Linha imortalizada por "Trem das Onze" vira tema de documentário
Em 1964, o sambista Adoniran Barbosa disse que não podia ficar nem mais um minuto com sua amada. Tudo porque morava em Jaçanã (o que, na verdade, era apenas uma licença poética para a música). Se perdesse o trem das 11, só voltaria para casa na outra manhã - além de provocar uma noite de insônia em sua pobre mãe. Assim, sem querer, imortalizou a linha do Tramway, condutora do tal trem.
O "trem das 11" existiu mesmo, e funcionava desde 1894. Construído apenas para instalar e levar dutos de água da região da serra da Cantareira ao centro de São Paulo, onde a vida urbana já efervescia, ele foi extinto no ano seguinte ao do sucesso musical, em 1965. Ninguém imaginava, na época de sua construção, que aqueles pequenos vagões sobre a bitola de 60 centímetros seriam tão populares.
No início do século 20, a linha passou a ser utilizada pelos paulistanos que queriam fughir da vida urbana para passar aprazíveis tardes na Cantareira. O crescimento da população, no entanto, acabou expandindo bairros até então distantes, como Santana, Jaçanã e Tremembé. E os moradores de lá começaram a usar o trem também para se locomover para o trabalho. A partir de 1940, as bitolas foram expandidas para 1 metro, a fim de adaptar os trilhos ao número de passageiros - em 1945, eram 20 mil por dia. Ao mesmo tempo, ninguém esquecia que a linha tinha seus dias contados desde sua criação, pois tinha sido feita só para o transporte dos dutos de água. As vias para carros e ônibus, já na década de 50, expulsaram-na gradativamente da capital.
Os vagões, já ultrapassados no fim dos anos 50, custavam caro: com as passagens baratas e grande parte da despesa subsidiada, o carvão mineral que o movia foi substituído por lenha - isso quando os vagões a diesel já existiam. "O trem começou a ser criticado. A fuligem queimava as roupas dos passageiros e eles eram identificados pelos outros como usuários do trem", diz Rogério Nunes, produtor de Nos Trilhos do Trem das Onze, em cartaz em novembro no Sesc Santana, em São Paulo, junto à exposição de fotos que conta a evolução da cidade nos 71 anos de vida da ferrovia. O filme deverá ser exibido em mostras de cinema pelo país no ano que vem.
(texto publicado na revista Aventuras na História edição 51 - novembro de 2007)
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