos de seu filho. O nome do doador não é fornecido. Sua ficha, sim. Nível educacional, características físicas. Conheço dois outros casais, um formado por duas mulheres, outro por dois homens, que optaram pela fecundação no exterior. Ambos escolheram cuidadosamente o tipo físico da criança. Adivinhem? Olhos azuis, pele branca... se eu disser a qualquer um desses casais que estão seguindo os passos do receituário nazista, ficarão ofendidíssimos. Mas esse não era o escopo fundamental de Hitler? A criação de uma raça superior, ariana, com características físicas definidas? Escolher seu futuro bebê com traços arianos é supor que um tipo humano seja mais belo e inteligente que outro. Nada diferente de Hitler, que escravizou francesas durante a ocupação, para fazerem sexo e gerarem filhos com alemães, a fim de “melhorar” a raça. Enquanto isso, por todo o mundo, milhares de crianças negras e asiáticas vivem em abrigos à espera de um lar. Muita gente escolhe não adotar, por querer um bebê idealizado.
Hitler também acreditava no uso do ser humano por outros humanos. Nos campos de concentração, sucediam-se as experiências médicas com judeus. O que aconteceu durante o Holocausto beira o indescritível. O preconceito contra judeus continua existindo. Latente na sociedade, mas em muitas oportunidades explode, em muitos lugares do mundo. As vítimas hoje, porém, são preferencialmente os pobres. O corpo dos pobres é usado para a sobrevivência dos ricos. No Brasil, a venda de órgãos é proibida. Em muitos Estados americanos, não. Li que a China vende até no mercado internacional. Aqui, para o transplante, há uma fila. É mesmo? Um amigo ficou gravemente doente há alguns anos. Foi para um grande e caríssimo hospital de São Paulo. Em um dia conseguiu um transplante do fígado. Está bem até hoje. Parentes e amigos – eu inclusive – respiramos aliviados. Salvo! Mas de onde veio esse fígado? Em um dia? Nada foi dito, mas no fundo achamos justo que tenha sido comprado. Na emoção, aceitamos tranquilamente o tráfico de órgãos humanos. Enquanto alguém, mais pobre, na fila de espera, não recebeu o órgão que lhe salvaria a vida. E os mais pobres que secretamente vendem um rim, por exemplo, para ganhar um extra? Achamos normal, é para salvar a vida de alguém querido. Hitler não concordaria?
Concordaria, sim. Os mais pobres são negros, na maioria. Assim como os países africanos vivem à mercê de epidemias e mergulhados na miséria, os pobres do Brasil são segregados. Não vivem em campos de concentração, exatamente. Mas a violência da vida numa favela da metrópole é avassaladora. Os pobres são explorados por traficantes e milícias. A vida não vale nada. Pior: se a polícia mata alguém sem explicação, há uma diferença nítida. Se é de classe média, escândalo absoluto. Se é favelado, miserável, pode haver até um barulho no início. Depois, o assunto é abafado. A mãe chora pelo filho, eu e você comentamos que aqui não tem jeito mesmo. Como os soldados de Hitler, nossa polícia tem o direito de matar. Não oficial, mas implícito.
Sabe-se que há um tráfico de bolivianas para São Paulo. São presas em oficinas de costura. Coreanas também. Tomam delas o passaporte, obrigam-nas a dormir e comer onde trabalham. Salário, fica por conta da passagem, da comida. O trabalho escravo foi revivido por Hitler. Eram os judeus. Aqui, são bolivianas e coreanas.
E temos nos Estados Unidos um pré-candidato à Presidência, Donald Trump, bem colocado nas pesquisas, que promete construir um muro entre Estados Unidos e México. Quem, afinal, venceu a Segunda Guerra Mundial?
(texto publicado na revista Super Interessante de janeiro de 2016)
domingo, 19 de junho de 2016
Nazistas contra o papa - Rita Loiola
Invadir o Vaticano, sequestrar o papa Pio 12 e levá-lo para o norte. Foi por muito pouco que os nazistas não cumpriram essa missão.
