Existiu na antiga Grécia um filósofo chamado Epicuro, a quem ficou relacionado o conceito de um modo de vida voltado aos prazeres. No entanto, o que de fato Epicuro defendia era uma vida muito simples. Os seus maiores prazeres estavam em conviver com os amigos, alimentar-se de legumes e frutas, sendo o queijo considerado por ele um manjar. Além disso, afirmava que deveríamos ter autonomia para não dependermos muito das necessidades dos bens materiais. Para concluir sua tese para a felicidade, recomendava que refletíssemos, com frequência, sobre o sentido que dávamos ao nosso comportamento na vida.
Apesar de alguns criticarem ainda hoje seu estilo um tanto hedonista (o prazer por centro da vida), em Epicuro verifica-se o ditado popular: ninguém é tão pobre que não possa dar algo, assim como ninguém é tão rico que nada possa receber". Ou seja, ainda que se critique o antigo filósofo nos seus hábitos - ele viveu há mais de 2 mil anos - não podemos negar que ele ainda tem o que contribuir ao estilo de comportamento que muitas pessoas vivem no século XXI.
O cotidiano frequentemente leva a nos acostumarmos com muitas situações que perdem a sua "graça" por se tornarem rotina. Quando dispomos de um tempo, vamos em busca de algo mais sofisticado, diferente, que possa nos distanciar do comum. Será que assim alcançamos momentos de maior alegria, ou mesmo a felicidade? Nem sempre. O esforço desproporcional pode contribuir para a frustração do que se desejava. Exemplo marcante está no almoço de domingo. Verifica-se com antecedência um lugar. Procura-se chegar mais cedo. Até economiza-se para se pedir um prato mais caro. Consegue-se uma mesa, que pode demorar horas, almoça-se com os olhos apressados do garçom pela fila, com o filho olhando mais no celular do que falando com você, e corre-se o risco do cozinheiro ainda não estar no seu melhor dia.
É evidente que quebrar a rotina e esforçar-se por oferecer algo diferente e melhor à família é muito recomendável. Contudo, Epicuro dizia que mais importante que o lugar e a própria comida, era pensar na companhia com quem se faz a refeição. De fato, uma boa macarronada com frango, no quintal de casa (para se dizer que almoçou fora), sem pressões, e muita conversa (sem celulares), com doce de banana de sobremesa e um bom café, podem criar um ótimo ambiente, se houver alegria na participação dos que estiverem à mesa.
É preciso encontrar o encanto do "macarrão com frango" em tantas circunstâncias da vida, que a tornam mais simples, com menores dependências e sofisticações, principalmente nos dias que se andam nos últimos tempos. Insisto que não se nega, quando se pode, o valor de empenhar-se por algo diferente que possa agradar mais. O que não se pode esquecer é que podemos e devemos encontrar a felicidade nas coisas simples da vida, como agradecer a beleza da flor do jardim (que passamos todos os dias sem notar), o "bom-dia" sorridente do vizinho idoso sentado na porta de casa, quando saímos; o sol que, pontualíssimo, se apresenta todos os dias; o emprego que nos permite ganhar o pão; a saúde que nos permite trabalhar; a fé que nos alimenta a esperança do por que estamos aqui.
Simplicidade de vida, ou seja, ser o que se é, independentemente de onde estamos, procurando comportar-nos melhor a cada dia, sabendo que a vida depende de descobrir a riqueza da felicidade nas coisas simples, e não aguardar que a felicidade só se encontrará nas riquezas.
(texto publicado no jornal O São Paulo edição 3106 - ano 61 - 15 a 21 de junho de 2016)
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