segunda-feira, 13 de junho de 2016

16 doenças mentais que confundimos com virtudes - Frederico Mattos (Sobre a vida)


O que diferencia um comportamento razoável de outro patológico é a intensidade, frequência e grau de prejuízo que causa para a própria pessoa e os outros. Nossa sociedade não é das mais saudáveis mentalmente, visto que psicopatas são CEO’s, estelionatários podem ser políticos e malandro é o bon vivant encostado em casa e sustentado pelos pais. Então o fato é que aquilo que é visto como virtude na real pode dar indícios de um fundo patológico que ninguém percebe.

Aquela pessoa ultra-alegre que sempre anima as festas pode ser afetada por algum transtorno de humor sem que você desconfie. A virtude é sempre um comportamento opcional, como alguém que poderia ficar fechado, mas prefere se relacionar com os outros, ou seja tem liberdade real de fazer uma coisa ou outra. Agora, se a pessoa não tem a opção de se abrir e ter outro comportamento, então o fato de se fechar não é uma virtude, mas uma prisão psicológica. Essa lista não é definitiva nem deve ser tomada ao pé da letra, mas vista com certa leveza e bom humor, enxergando uma pista para aquele comportamento estranho do seu vizinho, parente, amigo ou parceiro amoroso. Em última instância você também pode estar na lista.

Nem todas as pessoas que têm essas características têm a psicopatologia, mas todas as pessoas com o distúrbio costumam ter esses pontos em comum, ou seja, um item isolado não faz o diagnóstico completo (normalmente mais de cinco em cada patologia).


Sexy – a sensualidade está longe de ser um problema, principalmente em contexto adequado ela é um afrodisíaco para conquistar alguém para intenções afetivas ou sexuais. Mas se ela é inadequada, invasiva, exagerada, dramática e acompanhada de uma necessidade desesperada de chamar atenção pode ser sinal de Transtorno de Personalidade Histriônico. Esse anseio por admiração e comportamento persistente e manipulativo pode apontar para sérios problemas de relacionamentos e impedir uma vida com estabilidade emocional e construção de histórias consistentes e significativas. 

Dedicação pessoal excessiva ou devota – existem pessoas que vivem de maneira quase religiosa seus relacionamentos amorosos, endeusando seus parceiros como se fossem a única razão de viver. Elas costumam ter comportamentos parecidos com time de futebol, partido político ou religião, pois caem de cabeça e demonstram uma fé “inabalável”. Se essa entrega toda vier acompanhada de um sentimento de vazio intenso e oscilações de humor e comportamentos destrutivos, pode estar longe do seu eixo pessoal e ter indícios de um transtorno difícil de diagnosticar como o de Personalidade Borderline. 

Obstinação – a pessoa que persegue os próprios objetivos pode chegar muito longe. O problema é quando, sem nenhuma perspectiva, ela segue como um trator insistindo teimosamente no resultado ao qual se apegou na imaginação. Pode ter uma personalidade obsessiva e não ser alguém que segue seus sonhos. Mesmo que quisesse desistir não conseguiria, mas não porque é virtuosa e sim por padecer do transtorno de personalidade obsessivo.

Bonzinho – uma pessoa de bom coração sabe exatamente quando deve ou não ajudar a outra e sabe se posicionar sobre sua capacidade de beneficiar ou dar um basta. Já as boazinhas podem ter um comportamento submisso, passivo e dependente da aprovação de outras pessoas. Fazem o bem mais por medo, covardia ou falta de opção do que por virtude. Na verdade não sabem se posicionar e enfrentar as pessoas de frente. Ela pode ser portadora de Transtorno de Personalidade Dependente e nem saber que na verdade se submete por não ter capacidade de seguir suas próprias escolhas. 

Organização pessoal – é lindo ver uma casa bem arrumada sem ter que ficar falando para as visitas “não repara na bagunça”. O problema é quando a pessoa é obcecada por deixar tudo limpo e não consegue sentar quieta e relaxar se algo está fora do lugar. Ser limpo e organizado é sinal de saúde, mas ser obcecado por isso pode ser doença. 

Dieta incrível – sabe aquela pessoa que você tem inveja porque faz dieta à risca ou que malha desesperadamente para ter barriga negativa? Pois é, se essa pessoa consegue ter uma filosofia de vida, é natural, tranquilo e opcional, está tudo certo. O problema é se ela faz isso como resultado de uma sensação crescente de ansiedade caso não malhe ou esteja no peso, ou se ela tiver sempre a certeza de estar fora do peso (muito acima) e não consegue perceber que já está muito magra ou musculosa. Nesses casos, pode haver uma suspeita de um Transtorno Dismórfico Corporal, que altera a imagem corporal, faz a pessoa não notar com precisão qual a forma real e usar métodos cada vez mais drásticos para chegar no ponto “ideal”. 