O telefone acordou Karl Wolff bem cedo na manhã de 13 de setembro de 1943. Do outro lado da linha, o aviso de que Adolf Hitler queria vê-lo imediatamente. O general vestiu o uniforme com pressa e tomou o caminho que separava seu quarto do bunker do führer. Enquanto percorria os extensos corredores, imaginava o que estava por vir. Três dias antes, as tropas alemãs haviam entrado em Roma. Hitler tinha sede de vingança contra os italianos desde junho, quando eles depuseram seu aliado Benito Mussolini. Quando Wolff chegou ao bunker, o ditador foi direto:
"Tenho uma missão especial para você, Wolff", teria dito Hitler, conforme o depoimento de Karl Wolff anos depois. "Suas tropas devem ocupar o Vaticano o mais rápido possível, proteger seus bens e levar o papa e a cúria para o norte. Não quero o pontífice nas mãos dos Aliados. O Vaticano já é um ninho de espiões e um centro de propaganda anti-nazista. Arranje os detalhes mais importantes e dê notícias a cada duas semanas."
Comandante da SS na Itália, Karl Wolff saiu da sala decidido não a executar o plano de que Hitler lhe havia incumbido, mas a sabotá-lo. Essa é a tese do jornalista americano Dan Kurzman, especializado na 2ª Guerra Mundial e autor do livro Conspiração contra o Papa, recém-lançado no Brasil. Kurzman foi o primeiro jornalista a entrevistar o general Wolff logo depois de ele sair da prisão, em 1969. Baseado nessa e em outras entrevistas com embaixadores e generais nazistas, Kurzman tentou reconstituir os meses em que o führer quase invadiu o Vaticano. "O papa sempre soube que Hitler queria acabar com o cristianismo", diz Kurzman. "Mas o perigo se tornou real apenas no fim de 1943, quando o ditador italiano Benito Mussolini foi deposto. "Para Hitler, era preciso acabar com a dupla ameaça que o papa representava. Ele temia, por um lado, uma declaração pública de Pio 12 contra o massacra dos judeus, que poderia levar quase metade dos soldados, alemães católicos, a se voltarem contra o führer. Por outro, o ditador sabia que o papa era um forte líder espiritual - que poderia influenciar as almas.
Para o general Karl Wolff, porém, raptar o papa era loucura. A invasão do Vaticano poderia causar um levante da Itália e de todos os católicos do mundo contra a Alemanha. Incumbir-se dessa missão era ainda pior. Ocupando um cargo no alto escalão da SS, organização por trás do Holocausto, Wolff temia ter seu nome associado ao rapto e, possivelmente, ao assassinato de Pio 12. A única maneira de esse plano insano ser útil era sabotá-lo. Se a Alemanha perdesse a guerra, a bênção de sua Santidade poderia salvar a vida dele, que já tinha seu nome ligado à deportação e morte de milhões de judeus. Por isso, naquela manhã em que Hitler lhe passou a ordem, Wolff sabia exatamente com quem deveria falar.
Os sabotadores
A primeira atitude do general foi pedir ajuda aos colegas "anti-Hitler" de Roma. O primeiro a saber do projeto que deveria continuar em segredo foi Rudolf Rahn, o embaixador alemão na Itália. Os dois logo entraram em contato com Ernst von Weizsäcker, o embaixador alemão para o Vaticano. Todos concordavam que a invasão deveria ser cancelada. Mas, para isso, o próprio papa precisaria ajudar.
Em setembro de 1943, o Vaticano estava nas mãos dos nazistas. As saídas da sede da Igreja estavam frechadas pelo Exército alemão. No início do mês seguinte, Hitler ordenou a prisão dos judeus romanos. Os nazistas que tentavam salvar a vida de Pio 12 achavam que, se se prisões ocorressem, o papa não teria alternativa senão falar publicamente contra o massacre, provocando o próprio rapto. Por isso, para salvá-lo, era preciso mantê-lo quietinho.
