domingo, 28 de dezembro de 2014

Começar de novo - Maria Helena Brito Izzo, terapeuta familiar


Nem tudo é tudo para sempre nesta vida. Humanos que somos, às vezes nos sentimos forçados, contra a vontade, a dar por terminando algo que julgávamos ter prazo indefinido. O que era para ser um se divide em dois. O que era para ser eterno se torna finito. E, antes que venhamos a morrer fisicamente, algo dentro de nós morre: o amor. Aí eu pergunto: viver um casamento sem amor é viver? Nem todos têm a sorte de viver um amor para toda a vida. Esses são privilegiados. Talvez, mesmo, bem-aventurados. Assim como também devem ser aqueles com a honestidade e a coragem de admitir que não vale a pena levar adiante uma união em que o amor, muitas vezes inexplicavelmente e sem culpa de ninguém, se desgastou. Alguns, talvez mais ligados às tradições do que à pureza dos sentimentos, prefiram arrastar à frente, sofregamente, um relacionamento morto, como que arrastando pela vida um cadáver invisível. Se essa é uma opção de vida voluntária, só resta respeitar. Não estou aqui para julgar ninguém.

Fato é que não conheço ninguém que se casou com a intenção de se separar - ao menos não os bem-intencionados. Casamos porque estamos apaixonados, encontramos alguém companheiro, amigo, que nos atrai e nos faz bem. A ponto de propor dividir uma vida inteira com essa pessoa. Uma das muitas definições de amor pode ser essa disposição de dividir a vida com alguém, nos bons e nos maus momentos. O curioso, no entanto, é que às vezes vemos casais bem constituídos e com tudo para dar certo que, passado certo tempo - às vezes muito tempo, diga-se -, algo acontece. Não houve traição, a presença de uma terceira pessoa, imaturidade, leviandade, falha de caráter, decepções ou nada condenável. Mas de repente, ou talvez com o tempo e eles não perceberam, o desinteresse se infiltrou no relacionamento, a apatia ocupou o lugar do sexual e a desatenção substituiu o cuidado. E quando ambos abriram os olhos: para onde foi o amor?

Obrigação de ser feliz

Certo que falo, aqui, daqueles casamentos que terminaram de forma civilizada e amigável, mas nem por isso deixam de doer devido à frustração e a uma sensação de fracasso. Não adianta dourar a pílula: todo fim é seguido por um pesar, um sentimento de luto, mesmo que não seja acompanhado por uma decepção e um desejo de vingança. Nesses momentos, o pior a fazer é guardar a dor. Já disso isso algumas vezes e cada vez mais me convenço de sua verdade. Nos momentos de tristeza, é fundamental gastar a dor. Chore, sofra, quebre os pratos - não os caros, claro -, procure uma ajuda especializada, como uma terapeuta, para se libertar das emoções negativas. Nada disso é vergonhoso, mas válido para não se tornar uma pessoa amarga e depressiva. E chata, coisa que ninguém aguenta... Afinal, a história da sua vida não acabou. No máximo, findou um capítulo. No próximo, você continuará sendo protagonista. Pela frente, certamente, virão novas histórias escritas por uma pessoa mais experiente e vacinada contra alguns eventuais erros cometidos no passado. Quem sabe com alguém...

Ninguém recomeça uma vida do zero. Não se tiver uma família e amigos que o (a) coloquem para cima. Evite as pessoas pessimistas! Nesta vida, a gente tem obrigação de ser feliz. Ao menos tentar, desde que para tanto não desrespeite os outros. Talvez todo mundo esteja cansado de saber isso, mas sempre vale a pena lembrar: a vida é um constante recomeçar. A cada dia que nasce, Deus nos dá uma chance de reconstruir nossa existência. Se você tem certeza de que amanhã de manhã o dia nascerá - e quem não tem? por que não ter certeza também que será possível recomeçar? Vá em frente, porque quem fica parado é poste.




(texto publicado na revista Família Cristã nº 948 - ano 81 - dezembro de 2014)


Nenhum comentário:

Postar um comentário