Meiguice – uma pessoa querida, calada, que aceita tudo e não se opõe a nada pode ser só uma pessoa meiga e querida. Mas se ela nunca consegue se posicionar, enfrentar obstáculos e barrar abusos então talvez tenha algum problema de fobia social que a impede de lidar com acontecimentos da vida cotidiana sem ficar alarmada imaginando uma catástrofe. 

Alegria intensa – ter na turma de amigos alguém que sabe se divertir e tem mil ideais é indispensável. Mas se esse amigo não consegue para quieto, fala pelos cotovelos, é inconveniente, se acha a pessoa mais incrível do mundo e perde a noção do bom senso, pode ser que esteja num acesso de mania e precise de tratamento. 

Autenticidade – tem gente que acha que é uma virtude falar tudo que vem na cabeça. Ledo engano. A incapacidade de filtrar os conteúdos mentais e falar qualquer coisa inconveniente na mesa do jantar pode ser sinal de verborreia um sintoma que está presente em várias doenças mentais.

Produtividade – é bem verdade que ser uma pessoa produtiva ganha destaque no mundo em que vivemos, mas o problema é se esse desempenho é resultado do excesso de necessidade de se antecipar, fazer tudo com perfeição tendo controle de cada tarefa e “fazendo tudo para ontem”. Um desempenho aparentemente formidável pode ter como pano de fundo a ansiedade. 

Perfeccionismo – quando alguém se gaba de que seu único defeito é ser perfeccionista acredite. O perfeccionismo pode tornar uma pessoa ranzinza, chata, metódica, procrastinadora e de presença pesada e cheia de impedimentos. Transtorno de personalidade obsessiva pode estar acometendo essa pessoa que na verdade não consegue caminhar com tranquilidade pela vida e está sempre pressionada por um ditador interno. 

Pessoa cheia de opinião – ele pode até ser o líder da turma e tomar a dianteira de todas as conversas, digno de inveja, mas se ele não tiver um tempero de afetuosidade, capacidade de dar espaço para os outros brilharem e terem sua vez pode ser que você esteja na presença de um portador de Transtorno de Personalidade Narcisista. Certamente a presença dessa pessoa pode ser legal por alguns minutos, mas com o tempo você terá vontade de manda-la calar a boca de tanto autoelogio que ouvirá. Muitas pessoas com personalidade passiva costumam se associar aos narcisistas, mas certamente é o tipo de pessoa que acaba falando sozinha e dizendo que os outros “têm inveja dela, por isso se afastam”. 

Diversão no bar – tem sempre um amigo que é o primeiro a chegar no bar e o último a sair e provavelmente aguenta todas as rodadas com todo mundo. Está presente em todas as reuniões e sempre entornando um copo na mão, se gabando de que não é fraquinho para bebida. Pode ser que ele esteja no grau mais alto de alcoolismo, que implica numa tolerância maior ao álcool e uma impossibilidade de se divertir sem o acessório etílico na mão. Se ele só sabe se divertir bebendo e está sempre forjando um encontro social para ter ocasião de beber isso já é uma pista. 

Liderança assertiva e dura – é muito comum grandes chefões de empresas terem comportamento impiedoso, frio, preciso e até cruel. Há quem admire essa filosofia pitbull que esmaga quem se oponha ao seus interesses, mas a realidade é que isso pode ser sinal de Transtorno de Personalidade Antissocial, a antiga psicopatia. 

Justiceira – ter senso de justiça e lutar para que os direitos sejam cumpridos é um dever de todo cidadão, mas o problema é quando isso vira justificativa para acessos de descontrole emocional, raiva e atitudes violentas. A raiva costuma ser resultado de pessoas perfeccionistas que se acham superiores aos outros e imaginam que sempre têm razão. Pode ser que esse comportamento seja resultado do Transtorno Explosivo Intermitente e mereça atenção especializada. 

Visionárias – existem pessoas que parecem ter a cabeça na lua e viver com ideias extraordinárias que nunca saem do papel, mas que são sentidas como incríveis e à frente de seu tempo. Muitas vezes esse comportamento excêntrico que é visto com certo humor por pessoas queridas pode ser resultado de um quadro mais grave de Transtorno de Personalidade Esquizotípica que leva essas pessoas a se sentirem isoladas e esquisitas frente às demais.

ALERTA: o importante é ver nessas características indícios para buscar mais informações, sem que se faça um autodiagnóstico descuidado. Para isso, procure a associação de um especialista médico psiquiatra e de um psicólogo para suporte emocional.

Nenhum comentário:

Postar um comentário