Uma amiga fez uma dieta detox. Emagreceu, mas ficou completamente maluca
A grande batalha da minha vida é contra a barriga. Qualquer coisa basta para aumentá-la. Se como uma cocada, a calça já não fecha. Tenho ódio quando boto uma camisa e fica aquele botãozinho estourando no umbigo. Pior: se inicio um regime, perco tudo no rosto. E a barriga continua grande! Encontrei um motivo sério para perdê-la. Explico, sábio:
– Segundo a medicina, a barriga masculina é perigosa, porque induz à síndrome metabólica.
É verdade. Induz. A tal síndrome implica diabetes, risco cardiovascular e uma porção de horrores. A verdade: quero perder a barriga para olhar no espelho e sorrir. Simples assim. Já sei que não me tornarei, aos 60, um gatão musculoso e atlético. Mas também não quero ser derrotado pelas banhas. Já tentei vários regimes, todos com médicos, nutricionistas ou nem sempre. E conheço gente que também entrega o corpo à próxima novidade.
Uma vez o médico prometeu:
– Você emagrecerá 8 quilos em dez dias.
A dieta consistia em tomar um remédio – HCG – para simular que eu estava grávido! Explico: o tal remédio lançava hormônios que diziam ao corpo que eu estava esperando um bebê. Aí, eu parava de comer carboidratos. E só um mínimo de proteínas.
– O seu corpo pensará: eis uma grávida no deserto.
A resposta do corpo seria jogar todas as gorduras acumuladas para salvar o “bebê”. Como o bebê não existia, o emagrecimento seria uma consequência natural. Não podia nem fazer massagem com óleo, pois o corpo, sábio, aproveitaria até o próprio para criar gordura. Nem ginástica, para não gastar energias, tal o mínimo de alimento. Resisti. Óbvio: durante o regime, um amigo deu uma festa fantástica, inesquecível. Com um dos melhores jantares que já vi. Só de olhar a mesa de doces engordei. Mas resisti. Fiquei só no salmão cru da entrada. E fugi antes que fosse derrotado pela gula. Dez dias depois tinha perdido 2 quilos.
– Tanto sacrifício para perder só isso?
– É o seu metabolismo – explicou o endocrinologista. – Se quiser tentar outra rodada, espere 15 dias.
Saí correndo do consultório.
Tive um alívio quando outro me propôs a dieta cetogênica. Só à base de proteína. Eu podia comer bacon, churrasco, à vontade. Café da manhã, bacon! Almoço, picanha! Jantar, presunto, mortadela, salsicha! Queijos amarelos. Nozes! Só era preciso eliminar os carboidratos. Pensei ser feliz, enfim! Vamos confessar, quem não adoraria sobreviver à base de picanha, bacon e mortadela? Mas o problema...bem, esses alimentos sem os carboidratos produzem uma reação química no organismo. Aceleram o metabolismo e queimam as gorduras. Mas se você dá uma fugidinha... fui traído por uns pãezinhos franceses. A reação química se inverteu! Engordei 8 quilos de uma vez só!!! Oito, 8!
Sou só eu? Tenho um amigo modelo. Alto e magro. Candidatou-se a um desfile. O pedido do estilista:
– Você está aprovado, mas tem de perder 6 quilos.
Tinha uma semana. Inventou ele mesmo a dieta. De manhã, uma omelete de cinco ovos. No almoço, mais cinco. Completava 18 até o anoitecer. Como não suportava mais o sabor, engolia os últimos crus, de uma vez só. Perdeu os 6 quilos. Mas entrou em depressão. Agora voltou ao normal: tapioca com ovos de manhã, frango no almoço, frango no jantar, cinco ovos antes de deitar. Motivo: ovos são proteína pura, sem sódio. É vida?
– Só como frango! Tenho ódio só de olhar frango! – desesperou-se outro.
Uma amiga fez uma dieta de desintoxicação, a Master Cleanse. Por 15 dias só tomava limão espremido com pimenta- caiena, xarope de bordo e água. Emagreceu, mas ficou absolutamente doida. Foi o momento em que, diante de todos ingredientes, desisti de tentar mais essa. Já sou meio doido, seria internado.
Um ser humano costuma consumir 2.500 calorias por dia. Óbvio, muitos regimes dão o truque nas calorias. A mais extrema é a que propõe só 500. Já vi muitos tentarem. Poucos conseguiram, pois a vida se torna insuportável.
Comecei outra, com uma admirável nutricionista. No momento estou tomando um shake à base de farinha de maracujá, farinha de berinjela, proteína de carne e chocolate. Não existe sabor mais horrível. Mas tenho de me contentar, pelo menos enche o estômago. Ao deitar, terei direito a oito amêndoas. É o que resta para o dia. Diante de tantos exemplos, tentativas e reflexões, eu deveria ter escolhido a felicidade. Mas nada. Sofro. E a barriga continua lá, estourando os botões no umbigo!
(texto publicado na revista Época de maio de 2016)
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