domingo, 28 de setembro de 2014

Os pais não enxergam a obesidade infantil - Jairo Bouer


As crianças brasileiras estão engordando, e muitos pais não percebem. Para piorar, o sedentarismo infantil, um dos maiores fatores de risco para obesidade, se torna um padrão habitual de comportamento em muitas famílias. Alguns trabalhos divulgados nas últimas semanas dão a dimensão do problema.

Diversos países têm identificado sobrepeso e obesidade crescentes entre crianças. O Estudo Internacional de Obesidade, feito com 6 mil crianças de 10 anos, em 12 cidades de diferentes países, mostrou que três em cada dez crianças estão nessa situação. Na cidade brasileira de São Caetano do Sul, o índice chega a quase quatro em cada dez crianças.

Nos EUA, um novo trabalho da Universidade da Carolina do Norte, divulgado no jornal The New York Times na última semana, contestou a divulgação recente de que a obesidade na infância (entre 2 anos e 5 anos) diminuiu no país entre 2004 e 2012. O dado foi interpretado como resultado de uma possível conscientização dos pais sobre a importância de dieta saudável e de atividade física dos filhos pequenos.

Os pesquisadores mostraram que, quando se estuda um intervalo maior de tempo (de 1999 a 2012), se percebe que essa redução de peso nunca ocorreu. Parece ter acontecido que, em 2003 e 2004, houve um pico de notificações. Isso levou, dizem eles, a um erro de interpretação dos dados no curto prazo.

No Brasil, outro estudo, feito pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo, em Itupeva, interior do Estado, com 400 crianças menores de 3 anos, mostrou que quase um terço delas apresentava excesso de peso, mas só 20% das mães percebiam o problema.

Falta de atividade física regular, alimentação com excesso de calorias, mais tempo na frente das telas dos computadores e menos sono são alguns dos fatores identificados pelas pesquisas para explicar o aumento de peso entre as crianças.

Não é difícil entender o que ocorre. Com pais ocupados, falta de segurança, problemas de mobilidade nos centros urbanos e o fascínio que a tecnologia exerce sobre a garotada, fica difícil fazer o jovem sair de casa e se movimentar. As dietas mais fáceis de preparar e consumir costumam ser muito calóricas e pouco saudáveis.

Muitos pais não têm tempo nem paciência de mobilizar os filhos para atividades físicas e para comer melhor (em geral, isso dá mais trabalho). Para pais que, muitas vezes, também são sedentários, comem mal e estão acima do peso, o sobrepeso dos filhos pode ser menos importante. Até a percepção do excesso de peso fica comprometida. Criança sedentária e com excesso de peso tem muito mais chance de ser um adulto nas mesmas condições. No longo prazo, isso pode ser péssimo para a saúde.



(texto publicado na revista Época nº 830 - 28 de abril de 2014)










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