A melhor forma de fazer isso era metendo medo no pontífice. Segundo Kurzman, o primeiro artifício que os nazistas da Itália usaram foi uma notícia sem muitos detalhes em uma rádio pirata fascista avisando sobre um suposto sequestro do papa. A mensagem pipocou em alguns jornais e chegou até Pio 12. No dia seguinte, o secretário dele chamou o embaixador Weizsäcker para uma audiência. Sua Santidade havia mordido a isca.
Anos depois, o diplomata escreveria que, assim que entrou no escritório do líder católico, a primeira coisa que notou foi seu olhar sereno. Quando tocou no assunto do sequestro, sua expressão não se alterou. "Ouvi rumores", teria dito Pio 12. "Mas permanecerei em Roma a qualquer custo." Weizsäcker, segundo instruções recebidas de Berlim, perguntou se ele faria um elogio público à boa conduta alemã. O papa teria garantido que sim, se os nazistas prometessem não tomar nenhuma atitude hostil contra o Vaticano. Em outras palavras, se o sequestro fosse cancelado, o papa confirmaria o "bom tratamento" alemão.
O embaixador deixou o Vaticano com a promessa de que entraria em contato com Berlim sobre a troca de favores. E o pontífice entendeu que a ameaça alemã era real e próxima - mas não passaria disso se ele honrasse seu voto de silêncio. Mas mandou esconder todos os arquivos pessoais e documentos do Vaticano sob pisos falsos. Membros da cúria prepararam as malas para acompanhar seu líder em caso de uma fuga de emergência. Ele precisaria dessas garantias para os próximos dias. O chefão da SS, Heinrich Himmler, já havia ordenado que os cerca de 8 mil judeus de Roma fossem presos em 16 de outubro de 1943.
O dilema
O bairro judeu de Roma ainda dormia quando a SS tomou as ruas naquele 16 de outubro de 1943. A chuva desabava enquanto 365 soldados da polícia alemã abriram portas aos chutes, gritando o nome dos procurados. Antes das 6 horas, homens, mulheres e crianças estavam enfileirados e jogados em caminhões, sob a chuva sem trégua. Ao fim, 1.256 dos 8 mil judeus de Roma foram presos e 1.002 foram deportados naquele dia. Uma semana depois, morreram em Auschwitz. Pio 12, como nunca se pronunciou publicamente sobre a prisão dos judeus, entraria para a história como "o papa de Hitler". Entre outros temores que o levaram a silenciar o massacre, estavam seu sequestro e a aniquilação do Vaticano. "Além dos mais, ninguém podia ter certeza de que o pronunciamento teria ajudado a salvar algum judeu", diz Antônio Marchionni, professor de teologia da PUC-SP. "O mais provável é que não somente ninguém fosse salvo como também as instituições católicas que abrigavam milhares de judeus fossem retaliadas."
Na época, esse também era o raciocínio da embaixada alemã no Vaticano. Em 1963, o embaixador alemão Albrecht von Kessel escreveu: "Estávamos convencidos de que um protesto do papa contra a perseguição dos judeus não terai salvado ninguém. Hitler reagiria com violência a qualquer ameaça que fosse enviada diretamente a ele". Existe ainda a possibilidade de que mais judeus fossem mortos se o papa se pronunciasse. Sabe-se hoje que, dos cerca de 8 mil judeus que restavam em Roma, entre 4 mil e 7 mil foram abrigados em 180 edifícios católicos, entre igrejas, monastérios, instituições de assistência e também no próprio Vaticano.
No entanto, o dever moral de lutar contra o assassinato de milhares colocava o líder da Igreja em um dilema. "Pelo lado prático, o papa Pio 12 sabia que seu pronunciamento não apenas não barraria o assassínio dos judeus mas somaria ao Holocausto o ataque aos católicos e o provável fim da instituição que defendia", afirma o jornalista Dan Kurzman. "Na verdade, Pio 12 não tinha escolha. Olhando pelo lado moral, porém, ele tinha a obrigação de se colocar contra o massacre."
