"Vamos lá: levantem o braço com vontade! Nada de meio bracinho encolhido! Vocês têm que mostrar energia, decisão!" Podia ser uma sessão de aeróbica, mas era uma aula sobre a arte de pedir (e obter) a palavra em público. A plateia era formada por alunas da prestigiada Harvard Business School, nos Estados Unidos. As jovens ali faziam parte do programa de equidade de gênero implantado em 2010 pela instituição com o intuito de diminuir o gap de desempenho entre estudantes homens e mulheres. O objetivo da atividade: incentivar a participação feminina nas discussões em classe, algo visto como uma dificuldade para elas. De acordo com registros históricos, calouros de ambos os sexos ingressam naquela universidade com notas e qualificação equivalentes, mas vão se distanciando - em favor dos meninos - ao longo do curso.
A ideia de criar um programa que buscasse reverter esse quadro foi de Drew Gilpin Faust, a primeira presidente mulher de Harvard, que se propôs a fazer o que chamou de gender makeover. "Trata-se de uma experimento inédito que promove, por meio de mudanças de currículo, regras e rituais sociais, uma transformação radical no comportamento do corpo docente e dos alunos em relação às mulheres. Entre as medidas, estavam algumas polêmicas e outras consideradas infantilizantes, como a tal aulinha de levantamento de braços para moças, além de preleções sobre civilidade e respeito, aconselhamento específico para as professoras e instalação de estenógrafos nas classes para medir com pressão a participação dos alunos em aula (critério que vale 50% na avaliação e, em geral, favorece os homens). E houve a coibição de comentários e piadas sexistas e a criação de uma camiseta comemorativa dos 50 anos da admissão de mulheres em Harvard - que virou motivo de orgulho feminino no campus.
A turma de 2013 colheu os primeiros benefícios do programa. Segundo o balanço, houve um aumento significativo das notas das meninas, que concluíram o curso com um número recorde de prêmios acadêmicos e distinções de excelência. Por trás do investimento nas garotas de Harvard, há uma missão ambiciosa. A direção da universidade acredita que superar barreiras autoimpostas ou criadas por um ambiente de hostilidade e competição deve ajudá-las a entrar no mercado em uma situação de maior segurança e igualdade para que possam modificar a composição da liderança das empresas, ainda majoritariamente masculina.
E o que esse programa pode significar para as jovens de todo o mundo? Em primeiro lugar, é um bom alerta e uma fonte de reflexão. Para entender o sentido desse projeto em um contexto amplo, devemos lembrar que as meninas de Harvard estão longe de ser estudantes medianas ou inseguras. São excepcionalmente educadas e passaram por dos mais disputados funis acadêmicos. Mesmo assim, em um ambiente competitivo e agressivo, no qual os rapazes se sentem mais à vontade, elas têm dificuldade de erguer o braço e participar. Tolhidas, acabam minando a autoconfiança e sendo mal avaliadas, o que compromete o desempenho escolar como um todo. Basta que se quebre o círculo vicioso para que, literalmente, as garotas cresçam e apareçam. Ao saírem da universidade fortalecidas, tornam-se profissionais aptas a enfrentar o mercado de igual para igual. Parece simples, e é. Talvez o que garotas ambiciosas e inteligentes precisam para chegar ao topo seja aprender a levantar a mão.
(texto publicado na revista Claudia nº 11 - ano 52 - novembro de 2013)
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