domingo, 28 de setembro de 2014

Paulistano Nota Dez: Ivan Stringhi - Carolina Romanini


Nome: Ivan Stringhi
Profissão: cabeleireiro
Atitude transformadora: abriu um salão-escola que oferece aulas gratuitas a pessoas de regiões carentes

Após uma temporada de oito anos no Canadá, o cabeleireiro Ivan Stringhi resolveu voltar para o Brasil em 1991. Mal havia desembarcado no aeroporto de Guarulhos, deparou com uma triste cena: uma barricada na saída da Via Dutra montada em um protesto de moradores de uma favela da região. "Fiquei chateado de ver que o Brasil ainda não havia se livrado de problemas como esse", lembra. De tanto reclamar da situação durante o trajeto, acabou levando uma alfinetada do taxista: "Por que não faz alguma coisa para ajudar em vez de ficar resmungando?". A frase serviu de combustível para, meses depois, ele iniciar um trabalho voluntário. Por indicação de uma igreja, passou a ministrar aulas gratuitas de corte de cabelo a habitantes do Jardim Arpoador, na Zona Sul. Não demorou até seus ensinamentos começarem a atrair os jovens do bairro. "Percebi que o trabalho os afastava do crime e ainda ajudava a garantir uma renda extra à família", diz. Com a ajuda de amigos e empresas do setor, o cardápio de cursos passou a incluir também maquiagem, depilação e design de sobrancelhas.

Em 1996, a iniciativa ganhou um novo espaço, na Avenida Ibirapuera, debaixo da ponte no cruzamento com a Avenida dos Bandeirantes, e foi batizada de Projeto Tesourinha. Nas últimas duas décadas, ele formou mais de 40 000 profissionais da beleza. "Ivan descobre tesouros onde ninguém tem coragem de procurá-los", elogia o colega de profissão Marco Antônio de Biaggi, que já contratou alguns de seus pupilos. Um exemplo é a cabeleireira Priscila Bento, que aprendeu o ofício em 1992, foi assistente direta de Biaggi e hoje atende no 1838, badalado salão dos Jardins. A ONG é mantida com doações de empresas, que ajudam a bancar o orçamento mensal de 25 000 reais, usados principalmente para pagar o salário de quinze funcionários. Entre 2002 e 2006, no entanto, ela chegou a angariar cerca de 100 000 reais ao mês. "Ainda preciso trabalhar em um salão para me sustentar, mas meu sonho é levar o Tesourinha ao país inteiro", diz Stringhi.




(texto publicado na revista Veja São Paulo de 12 de fevereiro de 2014)



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