De um lado, atemorizado pelas próprias inseguranças, de outro, pela chantagem alemã, Pio 12 permaneceu mudo. Duas semanas depois daquele sangrento 16 de outubro, o papa cumpriu sua promessa ao embaixador alemão. Publicou no jornal do Vaticano, L'Osservatore Romano, um comunicado expressando sua gratidão às tropas alemãs por terem respeitado a Igreja. O artifício do embaixador Weinsäcker havia funcionado. Mas o papa ainda teria que passar por cima de seus interesses mais uma vez até o fim da guerra para garantir sua segurança.
O encontro final
Em março de 1944, o Exército russo chegou a Roma. Uma bomba dos comunistas atingiu o exército alemão que marchava pela Via Rasella, em Roma. Os estilhaços mataram 32 soldados alemães. As ordens do führer foram expressas: para cada morto, 10 italianos deveriam ser sumariamente executados. Weizsäcker e Wolff haviam conseguido silenciar o papa durante a prisão dos judeus. Mas ele permaneceria calado frente a um massacre italiano? O plano do rapto, que estava dormente, voltou a assombrar a embaixada alemã.
Wolff havia chegado à cidade na noite do massacre com ordens expressas para levar a cabo a deportação dos romanos. E, diante desses fatos, tinha certeza, o papa não continuaria impassível. O único modo de evitar uma tragédia no Vaticano - e salvar o futuro de Wolff - era conversar pessoalmente com o pontífice.Como apenas o embaixador Weinzsäcker estava autorizad a entrar no Estado da Igreja, a reunião teve que ser secreta. O encontro clandestino entre o líder da Igreja e o comandante da SS na Itália aconteceu no dia 10 de maio de 1944.
O general Karl Wolff reservou ao papa a mesma deferência que tinha para Adolf Hitler. Recebeu seus protestos em silêncio e garantiu que faria o possível para impedir prisões e deportações, acalmando os ânimos do führer. No entanto, ainda temendo seu sequestro, o pontífice deixou claro que não sairia do Vaticano de jeito nenhum, nem deixaria de lutar pelos princípios cristãos de sua Igreja. Wolff assegurou com veemência que tentaria cancelar qualquer projeto de sequestro ou sabotagem de Roma. Acreditando no compromisso do general, o líder da Igreja Católica deu sua bênção ao amigo íntimo de Heinrich Himmler, e um dos executores do Holocausto. Wolff se despediu juntando os joelhos e erguendo o braço - o cumprimento nazista. Pouco mais de um mês depois do encontro, as tropas americanas entraram em Roma, expulsando os nazistas. A missão secreta de Karl Wolff nunca chegou a ser cumprida. Pio 12 deixou o Vaticano apenas em 1958, quando morreu.
Karl Wolff
Depois de evitar o sequestro do papa Pio 12, Wolff foi um dos principais negociadores da Operação Sunrise, que articulou a rendição completa dos nazistas que ocupavam a Itália. Preso pelos aliados em 1945, foi condenado a 5 anos de prisão em 1947 acusado de ser membro da SS. Em 1962, foi condenado mais uma vez, por ter contribuído para mandar 300 mil judeus para o campo de Treblinka. Em 1969, foi posto em liberdade por causa de problemas de saúde. Morreu em 1984.
Ernst von Weizsäcker
Preso em 1947, foi condenado a 5 anos de prisão, morrendo em 1951. Sua condenação ocorreu sob protestos - alguns políticos, entre eles Winston Churchill, eram contrários à prisão de Weizsäcker porque ele teria trabalhado contra a vontade de Hitler. Seu filho Richard von Weizsäcker foi chanceler da Alemanha entre 1984 e 1994.
(texto publicado na revista Super Interessante edição 225 - agosto de 2008)
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